Ontem
Angélica T. Almstadter
Ontem quando entrei pelas portas do mundo, pouco
ou nada tinha nas mãos, o que eu trazia era
a alma em festa de esperanças, os olhos brilhantes;
transbordando sonhos tantos me rolavam pela face
quase que instantaneamente a cada sopro gentil.
Ontem quando entrei, não sabia exatamente onde
chegaria, não sabia se a algum lugar chegaria...
Nunca senti medo, sempre de peito aberto;
fui depositando nos dias minhas digitais palavras;
sem meios termos, de cara limpa,
sem medo de me atrever...sem medo do que poderia parecer...
Sempre fui espelho de mim mesma, consciente das
minhas verdades, sem travas e sem censuras,
o que sempre permitiu me olhar e me ver em cada linha
em cada verso despida de pudores, ainda quando
minha imaginação era extravagante e ia além
do que se permitem as convenções.
Desde ontem quando cheguei, eu pouco mudei;
talvez tenha amadurecido, talvez tenha ficado mais hesitante,
talvez tenha aprendido manipular os verbos com mais habilidade,
embora hoje olhe pela janela e deixe minh´alma voar
da mesma maneira; livre , sem reservas, me olho mais
intensamente, e sei que me gosto, porque sei que aqui dentro ainda
sou a mesma mulher menina, cheia de curiosidades, que não desaprendeu
a amar as pessoas incondicionalmente, perdoar sinceramente,
me gosto mesmo por saber que mesmo a medida que o tempo passa
continuo olhando por essa janela, com os mesmos olhos faiscantes,
a alma em alguns dias florida e outros inundada, mas ainda a mesma
que amanhece todos os dias, refeita, em busca de continuar a viver
indistintamente, do seu tempo, reaprendendo em cada nova lição
que sempre vale a pena semear.
E como nada é para sempre, viver o hoje intensamente
é a maior experiência que a vida me ensinou,
assim se não tinha nada nas mãos quando cheguei, continuo de
mãos completamente vazias, mas com o peito
transbordando cada dia mais...