Sentir como tudo

E sentir, como tudo que é sagrado, as fontes do mundo. Descobri em meios difusos e estrondos que escoavam de longe onde ficava o cada espaço. Devorei em companhia de um flamivomo os detectores da arte, e jorrei como chafariz minhas percepções inválidas. Não agüentei o calar da noite, procurando, além de tudo, me saciar da surdez. Demônios e anjos se entrelaçavam na pequena visão de suicidar-me. Há uma forma de se esquecer tudo? De um momento a outro olhava, o relógio da vida pertubante, em uma contagem regressiva desvairada, extasiado. Medo da morte? Não, ânsia. O estranho é que a visão, agora destruída, estática, sem movimento, ver tudo como a mesma coisa. Os ouvidos estes que já participaram de tantas infamidades, dilata-se, escorre, sobre o corpo, a procura de um ruído. O cigarro que deveria ter a ocupação de me destruir, ao que parece me fortalece, e as fumaças que ouço, agora, já estão a gritar, como anjos hereges, ao massacre de deus. Sombras metafísicas, ignominiosos duendes distorcem toda a minha visão do ser humano, que, agora, já estar em sua fase terminal da sua autodestruição. A falta da visão aguça, em certos momentos, outros sentidos, entre eles, o principal: o prazer. O prazer de não ser obrigado a ver mais estas carcaças humanas, perambulando como morto-vivos, e as cabeças explodindo a cada paço, e se recompondo, a outro paço, apenas, de maça cinzenta e inútil. No terraço dos prédios cabeças opacas se inclinam para a morte. Desfruto o desespero com atenção, este tem sabores que vão além da culinária. Musicas, ruídos, gemidos, sinfonias, vagam. Das extremidades dos poros, consigo sentir, como tudo que é sagrado, como tudo que é podre, como tudo que é belo, como tudo que é arte, as fontes do submundo.

Ton Dourado
Enviado por Ton Dourado em 20/06/2006
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