OS POETAS E "AS NEURAS" DA POESIA

AFINAL, POR QUÊ ESCREVEMOS?

Ainda há pouco eu tentava acessar o endereço do Recanto das letras, e como não conseguia, tentando pelo atalho do "google" eu caí num site relacionado ao RECANTO, aonde encontrei o que segue, devidamente identificado, não sei se por um leitor ou por um escritor, que assina seu texto por:

Obed de Faria Junior, São Paulo (SP) · 10/8/2009 ·

"O mercado editorial não apresenta espaço, atualmente, para poesia. As chances concretas de que um livro de poemas seja editado dependem quase que exclusivamente de que o autor banque por isso. O fato é que livros de poemas não são produtos viáveis porque, tendo uma procura muito baixa, isso não proporciona o que se chama "ganho de escala" (mal explicando, o custo de qualquer mercadoria é tão mais baixo quanto seja maior a quantidade que se produza). Entretanto, por que a Internet está cheia de gente que se dedica com maior interesse pela poesia? Ah! Para isso eu tenho minha própria tese.

Fazer poemas, hoje em dia, é válvula de escape para estresse, meio de terapia para depressão, forma de expressar o "eu interior" para quem busca a iluminação, e por aí vai. Qualquer oficina cultural mambembe promove cursos sobre "como fazer poesia". Regras básicas: escreva pouco, utilize frases curtas, fale somente o essencial, "o que importa é o que você sente!".

Assim, não se perca de vista que a maioria dos “poetas internautas” não tem nenhuma pretensão literária. No mais das vezes, a intenção é somente "pôr os sentimentos para fora". E...? E seja o que Deus quiser! Danem-se a qualidade, a semântica ou qualquer regra, por mínima que seja, porque o que se pretende é "pôr-se à vontade" e não criar mais um complicador estressante.

Quiçá por isso, excetuando as obras clássicas e as de autores já consagrados, pouca gente "compre" poesia. Porque o leitor quer algo que lhe sirva de entretenimento e não ficar depurando as neuras dos “neopoetas” que querem, porque querem, ter seus egos massageados.

Há um último fator que penso que interfira na preferência pela poesia na Internet. Em boa parte das vezes o “leitor internauta” é uma contrapartida equivalente ao “poeta internauta” no que tange à sua pouca afinidade com algum senso literário. Dando mais relevância à forma que ao conteúdo, ele prefere telas que corram rápidas e letras que saltem coloridas no contexto de uma parafernália de multimídia. Ele tem pressa e, quase sempre, NÃO GOSTA DE LER, GOSTA DE VER!!!

Talvez, haja exagero. Contudo, quantos internautas que se consideram apaixonados pela poesia teriam a paciência de ler, ao menos, as primeiras estrofes de Navio Negreiro, ou dos Lusíadas ou da Divina Comédia? São poemas, também! Não estou aqui desmerecendo os internautas - nem poderia, porque sou um também e daqueles bem viciadinhos! Apenas estou inferindo que a publicação em papel é destinada a um público diferente que pode dispensar um computador.

De qualquer forma, tudo a seu modo é literatura, mas dificilmente é possível transpor um mesmo texto de uma mídia para outra com resultados semelhantes."

PEÇO LICENÇA PARA COMENTÁ-LO:

Achei interessante a colocação do escritor, porém , entre meias verdades, faço algumas ressalvas.

Concordo que a poesia tem um mercado muito restrito, porque demanda extrema sensibilidade, abstração e despreendimento, qualidades difíceis nos dias de hoje.

Às vezes me pergunto, em pleno século vinte e um, nessa era frenética da informática e da pressa, de fato, como seria o desenvolvimento literário dum MACHADO DE ASSIS, DUM FERNANDO PESSOA OU DUM EÇÁ DE QUEIRÓS.

As artes se transformam através dos tempos assim como o seu meio de comunicá-la para o exterior do artista.

Quanto à poesia neurótica e seus poetas aos quais o escritor se refere, é irrefutável o vínculo emocional do artista à expressão da sua arte.

Se assim não fosse, as expressões não teriam sentido.

Artista algum aprende a fazer arte, posto que não há receita para habilidades que já nascem prontas.

É assim na música dos gênios e na escrita dos consagrados.

Ninguém saberia construir, por exemplo, um Guimarães Rosa, que traz toda a sua temática de vida regionalista aos questionamentos das suas obras.

Um artista nunca se separa de si mesmo, porém momentaneamente enlouquece apra se enxergar e portanto se entregar à sua obra.

Todos somos assumidos neuróticos, e não seria diferente com a obra de Mozart, e de Pessoa por exemplo, famosas por trazer as questões e conflitos psicológicos de vida dos artistas à tona de suas geniais expressões de arte.

Neurose é uma defesa natural quando conflitos da alma se expressam no corpo...e por que não na nossa arte?

É necessário que tenhamos "neuras" para magnificar nossa expressão artistica.

E isso não é defeito, não diminui o produto, é necessidade da própria arte.

E para finalizar, tenho a dizer que todos um dia começam.

Não há como produzir e se consagrar sem começar, e muito raramente um artista recebe os louvores do reconhecimento da sua arte...no seu tempo.

Infelizmente.

E que nos venham as "neuras", para que nossa arte não morra nunca.

Nota A semana da arte moderna de vinte e dois se consagrou exatamente por dar liberdade às expressões artísticas, uma revolução das formatações arcaicas das artes no geral.