Eu devia tão pouco menos falar
Eu devia fechar a porta e ir adiante, tomar esse volante e tocar em frente, porque além dessa janela eu não vejo além de paisagens...eu nada sinto além de vontade...
Você pode ouvir o vento chicoteando a vida lá fora? Depois de todo o calor , e da chuva mansa, a noite chegou com ares gelados pedindo leito quente, e agora?
Eu me assento defronte essa janela e perco o ar de sonho pra ver como a natureza tem vontade própria. Porque não imitar suas sábias decisões?... a vida é movimento, é riso frouxo, é pé valsando, e caminhos sempre abertos...
Vontade de afastar os olhos da janela e experimentar a dureza da estrada, onde tudo se movimenta e os sons são constantes. Em que pó estarão os novos desenhos a serem marcados, pelos meus pés que descalços conseguem sentir a textura do chão e a sua quentura.
Eu devia botar a mochila nas costas e distribuir um pouco de palavras pelos ventos, deixar a boca livre para os cânticos...
Eu devia rasgar todos os contratos para experimentar a novidade de ir buscar o que minha cabeça pede, e meu corpo deseja...mas eu queria mesmo era
entrar nessa roda viva e girar sobre o fogo dessa estrutura para aprender onde estão os meus limites...onde eu assinaria meu nome sem receios.
Eu queria romper os ciclos e sair dos círculos para alcançar e tomar o que minh'alma pede sem cessar. O engasgo dessa pouca visibilidade me faz supostamente sem domínio e arrasta-me nesse espasmo diário, onde só sonhar é permitido...
Eu devia fechar a porta e não olhar para trás, porque além dos meus olhos secos, há ainda a esperança no sabor da língua, que conhece o gosto que anseia, só pelo desejo revelado, na redundância do pecado fartamente provado...
Eu devia tão pouco menos falar,
pra mais depressa lá chegar...