Eu devia tão pouco menos falar

Eu devia fechar a porta e ir adiante, tomar esse volante e tocar em frente, porque além dessa janela eu não vejo além de paisagens...eu nada sinto além de vontade...

Você pode ouvir o vento chicoteando a vida lá fora? Depois de todo o calor , e da chuva mansa, a noite chegou com ares gelados pedindo leito quente, e agora?

Eu me assento defronte essa janela e perco o ar de sonho pra ver como a natureza tem vontade própria. Porque não imitar suas sábias decisões?... a vida é movimento, é riso frouxo, é pé valsando, e caminhos sempre abertos...

Vontade de afastar os olhos da janela e experimentar a dureza da estrada, onde tudo se movimenta e os sons são constantes. Em que pó estarão os novos desenhos a serem marcados, pelos meus pés que descalços conseguem sentir a textura do chão e a sua quentura.

Eu devia botar a mochila nas costas e distribuir um pouco de palavras pelos ventos, deixar a boca livre para os cânticos...

Eu devia rasgar todos os contratos para experimentar a novidade de ir buscar o que minha cabeça pede, e meu corpo deseja...mas eu queria mesmo era

entrar nessa roda viva e girar sobre o fogo dessa estrutura para aprender onde estão os meus limites...onde eu assinaria meu nome sem receios.

Eu queria romper os ciclos e sair dos círculos para alcançar e tomar o que minh'alma pede sem cessar. O engasgo dessa pouca visibilidade me faz supostamente sem domínio e arrasta-me nesse espasmo diário, onde só sonhar é permitido...

Eu devia fechar a porta e não olhar para trás, porque além dos meus olhos secos, há ainda a esperança no sabor da língua, que conhece o gosto que anseia, só pelo desejo revelado, na redundância do pecado fartamente provado...

Eu devia tão pouco menos falar,

pra mais depressa lá chegar...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 25/05/2005
Código do texto: T19649
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