Atras das palavras
Angélica T. Almstadter
Continuarei escrevendo até sangrarem
os meus dedos
ou apagarem as minhas digitais,
por que a alma sangra
há muito e por mais que eu verta
sobre papéis o sangue
que dela escorre incessante,
não há quem me ouça o canto...
Muitos foram as gaiolas onde meu canto se aprisionou,muitas foram as vozes
que fizeram coro à minha voz...
mas poucos os cânticos que couberam dentro da
minha alma em melodia...
Enquanto minh'alma existir dentro desse
corpo harmônico que quer bailar ao som das palavras...
não calarei os meus dedos afoitos...
não cessarei de versejar meus acordes melódicos...
não mudarei o rumo dos meus vôos românticos...
Distante dos abraços...dos sonhos
que persigo e afastada do mundo
que desejo, prefiro guardar intactos
os meus belos momentos...
meu armazém de ilusões, meu alimento poético...
Cá dentro do meu coração de muitos
cômodos e poucos chaveados...
deixo neles acesos candeeiros, pra
sempre lembrar dos momentos felizes e únicos...
Assim, se continuo fechada nas minhas alucinações, se continuo acreditando que além dos meus olhos existe um mundo encantado onde os meus sonhos um dia
irão se realizar...
continuarei incessantemente desenhando sobre um papel
ou uma tela, o mapa que me levará até ele...
através das palavras...
Louca...insana...inconseqüente...pra muitos, só carente ...
essa sou eu atrás das palavras...um dia cantando na chuva...
outro para a chuva...alegre, irreverente...
demente e pra outros uma melosa
insistente, sou eu mesma...
sem medo da cara de espanto ou dos olhares
duros de desaprovação...
Melhor enxugar os olhos...pra continuar a enxergar
as teclas, não hão de me censurar os olhos, pelo que
os dedos insistem em gravar na memória do tempo...
antes que eu seja julgada e condenada...terei colocado minha alma em cada
palavra, em cada verso...
Não sei se sou o sumo das minhas palavras ou
minhas palavras o resumo de mim,
o que sei é que nelas me acho e elas em mim se encaixam,
e onde eu for arrasto comigo essa multidão aflita...
que não quer morrer sem antes aos meus olhos pertencerem...e nos meu dedos se espremerem..