A MAGIA-PALAVRAS DE UM PAI À SUA JOVEM FILHA (XIV)

A MAGIA : PALAVRAS DE UM PAI À SUA JOVEM FILHA (XIV)

JOÃO MILVA

Outra situação, Minha Filha, que envolve algo que poderíamos considerar como Mágico, é o contato com os espíritos, na medida em que se estabelece uma ponte com o que até então estava Oculto.

É claro que esta identificação é algo muito discutível: a chamada mediunidade é um atributo comprovado do espírito humano, mas a definição de sua natureza envolve várias questões e depende muito da ótica sob a qual no colocamos. Em certo grau todos possuímos uma certa mediunidade, mas algumas pessoas , como em tudo, são especialmente dotadas.

Se há uma aspiração tão antiga como o homem é, sem dúvida, a da sobrevivência depois da morte. A morte é a mais pavorosa ameaça que existe no inconsciente humano, é fonte permanente de seus medos e pavores – e de tal modo é ameaçadora, que as pessoas relutam muito em pensar nela.

Mas desde os tempos os mais remotos o homem, inconformado com seu fim, procura, por todos os meios possíveis, se convencer que há algo nele que perdura e, se há uma prova desta sobrevivência, ela estará na manifestação dos espíritos dos que já se foram.

O culto dos espíritos ancestrais, elevados a uma categoria de quase deuses, também tem origem nesta necessidade. Neste caso o culto dos ancestrais visava à proteção dos que cultuavam e à pacificação e desenvolvimento dos cultuados. Creio que também poderiam , como se fossem Santos ou Anjos, intermediar os pedidos dos suplicantes junto aos deuses.

Todas as religiões acreditam e pregam a sobrevivência da alma.

Sob a influência do racionalismo dos séc XVIII e XIX, o francês Allan Kardec (Hyppolyte Léon Denizart Rivail -1804-1869), elaborou, segundo ele guiado pelos espíritos, uma bem fundamentada e lógica doutrina de evolução espiritual baseada na re-encarnação, idéia muita antiga nos espírito do homem e pregada num texto famoso, a Bavagadah Gita indiana, sendo memorável e de extrema profundidade e beleza o diálogo travado entre o deus Krishna e o jovem herói e guerreiro, Arjuna.

Pessoalmente considero este texto tão importante quanto os Evangelhos . Recomendo a todos a leitura destes textos admiráveis. Neste diálogo, Krishna afirma que o corpo é apenas um invólucro do espírito que pré-existe e sobrevive ao corpo humano.

O espiritismo foi moda na Europa e nos Estados Unidos por um bom tempo. Depois decaiu. É incompatível com sociedades excessivamente céticas e materialistas.

Mas no Brasil persiste com grande força.

Dois aspectos valem a pena salientar, sob a ótica em que nos colocamos.

Primeiro: A obra de Kardec se situa em alto nível de compreensão e espiritualidade, e apesar de sua pretensão de colocar a sua tese como uma questão de natureza científica – o que é discutível, não há dúvida que a prática do bem resulta como questão essencial para a doutrina que defende, sendo neste sentido, a manifestação de um Mestre, pela altura de seu pensamento e sentimentos que o movem.

Merece, sem dúvida, ser colocado na galeria dos grandes mestres espirituais, apesar de sua doutrina ser a apresentação em vestes novas de teses muito antigas. Valeria perguntar, no entanto: qual não é?

Há entre os esotéricos um certo desdém pelo espiritismo.

As igrejas cristãs também lhe são hostis, apesar de Jesus ser considerado pelos espíritas o maior de todos os mestres espirituais. O Judaísmo e o Islamismo também o olham de soslaio.

Na verdade, o mal estar talvez venha do fato que o espiritismo atribui aos mortos um papel que a maioria das outras correntes ou não reconhecem ou deixam de lado. De acordo com o espiritismo alguns espíritos ainda ligados ao nosso mundo interferem em nossas vidas. E estas interferências podem gerar obsessões e outros males. Um dos papéis do medium é, incorporado por um de seus “aliados” , encaminhar estes espíritos para a Luz. Exercem outras funções, também, como curar males aparentemente inexplicáveis e mesmo certas doenças, recorrendo a operações espirituais e mesmo físicas, como era o caso de Zé Arigó, sobre quem falaremos mais adiante.

Em termos absolutamente objetivos, o fenômeno mediúnico é algo como um Ato Mágico, em que o Mago, num estado especial de consciência, entra em contato com energias humanas impregnadas no Plano Astral.

Segundo: sabemos que para prática da Magia não é necessária nenhuma crença religiosa. Crentes a praticam, em todas as religiões, mas o ateu pode praticá-la com a mesma eficácia de um religioso. A grandeza espiritual, como também a sua baixeza, não se mede pela crença em uma religião, mas na intensidade da vontade, devidamente treinada. No caso do Médium, não se trata da vontade, mas da sensibilidade.

Então afirmaria que o Médium é um tipo especial de Mago.

Ele, através de uma sensibilidade especial, tem, como o Mago, acesso ao Oculto.

Acrescento mais duas observações às que já fiz.

Primeira: os fatos relatados nas sessões espíritas são verídicos, constatados e isto hoje ninguém mais discute.

Segunda: se acreditamos na imortalidade da alma, não deixa de ser lógico acreditar que os espíritos possam se manifestar. Porque não? O que teria isto de excepcional, já que sobrevivem?

Mas se não acreditamos na imortalidade da alma, então os fenômenos verificados são de outra natureza; não seriam espirituais, mas de cunho parapsicológico. Neste caso, os chamados médiuns, que têm uma sensibilidade que se conecta com os espíritos que através deles se manifestam, seriam sensitivos e paranormais.

Ressalte-se ainda que os médiuns estão num estado especial de consciência quando “recebem” os espíritos. Suas personalidades como que se “apagam” para dar lugar ao espírito que se manifesta. Ocorrem, nestas situações, fatos impressionantes.

E muito estudados. O caso mais emblemático, Minha Filha, no sentido de paranormalidade, talvez tenha sido, entre nós, o do o médium José Pedro de Freitas, o famoso Zé Arigó (1922- 1971) que, incorporando o espírito de um médico alemão falecido na Iª Guerra Mundial, o Dr. Fritz, fez milhares de curas e principalmente cirurgias notáveis, todas comprovadas. Seu caso foi minuciosamente estudado no Brasil e no exterior.

Operava com um simples canivete e às vezes uma navalha, em cirurgias de maior porte. Não desinfetava, não suturava. A cicatrização ocorria com muita rapidez.

Sob outro ângulo, ainda não considerando a imortalidade da alma, poderíamos considerar a mediunidade como a capacidade de se comunicar com os conteúdos do inconsciente. Nesta hipótese, o “espírito” nada mais seria do que um conteúdo do próprio médim, que “incorporaria” uma parte desconhecida dele mesmo, carregada de energias e aptidões ocultas, principalmente a telepatia, e sensibilidade próprias. Sendo um conteúdo do inconsciente, estaria carregado de sentimentos, desejos, frustrações epotencialidades não conscientizadas pelo ego, e que se expressariam , através da “manifestação”, intermediada pelo ego do médium e dos outros que atuam à sua volta.

Todos que conhecem o espiritismo sabem que os médiuns são preparados espiritualmente para a sua função. Passam, portanto, por um processo de iniciação. Diferenciam-se do Mago, porque este gasta enormes energias para atingir objetivos que projeta fora dele, enquanto o Médium funciona como uma antena para trazer o espírito para dentro dele. Alguns não precisam de nenhum esforço para “incorporar”. Sua mediunidade é de tal ordem que espontaneamente se “retiram”, agindo quase como autômatos, sob o comando dos espíritos, como nos casos de cirurgias, por exemplo.São, neste sentido, passivos, enquanto os Magos são ativos.

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 06/07/2009
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