XIV - Uma batalha conceitual e didática

Miguel continuava, sem consentimento da diretora e dos demais professores, a ministrar atividades físicas prazerosas com finalidades didáticas e sociais.

Todos os alunos ficavam estasiados e aguardavam ansiosamente pelo recreio a fim de poderem praticar algo que lhes transmitia imenso prazer, agrado e divertimento, mas acima de tudo o desenvolvimento lúdico dos saberes.

Mais uma vez, pressionada pelos professores, a diretora incitou Miguel, o então: “professor de História Geral apenas”, como iniciou a conversa, que seus modos não estavam convenientes ao bom andamento do colégio.

Disse que Miguel não tinha o hábito de reprovar alunos, que todos os seus pupilos tinham notas significativas nas provas e o chamou de conivente.

Mas o professor Miguel não era conivente.

Argumentava que se encontrava naquele cargo não para julgar ninguém e que suas notas eram subjetivas a ponto de entender o que os alunos queriam dizer em determinada questão ou situação factual proposta.

Considerava todo tipo de resposta com fundamento e não via por que era obrigado a reprovar uma quantidade xis de alunos, para o bom andamento do colégio, dizia argumentativo e enfático em sua explanação defensiva.

Todavia, o que ninguém se apercebia era que, após a introdução de atividades recreativas entre as crianças que recebiam ensino naquele estabelecimento escolar, os mesmos começaram a obter maior concentração nas aulas, a melhorar significativamente suas notas, a serem mais sociáveis e a melhorarem, entre outras coisas, a caligrafia e o discernimento.

Mas tudo isso não era perceptível aos olhos inflexíveis da diretora e dos demais mestres que ostentavam a autoridade de professores.

Ameaçado pela superintendente regional responsável pela escola de ser suspenso do cargo, o professor Miguel das Neves Alves foi incondicionalmente proibido de exercer tal função relacionada ao cinetismo e a motricidade infantil perante os pequenos e afoitos alunos do colégio Capitão Mário Cunha.

O professor de História Geral, então, se viu só na sua empreitada para melhora do ensino básico e fundamental da Cidade dos Miguéis.

Ainda assim, nunca desanimou da idéia da aplicação de atividade física, e grandiosamente, após várias petições junto aos superiores do Estado, teve deferida a idéia para desenvolvimento dos métodos para melhoria das valências físicas nas crianças brasileiras.

O próprio Secretário de Educação do Estado mandou uma carta de agradecimento pela: “idéia eficaz para melhoria do aprendizado”, ressaltava em sua missiva que: “na França e em Cuba são aplicados esses métodos e esses países se destacam significativamente no cenário mundial, sejam nos esportes, sejam no conhecimento científico e cultural”.

Toda a rede de ensino público do Estado teve que se ajustar à nova grade curricular que, acrescentava agora, atividade física obrigatória para crianças a partir dos seis anos de idade.

Concursos públicos foram então realizados para a contratação efetiva de Educadores Físicos em toda a rede de ensino que a jurisdição do Estado abrangia.

Miguel das Neves Alves sentindo-se realizado e participativo na comunidade e agora no Estado inteiro, acordava sorridente e estupefato para mais um dia letivo no tão dinâmico e pioneiro colégio Capitão Mário Cunha.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 10/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1691976
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