Pedra Bruta

Não deveria contar as horas e os dias...deveria contar as experiências, e somar as coisas que acrescentam pra descartar as coisas ruins que nos derrubam...

Deveria aprender a separar um tempo só para ser meu e de mais ninguém...deveria aprender a cobrar menos e doar mais de mim sem esperar o retorno, que frustra...

Deveria ser menos exigente já que a vida passa tão veloz...

Deveria aprender a conviver com a solidão sem que ela machucasse tanto, deveria entender esse antagonismo que mora dentro da gente, de querer estar só...e ao mesmo tempo, querendo ser invadida pra se livrar das horas de solidão total...

Deveria viver aprender a viver a vida muito mais do que mantê-la cativa a mim...deveria me manter mais viva do que cativa dela...

Deveria aprender a ver as pessoas como elas são, e entender que para as diferenças, construimos elos e fortalecemos a união...

Tantas coisas deveríamos aprender, mas nada sem antes olhar pra dentro nós mesmos e enxergar quem somos e o que esperamos de nós, ou o que doamos de nós, antes de esperar que as pessoas nos vejam e nos devolvam o que gostaríamos de ter delas...

Assim de quando em quando me vejo na necessidade de afundar dentro de mim mesma e explorar minhas entranhas, rasgar as minhas emoções, deixar doer e até sangrar as minhas muitas incertezas e a inúmeras certezas, para que eu saiba do meu lugar no mundo e na vida das pessoas que eu quero bem, e na vida das pessoas com quem convivo.

Como uma pedra bruta que se lapida a cada dia eu me exponho para aprender onde estão as arestas mais agudas, e me deixar polir onde já foi desbastado, sem formas e sem fórmulas perfeitas, pois minha reconstrução como pessoa não pode findar numa década, numa existência, é muito mais do que isso, atingir o pleno da vida, pode custar a própria vida...por que quando se fala em produzir pérolas ou se polir, indica-se ranhuras...já que é pelo experiência da aspereza que conhecemos o prazer da maciez...

Pois que sejam bem-vindas as ferramentas que me hão de preparar para ser uma pedra polida...eu me dou ao meu mundo, para que nele me encontre e me faça mais eu, a que reconheço ser a melhor de mim...e que me escapa muitas vezes pela desobediência natural aos espinhos...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 17/05/2005
Código do texto: T17460
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