A MAGIA - PALAVRAS DE UM PAI À SUA JOVEM FILHA (I,II,III)

A Magia.

Palavras de um Pai à sua Jovem Filha ( I,II,III)

João Milva

I. Preâmbulo

(1) O APARECIMENTO DO MESTRE

Você me pergunta, minha filha, o que é a Magia.

É tarefa um pouco indigesta abordar um assunto tão complicado e polêmico de maneira sintética e simples. As ciladas estão a cada passo. Dá trabalho separar o joio do trigo!

De outro lado, é uma maravilha ver você empenhar-se em percorrer as trilhas do conhecimento Oculto.

E é isto que está faltando no mundo!

Confesso-lhe - com o coração apertado de pai coruja: você é bem Minha Filha!

Eu, quando jovem, tinha uma curiosidade aguçada para o Misterioso e o Oculto.

Num dado momento, quando menos se espera, aparece alguém para nos orientar e guiar na difícil jornada pelo caminho do chamado Conhecimento .

Há no ocultismo um princípio que diz:

“Quando o pupilo está pronto, o mestre sempre aparece”.

Serei seu guia, não seu Mestre, por duas razões:

Primeiro: não sou um Mago, imagine! Nessa área apenas engatinho...

O Mago é uma águia. Sou apenas um passarinho.

Não vôo nas altitudes em que o Mago vôa; bato as asas desesperadamente, e subo apenas alguns metros. O Mago aproveita as correntes das altitudes.

É um condor! Seus horizontes não têm limites.

segundo: O pai não pode ser Mestre espiritual da filha, como o psicanalista não pode fazer a análise da filha – é algo espiritualmente incestuoso; são relações em que entram muitos conteúdos do inconsciente.

Mas, apesar de eu não poder ser seu Mestre – reconheço que não sou nem de mim mesmo, como poderia ser de alguém? - sei que você perceberá que sua pergunta foi feita na hora certa e tem uma razão de ser maior que a simples curiosidade.

Tudo sempre se encaixa de uma certa forma e aí já está um dos conteúdos misteriosos e mágicos da vida.

Talvez, sem que nos apercebamos, este momento em que começo a te explicar o que é a Magia traga profundas conseqüências no seu futuro e sua significação maior tenha algo de mágico.

(2) A Natureza da Jornada

A jornada é solitária e a partir de certo ponto exige um Mestre qualificado.

Há um caminho famoso na Europa chamado de Caminho de São Tiago, hoje percorrido por milhares de peregrinos de todo o mundo. Várias variantes saindo de Portugal, Espanha e França chegam à cidade de Santiago de Compostela, uma das mais significativas da Cristandade. Esses caminhos levam ao túmulo, segundo a tradição, de São Tiago, um dos doze apóstolos de Jesus e irmão de São João, o jovem discípulo que Jesus tanto amava e que veio a ser o autor de duas partes importantíssimas da Bíblia cristã: O Quarto Evangelho e o Apocalipse.

Pois bem, os peregrinos que o percorrem não o fazem apenas com os pés; eles o fazem com o coração em chamas, cheios de amor e de esperança; e digo que o coração está em chamas por que é assim ardendo que vencem as tentações que muitas vezes os põe a provas no percurso.

É como estes peregrinos que você deverá percorrer o seu caminho!

De um modo geral, quando se fala da Magia, o ambiente onde está havendo a conversa, muda. Ocorrem duas reações: ou as pessoas lhe olham com um certo interesse envergonhado, mas vão se afastando, ou consideram você uma pessoa supersticiosa ou inculta, inoportuna, e mesmo primitiva.

O que quer dizer que este é um assunto para não se falar em público. O risco é grande de se instalar a uma discussão que não chegará a nada.

E sabe porque ?

Além das atitudes preconcebidas sobre o assunto, há uma ação dos Magos, através dos tempos, que impede que se chegue a bom termo quando a Magia é exposta ao julgamento dos que não estão preparados para ter contato com ela. Como é uma ação muito forte, por que é de muitos, por mais que se tente, nunca se consegue estabelecer o clima necessário para que as coisas caminhem normalmente.

Nas sessões espíritas, por exemplo, é muito comum um bom número de pessoas sentir sono; os espíritos, segundo os que freqüentam aquelas sessões, as fazem se sentir assim por que tirando uma soneca não perturbam, uma vez que não estão em condições de participar daquela sessão no nível adequado; segundo eles, quem tumultua o equilíbrio daquela pessoa tumultuaria a sessão. Então, os espíritos protetores daquela assembléia fazem com que a dita pessoa sinta sono. Ela simplesmente é alijada daquele ambiente, sem saber e, portanto, sem se sentir rejeitada. Posteriormente cuidam dela.

Pois bem, de outra forma, os Magos também se defendem.

Como? Não permitindo que um assunto que exige um certo grau de conhecimento seja vulgarizado em público. Mas porque?

Existem várias razões, mas a principal é que a Magia pode ser uma coisa muito perigosa.

Este zelo dos Magos é tão grande, que às vezes, num local público, algum Mago está ali ao teu lado amarrando um sapato ou lendo um jornal, e se percebe que o assunto vem à baila, ele imediatamente interfere. É uma jarra que cai, um cigarro mal apagado que queima um vestido, uma mulher deslumbrante que passa, enfim, algo acontece.

O princípio que norteia o Mago, por estas razões, é: faz e cala.

Imputa-se aos Magos poderes que não têm.

Se você imagina que praticando a Magia vai sair voando por aí, como nos filmes, ou transformando coisas com a sua vara de condão, não se iluda, não há a menor chance.

Mas se você aprender a sair do seu corpo, você fará o que quiser, irá para onde quiser, seja no passado, no presente ou no futuro.

E poderá ser vista em muitos lugares diferentes!

Isto você conseguirá transportando o seu Corpo Astral, o que só é possível em estágios mais avançados de conhecimento. O seu corpo carnal, como o vemos, estaria simplesmente dormindo.

Você perguntará: então estaria sonhando?

Sim e não. Por que o sonho você não controla, mas o Mago se quiser, controla o sonho.

Mas continuando o que eu estava dizendo:

A imaginação e a crendice se unem para atribuir aos Magos ações e poderes que só se explicam pela superstição. E essa mesma ignorância impede às pessoas reconhecerem o poder que os Magos realmente têm e de cuja natureza nem desconfiam.

Por exemplo: uma coisa é a mediunidade, que é um fenômeno reconhecido, ainda que sua natureza, aparentemente, nada tenha a ver com a Magia; outra, as histórias de fantasmas e de assombrações, que geralmente são produtos da imaginação. Não é que as chamadas “assombrações” não existam; mas na maioria das vezes, são fenômenos subjetivos de quem as “está vendo”.

Não estou negando, estou separando o joio do trigo. Não é à-tôa que os espanhóis dizem:

“No creo em las brujas, pero que las ay , las ay”.

Os exageros da imaginação, as libertinagens da fantasia fazem que os Magos sejam vistos como estranhas caricaturas deles mesmos.

O Mago não é um super-homem. Apenas um homem que desenvolveu certos dons e conhecimentos. Conhece leis que o comum dos mortais desconhece. Só isso.

O preconceito contra os Magos e os Bruxos existe, realmente. Não sem alguma razão, por que não só há abusos da boa fé das pessoas, como a utilização da Magia Negra para atingir fins que visam saciar os mais baixos instintos humanos que - diga-se de passagem - são piores que o instinto animal puro e simples.

No próximo texto definiremos certos conceitos indispensáveis para que possamos continuar a caminhada. São a mochila, o bastão, as botinas e os agasalhos indispensáveis para que possamos avançar no caminho que nos levará à compreensão do que verdadeiramente é a Magia.

Importa agora, Miha Filha, fazer as distinções e definições que estabeleçam certos conceitos, para evitar confusões e mal entendidos que comprometeriam a boa compreensão do que é a MAGIA, pelo menos como entendida na ótica por mim assumida neste texto.

II. DEFINIÇÕES PRÉVIAS

(1) O Ocultismo.

Em que ramo de conhecimento se insere a Magia?

A Magia se insere no campo das chamadas “Ciências Ocultas”. As Ciências Ocultas buscam desvendar os mistérios que rondam a natureza e o homem, além das fronteiras do conhecimento religioso formal e do conhecimento científico.

Busca o que está escondido, o Oculto.

Parte, portanto, do pressuposto de sua existência.

O Ocultismo trabalha com o invisível em contraponto ao visível.

A ciência trabalha com o visível, mesmo que seja através da ajuda de instrumentos.

Como o Ocultismo trabalha com o invisível, seus instrumentos são outros. Ele busca o desenvolvimento de aptidões mentais, psíquicas e espirituais do ser humano para tornar visível o que é invisível.

Por exemplo: acreditamos que o Universo foi criado por uma entidade superior que concebemos como Deus. Se Deus está presente em todas as coisas que nos rodeiam, dizemos que Ele se manifesta nestas coisas, mas nós não o vemos “cara a cara”, como Moisés o viu no Monte Sinai.

Para nós Ele existe, mas está Oculto.

No entanto é a maior das Realidades, uma vez que nada existiria se não fosse Ele.

O Oculto é acessado pela mente devidamente treinada e preparada.

O Ocultismo estuda a natureza do Homem em sua unicidade e totalidade, através da conjugação do visível com o invisível.

Você poderia dizer: mas isto, de certa forma, a psicologia também o faz, o que é verdade. Mas o ocultismo o faz numa escala muito maior do que a psicologia, por que esta está presa a formas de aferição que limitam as suas ações através da chamada metodologia científica, mas e principalmente, por que a psicologia aborda o micro e o ocultismo encara o micro como uma via para o macro.

O objetivo do Ocultismo é transcender uma visão do que chamamos de real e que ele considera ilusória para alçar patamares mais elevados de consciência, capazes de atingir o verdadeiro real, que está muito além do que a consciência “não ativada” pode imaginar.

O Mago é quem atingiu estes patamares de consciência, que agem sobre o mundo.

O homem comum vive numa jaula.

O Mago a despedaça.

O homem comum vê o mundo numa dimensão, o Mago, noutra.

O Mago faz um “up grade” do nível de consciência. E ao fazê-lo, eleva os outros, ainda que temporariamente, ao seu nível.

2.O Esoterismo.

(1) A sua natureza

O esoterismo é o conjunto de teorias e práticas que visam desvendar o Oculto.

Trata-se de um conjunto de doutrinas que provêm de tradições milenares que se ramificaram pelas diferentes religiões e filosofias.

Todas as religiões trazem embutidas em seus ensinamentos mensagens ocultas destinadas aos que têm as chaves para desvendá-las e compreendê-las.

A grande Helena Blavatsky, de quem falaremos adiante, dizia que os textos sagrados têm dois sentidos: um, que ela chamava de exotérico, quer dizer expresso, formal, “de fora”, e outro, esotérico, quer dizer subjacente, oculto, “de dentro”; um, a forma, outro, o conteúdo.

Assim, os ensinamentos sagrados são destinados “exotericamente” ao comum dos mortais, transmitindo-lhes os preceitos que devem nortear a sua conduta face à Deus e aos homens; e, “esotericamente”, aos “eleitos”, a quem é dada a chave para uma compreensão mais profunda da natureza dos ensinamentos e dos segredos necessários para a sua conscienciosa aplicação e divulgação.

Jesus, por exemplo, recorria constantemente a parábolas, cujo sentido expresso sempre se relacionava a uma mensagem para os que o ouviam; mas que trazia, também, através da simbologia embutida em suas palavras admiráveis um ensinamento que só os discípulos tinham acesso. Ensinamentos que asseguraram aos discípulos um conhecimento especial e profundo, capacitando-os para a imensa tarefa que lhes foi posta nos ombros: a evangelização do mundo.

Mateus,13,1 a 17 (Bíblia de Jerusalém, versão portuguesa) diz:

“Aproximando-se os discípulos, perguntaram-lhe: “Porque lhes falas em parábolas?”Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado conhecer os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem, lhe será dado e lhe será dado em abundância, mas ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas: porque vêem se ver, e ouvem sem ouvir nem entender. É neles que se cumpre a profecia de Isaías, que diz:

Certamente haveis de ouvir, e jamais entendereis”.

Neste texto estranho e belo, está embutido um segredo. Se você procurar, Minha Flha, através de uma leitura atenta, e da reflexão necessária, encontrará a resposta, sem dúvida.

A partir de um determinado ponto, O Oculto impregna os evangelhos de conhecimentos esotéricos. E a partir de um determinado ponto de compreensão e crescimento interior você estará sabendo o que os apóstolos sabiam.

Para discerni-los “basta ter olhos para ver”.

Ainda em Mateus,13,34 e 34:

“Jesus falou tudo isso às multidões por parábolas. E sem parábolas nada lhes falava, para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta:

Abrirei a boca em parábolas; Proclamarei coisas ocultas desde a formação do mundo.”

Se quer conhecer as coisas ocultas, Minha Filha, comece lendo e relendo os Evangelhos. Principalmente o de S.João.

Tudo está ali. Tanto o conhecimento exotérico, como esotérico.

(2) A abrangência do Esoterismo

Os conhecimentos esotéricos abrangem o conhecimento Místico, a Gnose e a Magia.

O místico busca o encontro com a divindade.

A Gnose busca o conhecimento pela Revelação. Pode-se chegar a esta Revelação através da iniciação ao conhecimento interno. Conhecendo o microcosmo (indivíduo), chega-se ao macrocosmo(divino).

Quanto à Magia será definida adiante, uma vez que é o objeto de nossas reflexões.

(3) O papel do Mago neste mundo.

A relação artista-arte exemplifica bem o papel do Mago neste mundo. A Música, por seu nível de abstração é um bom exemplo.

Num determinado estágio, a música é bem mais ritmo que melodia.

Ela é muito tocada, e as pessoas gostam de dançá-la. Os homens primitivos já dançavam muito. Descarregavam a sua tensão através da dança.

Através da dança, ainda que de movimentos muito simples, os primitivos extravasavam, digamos assim, o preço psíquico de sua ferocidade e de seus medos.

E isto ficou em nosso genes.

O pessoal, hoje em dia, vai para a “boite” e pula a noite toda. Esquece-se das atribulações do dia a dia.

É nosso nível quase macaco que se manifesta nesta alegria. Aliás, este nível tem uma importância maior em nossas vidas do que geralmente suspeitamos. Noventa e nove por cento dos genes dos homens e dos macacos são comuns.

Esta música, cujas batidas evocam originalmente as batidas do coração humano, é epidérmica, está e fica na pele, e seu objetivo é um movimento relaxante.

O bebê também relaxa quando ouve o coração da mãe. É seu primeiro contato com o ritmo.

Bom, agora vamos falar de um outro tipo de música, a chamada música erudita. E neste universo, vou focar a música de um gênio que você bem conhece desde a infância: Beethoven (1770 – 1827).

Estou escolhendo Beethoven, não só porque é um dos maiores entre os maiores músicos que já viveram, mas por ser bem emblemático do que quero exemplificar.

Beeethoven era um homem atormentado, apaixonado, de natureza instável, se assim se pode dizer. Era uma alma revolucionária e romântica. Suas qualidades e defeitos eram extremos. Uma natureza forte e marcante, em suma.

Pois bem, este homem tinha um dom ímpar e uma imensa capacidade de trabalho. Criou obras memoráveis. Num dado momento de sua vida abateu-se sobre ele a maior provação que uma pessoa que vivia da e pela música poderia suportar: ficou surdo. Imagine você: um músico destes ficar surdo!

Todos o consideraram acabado. Os que o aplaudiam se esqueceram dele. Mas o universo que se agitava dentro dele, que o transportava para limites que poucos atingiram, precisava se manifestar e ele, surdo assim mesmo, totalmente surdo, continuou compondo, e nesta fase de sua vida, em que o interior se sobrepôs ao exterior, imerso no seu silêncio irremediável, criou a 5ª Sinfonia e depois a famosa 9ª Sinfonia, pontos culminantes da musicalidade humana, que repercutem no cosmos e clamam no fundo dos corações de todos que as ouvem.

Beethoven foi sem dúvida um Mago, que falou através da música.

O conhecimento que tinha de sua arte, era absoluto; sua forma de expressão, abstrata e intensa, ultrapassa de muito o nível da palavra; a intensidade de seu gesto criador, poucas vezes foi igualada; a concepção que levou a este gesto, totalmente subjetiva; a concentração, na hora de traduzi-lo na partitura, descomunal; a referência com o exterior, nenhuma. Estas características são necessárias para a realização do Ato Mágico. Básicamente a essência da Magia.

Beethoven não apenas se elevou a um nível de semi-deus, se acreditássemos em deuses; eleva todos aqueles que o ouvem, a este nível.

Revela um mundo novo, uma organização sonora antes nunca vista.

Revelar o oculto, transcendê-lo, concretizá-lo na realização de algo definido e predeterminado: este o é objetivo último da Magia.

III. Dados estes primeiros passos, estamos prontos para nos debruçarmos sobre a Magia, o Mago, o Feiticeiro, o Mágico e o Milagre.

(1) A MAGIA: O Conceito

A sua pergunta, Minha Filha, é direta e clara, mas a resposta pode ser complicada, se algumas confusões comuns não forem desde logo desfeitas.

Então, vou oferecer uma definição extremamente simples.

Meu intuito é simplificar – na simplicidade, a clareza.

Minha proposta não é discutir teorias ou o sexo dos anjos, como se dizia nos tempos idos, quando eu era tão jovem como você.

Quero lhe passar uma idéia básica e algumas informações que a complementem.

A Magia é a arte ou ciência oculta que procura produzir, por meio de certos atos e palavras, efeitos e fenômenos extraordinários, impossíveis de serem realizados pelo homem comum.

Esta definição, ainda que de caráter parcial, emoldura, para uma primeira aproximação, esta arte admirável, do ponto de vista de quem a observa diretamente ou o que significa, por quem a pratica.

O Mago é, portanto, um “homem que sabe das coisas”, detém saberes que lhe permitem obter resultados que de outro modo não seriam obtidos se não dispusesse do conhecimento da Magia.

Muitos afirmam que a Magia é uma ciência. Alegam que seguidos os rituais certos e observadas outras condições subjetivas que se exige para o Ato Mágico, os efeitos são sempre os mesmos, sendo, portanto, previsíveis, o que é uma das características da Ciência.

Têm razão sob este aspecto.

Mas como o fator subjetivo tem um peso enorme, e varia de pessoa a pessoa, não creio que se possa transmitir estes conhecimentos de uma forma tal que se assegure de antemão o resultado do Ato Mágico praticado por qualquer pessoa..

Diria que a Magia tem aspectos de arte e de ciência.

Mais de arte do que ciência.

O pintor que pinta um quadro aprendeu técnicas que, bem aplicadas, atingem sempre um mesmo resultado visual. Mas o que faz dele um verdadeiro pintor não são as técnicas, necessárias, é claro, mas o talento, ou seja, uma forma personalíssima de se expressar. Ninguém discute que a pintura é uma arte.

A meu ver, o mesmo ocorre com a Magia.

(2) O Mago, o Feiticeiro e o Mágico. O Milagre.

O Mago conjura forças e energias para um determinado fim que de outro modo seria inalcançável.

O Feiticeiro também o faz.

Só que o Mago opera de acordo com a lei básica da natureza –o amor universal - e o Feiticeiro trabalha com o seu oposto - o ódio universal.

O Mago dispõe do Conhecimento.

O Feiticeiro abusa da Ignorância.

O Mago vence o Demônio.

O Feiticeiro se coloca à sua mercê.

O Mago evolui.

O Feiticeiro retrocede.

O Mago une.

O Feiticeiro desune.

O Mago trabalha para a superação do ego, o feiticeiro trabalha para a satisfação do ego.

O Feiticeiro é, portanto, um Mago com o sinal trocado. É um Mago do Mal. Um Mago às avessas. É o praticante da chamada Magia Negra.

Já o Mágico é um ilusionista, senhor de truques admiráveis, manipulador de ilusões, que nos divertem pelos aspectos insólitos de sua arte. Mas não vai mais longe. Não tem um objetivo maior que o simples ilusionismo.

Muitos que se intitulam magos se servem do ilusionismo dos mágicos, não só para impressionar e adquirir poder, mas para disfarçar sua fraqueza enquanto magos.

Tentam, e muitas vezes conseguem, fazer passar gato por lebre.

Resta salientar que o Mago trabalha com leis naturais, ainda que muitas vezes desconhecidas - o que dá a impressão que as contraria – mas o que ele detém é apenas um conhecimento secreto ativado num estado especial e elevado de consciência.

(3) O Milagre.

Vale uma palavra sobre o Milagre, que é muito diverso da Magia.

O Mago convoca forças e energias positivas, o feiticeiro convoca energias negativas, o Mágico é um ilusionista, e o Crente é um invocador da vontade divina.

Quem faz o milagre é Deus.

Por esta razão nenhum milagre é possível sem uma invocação de seu Santo Nome.

Quando você pede um milagre a um santo, ele intercede junto à vontade divina. Ele tem uma qualificação espiritual para isso.

Quando você solicita um milagre à Nossa Senhora, Ela interfere junto ao Filho. Ela é também qualificada para isso.

E quando você pede um milagre diretamente a Deus com uma fé inquebrantável, você também se qualifica, por força da Fé, segundo afirmou Jesus.

Mas o milagre, quem faz é Deus.

Se admitirmos que qualquer outro mortal seja capaz de fazer um milagre, teremos que admitir que outro imortal - que é maior do que qualquer mortal - também possa fazê-lo: não consta que Lúcifer tenha operado algum milagre.

Ele apenas hipnotiza, Ele engana.

Jesus, Filho de José, era um mago, certamente, mas Jesus, O Cristo, é o Filho de Deus feito Homem.

Foi o Cristo, em Jesus, que ressuscitou Lázaro, não o Mago.

Mas foi o Mago que transformou água em vinho.

O mesmo ocorreu com Moisés: quem separou as águas do Mar Vermelho para que os judeus escapassem da perseguição implacável do faraó, foi Deus.

Moisés orou para que isto acontecesse.

Mas quem transformou um cajado numa cobra que devorou as cobras dos magos egípcios que se exibiam cheios de orgulho perante o faraó, foi Moisés, o Mago.

Mas ambos, Moisés e Jesus invocaram a Deus para que os milagres fossem realizados.

No velho Testamento há uma passagem, no Livro dos Reis, em que um santo homem, de nome Geazi, ressuscita o filho da sunamita (Reis 4;17 a 35).

Pois bem, antes de operar o milagre, Geazi orou.

São João conta como Jesus ressuscitou Lázaro (São João 11; 41,42) :

“Tiraram, pois, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu , disse:

Pai, graças te dou, por me haveres ouvido.

Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.”

Então, Jesus também pediu, e o fez diante de todos, para que cressem Nele.

Ele não disse que pediu só para constar. Ele sempre pedia e sempre era ouvido. Ele só explicou por que o fez em voz alta. Mas se não tivesse pedido – mesmo Ele – não teria ressuscitado Lázaro.

Uma das grandes ilusões que permeiam a mente de alguns é que se faça milagres através da Magia.

O milagre só será concedido em condições muito especiais através da oração feita com absoluta Fé e depende dos misteriosos caminhos da vontade divina.

Consta, segundo a tradição oculta, que alguns Magos fizeram milagres. Ninguém faz milagres e qualquer um pode ser atendido, se tiver Fé. Porquê os Magos seriam excluídos? Neste caso ele é como qualquer outro, seu maior conhecimento não influi em nada.

A realização do Milagre depende da Vontade de Deus. É algo de misterioso, está ligado aos seus desígnios, que como você sabe, são insondáveis.

Se pedir com Fé, “Não lhe será negado”, dizia Jesus.

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 27/06/2009
Reeditado em 27/06/2009
Código do texto: T1670461
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.