"Mala Véia"

No campo de futebol local, um bando de garotos, com idades variando entre onze e treze anos, batia bola próximos à trave do gol. A brincadeira consistia em ver quem mais acertava o travessão em um chute de média distância, o que exigia razoável habilidade. Observando a brincadeira dos meninos, um personagem muito conhecido das meninas da casa de Belice: Odilon, alcunhado, por razões óbvias, pelo epíteto de “Mala Véia”. Esta obviedade, melhor esclarecendo, devia-se ao fato da cidade inteira ter tomado conhecimento do terror que Odilon inspirava nas meninas de Belice, quando por lá resolvia aparecer. Uma, pressurosamente, alegava dor de cabeça; outra, mais que de repente recebia um chamado urgentíssimo do qual não poderia se esquivar e, entre tantas saídas pela tangente, “Mala Véia” tinha de se contentar com as mais afoitas, normalmente as mais velhas e feias – era pegar ou largar. Com as outras, temerosas do que teriam pela frente, o pobre “Mala Véia” não levava a menor chance de qualquer acordo.

Terminada a disputa de chutes na trave, os moleques reuniram-se em torno de “Mala Véia”, para as costumeiras galhofas. De muito bom humor, ele começou a espicaçar os meninos, perguntando-lhes como viam a si mesmos. Conversa vai, conversa vem, os moleques foram se soltando, rindo à socapa com os chistes de “Mala Véia”. Um deles, mais atrevido, aproximou-se do homem mais velho. Este, incontinenti, provocou: menino você é grande? O garoto empertigou-se e, dentro da impetuosidade dos doze anos, mostrou ao homem mais velho o que ele queria ver. Com a mão no queixo, “Mala Véia” resmungou entre dentes: - “e depois essas zinhas ficam a reclamar de mim.... pois sim! Mal sabem o que está vindo por aí”.

História real contada por um habitante da cidade de Torpedo, perdida por este imenso Brasil..

Vale do Paraíba, noite de Quarta-Feira, segunda semana de Janeiro de 2009

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 05/11/2009
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