I - Vermelhos como chama

Havia, num passado não longínquo, uma cidadela pobre, cravada no canto norte de uma plaga territorial, rodeada de vegetação nativa e que se situava as margens de um grande rio, justamente onde as águas faziam curva e delimitavam geograficamente dois estados brasileiros.

Uma pequena cidadela sem experiência política, de cultura limitada, basicamente agrária; em sua fase embrionária contava-se pouco mais de trinta casas e três ou quatro ruelas e que, devido a esses pequenos detalhes evolutivos, sofreu e se alegrou, errou e acertou em sua parca evolução.

Detentora de um calor incomensurável, essa minguada vila em formação causava náuseas a qualquer ser que por ali se instalava; mesmo que temporariamente era difícil executar tarefas braçais diante de um calor tão intenso.

Quer fosse de dia ou à noite a sensação térmica era sempre alta.

A população, assim que chegava do trabalho rural ou qualquer outro que fosse, banhava-se e ficava nas calçadas embaixo das árvores, tomando água e conversando entre famílias, até a hora de se recolherem para mais uma noite de sono e sonhos.

O ar era extremamente pesado, úmido, tinha-se a sensação de que o cérebro sempre estava a derreter.

Havia também muitos insetos que por ali se proliferavam com incrível facilidade, pois havia enorme quantidade de água doce e clima notoriamente equatorial, de modo que facilitava sobremaneira a proliferação de mosquitos e pernilongos transmissores de várias patologias epidêmicas.

Apesar do clima quente e da grande umidade, pouco chovia.

Formavam-se constantemente nuvens carregadas no céu, percebia-se ao longe raios, ouvia-se periodicamente trovões, ventava descomunalmente, porém nem uma gota precipitava do céu.

Diziam os antigos que poderia ser praga de algum agricultor que em alguma época teria perdido toda uma plantação e colheita por excesso de chuva.

A partir daí, uma sequidão se instalara naquela região, tornando o clima quente, úmido e árido ao mesmo tempo.

Outros diziam que havia por ali elefantes enterrados o que causava essa peculiaridade antipluviométrica.

Todavia, nunca foi encontrado nenhum resquício de elefantes naquela região.

Pensavam ser algum circo que por ali passava atravessando estados e tivesse enfrentado um óbito em suas atrações, justamente um elefante indiano ou africano não se sabe ao certo.

Enterraram-no por ali mesmo, já que o tamanho e peso do animal atrapalhava consideravelmente o deslocamento da caravana circense e, decorrente a tudo isso gerava-se tamanha falta de chuva naquela cidadela, em meio a um grande vale, às margens de um grande e largo rio.

Lendas à parte, o embrião da cidadela manifestou-se, quase cresceu e se manteve vivo por longo período.

Em épocas de colheita de grãos, quase uma casa por dia era erguida e novas ruelas se faziam necessárias ao bom transito de lavradores e seus familiares, e também devido ao eficaz escoamento das safras, fez-se necessário a construção de uma rodovia no sentido sul e outra no sentido norte.

Ali no meio do nada, no canto do estado da União Brasileira, é que se passa essa veracidade literária contada de forma sucinta, porém sob certo aspecto minuciosa.

Em primeiro lugar gostaria de ressaltar que o grande rio não foi gerado pela atuação da natureza durante milhares de anos, mas pela atuação humana no local.

Uma usina hidrelétrica foi a causadora da grande catástrofe que assolou os animais nativos da região e inundou enormes quantidades de terras férteis que até então serviam para agricultura de subsistência do antigo povoado.

Imagine-se sendo um macaco originário dos matagais atlânticos que restavam retalhadamente, porém ainda de forma volumosa, e a cada dia essa mata ou esses retalhos de matas, além de diminuir significativamente para dar lugar a plantações de grãos e cana de açúcar, começasse a ser alagada por um contingente enorme de água doce devido ao represamento do estreito e longo rio.

Só restava então o suicídio coletivo de todos os mamíferos primatas arborícolas, caiporas por serem nativos daquela região e viverem justamente embrenhados naquelas matas fadadas ao extermínio; pulavam na imensidão aquática que tinham abaixo de si, obviamente para facilitar a morte inevitável instintivamente a medida que o rio crescia e se avolumava.

Praticamente estão fora de catálogo, se é assim que posso dizer, quase todas as espécies de macacos que por ali outrora habitavam.

Eventualmente pode-se perceber a presença de alguns micos espalhados pelos pequenos focos de matas que, sem sabermos como, insistem em sobreviver.

Um pequeno riacho cortava sinuosamente o relevo plano, servia de delimitação geográfica e possuía algumas espécies de peixes pequenos.

E exatamente esse riacho, barrado em seu curso natural, inchou sobremaneira e transformou-se num grande e enorme rio, imponente e majestoso e com alta relevância geográfica e econômica.

E o que dizer então dos peixes submergidos pela barragem construída para retenção da água do tal riacho?

Havia muita água, mas não havia percurso para voltarem as nascentes para a desova. A tal hidrelétrica estava no caminho. Sucumbiram também!

A partir daí surgiram alguns estudos, feitos por biólogos contratados pela geradora elétrica, e espécies de peixes amazônicos predadores foram a solução para o povoamento do grande rio, pois fazem a desova nos barrancos as margens dos rios amazônicos.

Bom para eles, os alevinos invasores: tambaquis, pacus, tucunarés, pois os peixinhos que ainda restavam foram devorados maciçamente pelos predadores da Amazônia à medida que se desenvolviam em seu novo habitat e ainda se encontram por lá, por que não possuem os seus predadores naturais.

Apenas pescadores, suas varas, seus barcos e suas redes atuam no rio, e deste modo, desenvolveram uma espécie de cadeia alimentar artificial.

E assim, começa nossa história. A cidadela foi crescendo.

O êxodo rural proporcionou um acúmulo humano desorganizado e sem infra-estrutura.

O comércio local quase prosperou; ninguém mais plantava nos quintais para subsistência da família, todos iam ao supermercado, digo, quase todos, só os que tinham trabalho e os que portavam dinheiro eram os privilegiados cidadãos que freqüentavam o centro de compras; havia também uma forma primitiva de escambo, e lá era que altos negócios se firmavam. Quem tinha grãos e precisava de verduras, pasta de dente ou roupas ia até esse local específico para tentar voltar com algo que lhe fosse necessário naquele primeiro momento. Quem tinha carnes, quem tinha roupas, quem tinha goiabas apenas, iam ao centro de compras e escambo para efetuarem boas trocas.

Foi em meio a esse povoado simples, no vale do grande rio que surgiu, apareceu para viver nesse cansado planeta a coisa mais sofrível e dinâmica que alguém teve o privilégio ou desprazer de conhecer.

E, essa mesma criatura, não por acaso do destino, mas por convicção própria se tornou uma das personalidades mais célebres daquela região. Amado e repugnado sincronicamente pelos seus contemporâneos.

A mãe havia fugido de casa aos doze anos de um povoado mais antigo e agora vizinho da cidadela, e se encontrava perdida vagando sozinha pela região, trabalhando em diversas casas de fazenda para própria subsistência, já que ganhava apenas um prato de comida no começo da tarde e outro no começo da noite. E estava bom demais.

Era o hábito dos senhores do local para pagarem trabalhos que eles consideravam sem expressão e que qualquer mísero humano ou coisa parecida pudesse executar.

Quando essa mulher, chamada Maria das Neves, aos dezesseis anos conheceu um vagabundo beberrão que vagava pelas redondezas e vivia de pequenos furtos, foi uma paixão fulminante e avassaladora.

O errante se chamava Francelino Alves e também não se deteve a essa paixão. Foi como se a flecha do amor atingisse os dois simultaneamente e provocasse não a morte, mas o renascimento dessas almas erradias. Meses depois, mais precisamente um ano depois, Maria das Neves paria algo. Nasceu uma coisinha insignificante que no primeiro momento não chorou, não emitiu nenhum tipo de som, mas abriu muito bem os olhos e visualizava tudo como se quisesse conhecer rapidamente o ambiente em que se situava. Não tinha cabelos e pesava quase um quilo e meio.

Como não havia parteiras na cidadela ainda em formação convinha para as grávidas irem até um povoado vizinho, cerca de trinta quilômetros dali. Quase todas as crianças nascidas naquela época foram paridas nesse povoado, sendo que aquelas mulheres prenhas que iam em última hora, ou tinham o filho pelo caminho ou abortavam sobre o lombo do cavalo ou em cima da carroça, de modo que pelo trajeto visualiza-se até hoje dezenas de cruzes simbolizando a morte dos fetos sem sorte, naqueles pontos demarcados da viagem onde vieram a ser abortados.

Maria da Neves era uma boa mulher, esperta para o trabalho, sem preguiça. Também não era burra. Sabia como agradar seus patrões, mas na maioria das vezes era expulsa de alguma casa grande por não acatar decisões que a prejudicasse. Sabia opinar.

Decerto tinha um conhecimento empírico próprio de pessoas que caem cedo na vida, e assim, sem família e lar passam a conviver com situações que exigem respostas e atitudes rápidas e com um mínimo de erro.

Também não era feia. Tinha pele rosada, olhos negros e cabelos grossos quase negros.

Era alta, magra, mas com um pouco de barriga decorrente de alguns vermes que ali se alojavam.

O errante Francelino Alves, de origem portuguesa, era um ser solitário, ímpar, dipsomaníaco em essência.

Não visualizava seu futuro, não sonhava. Apenas furtava para beber.

Tinha também o enfadonho hábito de punguear os transeuntes distraídos que encontrava por onde passava. Comia vez em quando; o que encontrava pelo caminho lhe satisfazia plenamente.

Nunca havia conhecido verdadeiramente uma mulher, mas era belo.

Possuía traços marcantes e um olhar que penetrava profundamente no âmago das pessoas. Talvez por isso sempre teve o que quis, mesmo que seus desejos materiais fossem mínimos.

Quando se encontraram pela primeira vez, Maria das Neves estava indo em direção ao centro comercial da pequena Cidade dos Miguéis, isto mesmo, o nome da cidadela é este.

Um padre com ascendência espanhola, que tinha um anão como secretário com a finalidade de ficar anotando tudo o que ele dizia ou argumentava, chamado Abelardo Mota, chegando à pequena vila a batizou com esse nome que, para espanto, foi logo aceito pelo alcaide local e assim está até hoje.

Interrogado por outro padre que o visitara para a inauguração da igreja e um chá e troca de alguns livros de filosofia, disse-lhe que essa denominação foi concebida porque sempre quis ter um filho de nome Miguel, mas a ética de sua profissão o impossibilitava para tal realização do desejo reprimido.

E agora tinha recebido uma grande família, seus filhos Miguéis.

Cuidaria daquela família em formação com tal zelo e responsabilidade para que nunca conhecessem os pecados mundanos, nem descobrissem as concupiscências carnais e outras doutrinas religiosas nem pagãs.

É claro que esses devaneios do padre Abelardo, na prática não foram eficazes, todavia sabe-se que teve papel fundamental na educação e na política local.

Na educação não como professor exigente, conteudista, mas como bom conselheiro e pregador ferrenho da ética e da moral numa sociedade por mínima que fosse, e, na política não como atuante partidário, mas como o conselheiro-mor, a pilastra religiosa da família Ferreira e Castro detentora do poder local por décadas.

Sugeriram, a posteriori, que se acrescentasse o sufixo polis ao nome Miguel, por ser um termo grego que designa cidades, mas pesquisando, havia uma cidade no outro lado do estado com um nome assim. Por a lei não permitir duas cidades com o mesmo nome dentro do mesmo estado o assunto então, se deu por encerrado.

O alcaide Waldemar Luis de Freitas era um sujeito excêntrico e ao mesmo tempo totalmente influenciável. Parecia que mesmo no alto de seus quarenta e oito anos ainda possuía uma personalidade em formação.

Fazia-se excêntrico porque gostava de colecionar objetos e, por vezes usava expressões em latim e francês. Não que soubesse os dois idiomas, mas porque as decorava para quando necessário, impressionar.

No início daquela cidadela ninguém sabia francês, muito menos latim, a não ser o padre. Em seus pertences podiam-se observar armas do inicio do século, selos nacionais e de alguns países da América Latina, mas, sua grande paixão era colecionar máquinas de escrever.

Em suas andanças pelo país contabilizou umas cinqüenta peças.

Algumas raras, compradas de um tabelião do sul do estado.

Detentor de uma pseudo-imparcialidade suíça, sempre que alguém o aguçava com política, dizia ser do partido da situação, ou “estar analisando”.

Ficava em cima do muro na ciranda política, já que no estado os dois partidos antagônicos se revezavam no poder, um após o outro durante anos a fio, e de certa forma isso lhe acarretava benefícios, ou no mínimo, trabalho sem importunos patronais.

Não tinha seu nome filiado a nenhum dos partidos e isso lhe gerava um aspecto de neutralidade idônea.

Influenciável pelo padre, que após presenteá-lo com uma caixa de madeira recheada de doze garrafas de vinho tinto português e dizer que gostaria muito que a pequena cidade em formação tivesse o nome de um devaneio seu, um nome peculiar que lhe traria enorme felicidade e realização, aceitou sem retrucar ou emitir alguma opinião coerente.

Redigiram, leram e assinaram a certidão de nascimento da cidadela. Naquela ocasião o padre se regozijara.

Influenciável pela família de sua esposa que lhe ditava regras de etiqueta, moda e tudo mais o que lhes convinha, já que era proveniente de família rural e por vezes não sabia se portar diante de alguma situação que exigia refinamento.

Tinha mal gosto para comprar roupas e sapatos. Usava o que sua esposa lhe trazia do centro de compras das cidades nas quais residiu.

Foi nomeado alcaide local, uma espécie de prefeito-delegado na Cidade dos Miguéis, porque em suas horas de folga gostava muito de pescaria e indicado por um amigo que tinha terras naquela região começou a visitar aquele trecho do rio freqüentemente.

Pescava tucunarés e tambaquis com sua esposa nos finais de semana e, depois de consultá-la mais de uma vez sobre o assunto, resolveu pedir, junto aos responsáveis por aquele setor, mais rural do que urbano, sua permanência definitiva com o intuito de por ordem e cuidar da política local e, como não houve solicitação de outros pedidos para tal cargo, o seu foi aceito prontamente, pois naquela região se fazia extremamente necessário alguém para conduzir a sociedade que se formava, ao lado do velho padre que não possuía poderes para aplicar a lei dos homens.

O religioso Abelardo Mota estava exausto de citar os dez mandamentos para todas as infrações e percebia que a tábua de Moisés não surtia o efeito desejado no combate à criminalidade.

Sua esposa sonhava com um lugar daquele jeito: pacífico, sem violência urbana, ambientalmente tácito, para que pudessem ter filhos e que os mesmos fossem criados livremente em contato pleno com a natureza.

Mal sabia ela que quase todas as matas nativas estavam sendo derrubadas e queimadas cotidianamente para o cultivo de milho e cana-de-açúcar, e a violência, mesmo limitada a pequenos furtos e roubos, aumentava gradativamente.

Waldemar Luis de Freitas teve muitos problemas para manter a ordem na cidadela que se formava. Tinha apenas um auxiliar para patrulhamento e ambos não tinham condução pública.

Usava seu próprio cavalo enquanto que o auxiliar caminhava vagarosamente pela cidadela e sempre chegava muito atrasado a qualquer infração que ocorria.

Muitas vezes, os dois se encontravam do outro lado da cidadela ou em alguma propriedade averiguando um roubo ocorrido quando chegava a notícia que um novo roubo ou furto em algum lugar daquele fim de mundo acabara de ser executado.

O êxodo rural, causado pelo represamento das águas e pelo corte da cana-de-açúcar, trouxe uma população faminta, doente e com grande carência de recursos, de modo que a criminalidade aumentava em índices exponenciais a cada dia.

O próprio Waldemar se incumbia de aumentar essas estatísticas, já que andava armado e volta e meia tinha que descarregar sua arma em algum sujeito moribundo pego roubando ou atacando propriedades. Isto, numa época em que os proprietários podiam se defender.

O roubo de galinhas e de leite de gado e cabra eram os maiores problemas enfrentado pela autoridade local. Tanto que, Waldemar Luis de Freitas requisitou reforço junto ao estado e recebeu em cerca de dois meses após o pedido um cavalo e dois homens para patrulhamento. Apenas um jovem cavalo.

Após essa constatação ficou furioso: bateu simultaneamente com as palmas das mãos em sua escrivaninha de cedro, levantou-se num saltito, estralou todos os dedos quase que num mesmo instante e de tão furiosamente torpe teve derrame cerebral moderado. Morreu duas semanas depois, de desgosto e insuficiência respiratória, diziam os antigos, torto e com o lado esquerdo do corpo totalmente paralisado.

Sua esposa, a viúva Alice Aparecida de Freitas, então pôs a arma de estimação do falecido em sua cintura e começou a exercer, além de dona de casa e mãe de dois pequenos meninos, a função de delegada-prefeita do local.

Por sorte, teve o aval do estado, por não ter concorrente àquela profissão, já que seu pedido foi o único novamente, assim como o do seu marido também fôra.

Comprou, com a receita proveniente de dois leilões na qual dispusera algumas máquinas de escrever antigas e alguns pequenos lotes de selos, dois cavalos de propriedade de Felizardo Jacinto, duas pistolas e um colete de couro rígido e começou o patrulhamento ostensivo de toda área que a responsabilidade do marido abrangia e agora, passava a ser dela.

Fez fama notória de mulher forte, não pestanejava diante de algum impasse infracionário. Durante mais de dez anos comandou com mão de ferro e muita coragem aquele povoado recheado de pequenos furtos e assassinatos por facas, machados, facões, suicídios por ingestão de veneno de rato e enforcamentos.

Seu cotidiano era rico em situações e serviços, e ela, por paixão àquela profissão não tinha do que reclamar. Havia se encontrado no mundo profissional e já nem lamentava pela morte fatídica do seu marido.

Dizia que foi para presenteá-la com essa profissão que o falecido partira.

Gabava-se de ter reduzido à quase zero o índice de criminalidade do centro comercial, pois fazia patrulhamento constante naquela região, ficando apenas as propriedades e regiões afastadas sob a mira de assaltantes e bandidos que, muitas vezes roubavam apenas alimento, animais para abate, roupas nos varais ou calçados.

Se não fosse um confronto que teve com assaltantes de cargas, na época bem armados e extremamente violentos, diziam que poderia se perpetuar no poder. Mas foi alvejada no cotejo com os marginais sem ter disparado um único tiro.

Seu corpo foi encontrado todo furado e com a boca recheada de formigas na primeira manhã após o combate contra os assaltantes que, nessa ocasião, levaram um caminhão de gado leiteiro de propriedade de Felizardo Jacinto.

A partir desse fato, as autoridades estatais decidiram por ordem naquele pedaço de terra sem responsável e sem lei.

Instituíram eleições para prefeito, abriram concurso para delegado, construíram a prefeitura, a câmara de vereadores, a delegacia foi reformada e novas celas foram requisitadas por parte do delegado que acabara de chegar à cidade.

Um jovem de aproximadamente vinte e sete anos que finalizara a pouco faculdade de direito e preparava-se para uma importante missão: colocar ordem e respeito às leis na pequena Cidade dos Miguéis.

Desde o início teve respaldo da população, dos senhores de fazenda, dos comerciantes e do padre. Trabalhou duro nas investigações, prendeu muito ladrão de galinha, ladrão de bicicleta, matadores de aluguel que por ali passavam vindos de outros estados e escapou de várias emboscadas.

Era apreciador de propinas e sempre requisitava junto aos senhores de fazenda e comerciantes do local, carnes, carvão e cerveja, para que o trabalho ostensivo continuasse perfeito ou ao menos quase perfeito em toda a região a qual prestava serviço.

Possuía uma enorme geladeira em seu gabinete, sempre recheada de carnes e bebidas.

Seu nome era Carlos Miguel de Souza, e se perpetuou em seu cargo de delegado por mais de trinta anos naquela cidadela.

Marciano James
Enviado por Marciano James em 16/07/2009
Reeditado em 11/04/2012
Código do texto: T1702420
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