VIII - Se apegou ainda mais ao onanismo

Após quatro anos estava formado. Licenciado em História e, agora na iminência de se inserir num mercado de trabalho cheio de novidades e situações, nosso noviço professor.

Era inverossímil demais para um jovem paupérrimo na infância, desacreditado por todos na escola e, agora detentor de diploma com relevância universitária.

Foi nesse período, pós-formatura, que recebeu uma correspondência de um amigo de faculdade que noticiava a morte prematura de Tâmara.

Um câncer de útero avassalador sucumbiu a vida daquela jovem, efêmera professora, que nem chegou a lecionar em alguma escola de sua comunidade.

Miguel, com a carta ainda em mãos, começou a pensar no sentido da vida, porque somos tão frágeis, como nos deterioramos tão facilmente e, sentiu então, uma vontade imensa de viver, como se a longevidade aflorasse, erupcionasse de seu ser, e se sentiu longânime em sua missão: ser um professor que didaticamente saiba ensinar e educar pessoas, seres que, em formação constante, necessitem da essência do saber para construir uma vida próspera, saudável e sólida na sociedade em que atuarão.

Quis aplicar seus conhecimentos em sua própria comunidade, pois achava que tinha muito a contribuir com aquela população carente de conhecimento e educação e saber.

Durante um ano foi professor eventual, só lecionando quando o professor de história titular faltava ou saía em férias.

Como entrava numa engrenagem que já girava por si, não conseguia dar cara nova às aulas que ministrava, apenas dava continuidade ao plano de ensino elaborado pelo professor efetivo licenciado e naquele momento, ausente.

Sentia revolta. Pensava consigo:

“Não estou aqui para isso. Tenho personalidade própria e lutarei para dar definição as minhas aulas”.

No final daquele ano, a velha professora de História, Aparecida Alves Silva, lecionando a mais de trinta anos, sucumbiu ao diabetes.

Não se precavia. Diziam alguns que era chocólatra e sempre que almoçava não dispensava a sobremesa.

O então novato professor Miguel das Neves Alves fora chamado às pressas para substituí-la e se tornar o mais jovem professor de História daquela Cidade dos Miguéis.

Douglas Hernesto Sanoj gozava de influência junto à diretora do colégio Capitão Mário Cunha.

Uma senhora chamada Hilda Adolpha Hustler, pedagoga, solitária e com estilo de liderança militar. Possuía ascendência alemã.

Solicitou, então, à diretora que admitisse Miguel definitivamente para o cargo de professor de História, pois: “o rapaz é apto e capaz de desenvolver bem suas atividades didáticas”, dizia o professor Douglas.

Por sorte, também não havia outro professor da matéria em questão que reivindicasse o cargo nem tampouco concurso público para preenchimento efetivo da vaga.

O caminho estava aberto para Miguel das Neves Alves.

Encontrou uma classe que não se ressentia pela morte da antiga professora.

Diziam que era muito nervosa, exclamava a chamada de frequência aos berros, divagava tanto que às vezes se perdia na retórica e não sabia retornar ao contexto inicial. Capitalista estereotipada determinava enfaticamente que:

“A influência norte americana na América Latina era benéfica e gerava, não dependência política, mas contato com seres supremos, de uma origem melhor do que a nossa, pois não se consolidou sob tanta miscigenação como nós e, de alguma forma isso não permitia dar uma identidade ao povo brasileiro, ao contrário da nação norte-americana sólida e extremamente patriota; haveria de ser uma colonização cheia de romantismo, imposta não pela força, mas pelo encantamento, pelo nosso próprio desejo”.

Nossa sede de prazer encontraria a fonte de águas límpidas na indústria do entretenimento, alimentos, vestuário e tudo mais que poderiam produzir e nos mostrar aos olhos do consumismo e que em breve todos seríamos uma extensão do território yanque.

Começava um novo ciclo na vida de Miguel das Neves Alves.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 14/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1698761
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