Filha dos Deuses
Homenagem ao Dia da Consciência Negra
Angélica T. Almstadter
Renascida das águas a filha concebida sob a tutela dos deuses...
Rainha das chuvas finas...mimo de delicadezas e graça...abraça em sorrisos os olhares que cercam essa filha de Oxum.
Reina do domínio das águas mansas e plácidas...nas cachoeiras e na pureza dos lírios...ainda que brotem e vicejem nos brejos...
Nem todo o ouro, nem toda a pedraria roubam seu olhar, senhora dos amores...do encanto e dos sussurros doces...
Teu canto se espalha pelos ares...conquista e atrai...tem no corpo a chama do prazer...tem nos passos...na dança a irresistível sedução...que esbanja sem pudores, mas guarda entre os seios e o ventre, a distância, que só serve em taças ao eleito das tuas iguarias...
Dona da beleza...és filha da realeza...traz do berço o dom do amor...sem restrições...não há em todo o terreiro amor mais incondicional que o teu...
Ah! Filha renascida em outras águas de batismo...tens pulsando dentro de si toda a natureza...teus amores que te reconheçam dentro do choro copioso...ou no charme da sedução...
Mas nem tudo em ti é paz...nem tudo são águas mansas...filha de um deus guerreiro, és forjada no aço de Ogum, és guerreira...e na linha de frente, tuas são as guerras...
Rebrilha nos teus olhos o vigor da justa batalha...não hás de tombar em campo...enquanto cavalgares sobre as patas do corcel de ogunhê...
Não há medo que te prenda...não conheces a covardia, és nobre, és audaz...és atrevida e atirada...dominas sobre o aço e investida da tua armadura...és invencível guerreira...
Senhora dos ventos e das tempestades...dos gestos bruscos e dos atos irrefletidos...tens do lado Inhansã guerreira...a poderosa porção dos teus arroubos, é regida pela mãe e senhora dos raios e trovões...amante das chuvas e das guerras...
Filha e senhora dos ventos...sopra na brisa teus cânticos...se te toma a intrepidez da tua senhora...a que te comanda o lado direito...
És a marca dos deuses estampada nos olhos e olhares...nos gestos e nas palavras...tu que renascida das águas guarda no ventre o sabor da dança dos morubixabas...e bambeia ao toque do adejá...
Não serias inteira se não tivesses um exú a te abrir caminhos...senhor e mestre das portas e portais...te rege e guarda na invisibilidade...quando te faz necessário...habilidoso guardião que habita a águas densas...ao teu comando curvam-se os adversários mais audazes...pois que de frente te colocas sempre que o perigo ameaça...
Ainda que longe dos rituais...dos terreiros e da magia que envolve a tradição dos cultos afros...axé aos meus orixás...deuses que me guardam e me regem...não por minha escolha...por desígnio de um deus maior, Oxalá.
Baio ao som dos adejás...ao toque dos atabaques ...canto e risco o ponto de proteção , para o louvor o dia...que se guarda...