Compreendendo o pós-modernismo

Para uma maior compreensão da produção literária de uma forma geral, é imprescindível que se entenda que nenhum movimento da literatura é absolutamente globalizante. O que há de fato é que certos valores predominam em um determinado período com relação a outros. Nesse sentido, podemos dizer que há formas e expressões que são próprias e que, por sua vez, nos levam a pensar que a literatura possui o seu campo próprio de análise e que não pode se limitar ao rebuscado e renegar o novo.

A partir dessa observação podemos compreender com mais propriedade que o termo “pós-modernismo” é utilizado para definir certo conjunto de características literárias que parecem ser predominantes na literatura contemporânea. Embora ainda seja renegado por muitos, o pós-modernismo que já há algum tempo deixou de ser apenas um processo transitório, vem sendo delimitado como – e parece ser algo inevitável – um período que, evidentemente, se distingue da literatura moderna.

O pós-modernismo nesse contexto, o qual parece vir se apresentando desde o fim da segunda guerra mundial, não pode ser encarado como um movimento separado da preocupação profunda com a tragicidade que envolve a vida dos seres humanos. Antes, parece ser o resultado de diversas características consolidadas pelo condicionamento existencial que envolve o ser no que tange a sua individualidade como também a sua relação com os outros numa temporalidade de apreensão perpétua. É a partir disso que podemos observar que temas como identidade, individualidade, violência e solidão tratados na sua profundidade parecem ser a pedra de toque de toda a produção desse período. Assim, aparecem como resultado de diversas características consolidadas pelo condicionamento de toda uma sociedade. É a partir disso que podemos observar um dos pontos mais importantes e que pode levar-nos a perceber um distanciamento – não absolutamente distante – da modernidade. Mas, há uma distinção e isso reside no fato de que nessa contemporaneidade as pessoas se deparam a todo tempo com a face mais trágica da existência humana e a vida se lhes apresentam como espetáculo.

Numa literatura que se define por essas características, e aqui acrescento o ceticismo, a frustração e o desprezo, fica mais do que evidente a configuração desse encadeamento. Com isso podemos observar que as pessoas estão cada vez mais se repelindo e inevitavelmente construindo uma linha fronteiriça separando em pólos opostos o que são e o que deveriam ser. A literatura pós-moderna vem retratando de uma forma bastante própria o exato teor desse processo.

Com essas observações já pode ser dito que o pós-modernismo nasceu do Modernismo da mesma maneira que o Modernismo nasceu do Realismo. Há em muitos livros acadêmicos diversas observações a esse respeito.

Assim, buscando uma abordagem mais realistas de alguns temas já gastos – mas com a profundidade que não foi feita antes – apoiando-se em temas como a violência urbana e introduzindo na literatura personagens marginalizados, os escritores desse período parecem ter como objetivos precípuos representar uma realidade fragmentada como resultado de seres humanos fragmentados. É evidente que há um contexto que nós e a literatura estamos inseridos que é o do social, da sociabilidade e da identidade do eu e dos outros.

A literatura, sobretudo, nesse período tido como pós-moderno pode ser encarada como uma produção que gira em torno de no mínimo três questionamentos: seria a literatura uma espécie de negação e afirmação da vida? Até que ponto podemos separar literatura da vida cotidiana? É possível fazer uma ligação pertinente, inquestionável e inquiridora entre obras pós-modernas e realidade existencial?

É, portanto, muito relevante que se observe que há características literárias no pós-modernismo que parecem ser distinguidoras – e não totalmente exclusivas – com relação a períodos literários antecedentes. Convém observarmos que essa literatura não representa o comodismo sonhador dos áureos tempos românticos, mas a mundanidade de uma realidade nada tão sublime em devaneios ainda menos cristalinos.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 28/11/2009
Código do texto: T1949665
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.