O OUTRO E EU

Uma revelação pelo outro? O que significa? Quem sabe o “ser diferente de mim” nos dê a intuição necessária que cada um é uma parte do espaço do outro e assim sucessivamente. E por fim concluo: o outro não é apenas um reflexo meu.

O que isso implicaria? Que até as mínimas idealizações estarão frustradas e que o outro não é mais do que nossa própria extensão. O outro não existe, o que existe é Outro-Eu. As artes bem dizem as mal-ditas desordens alheias.

Dizem que é questão de pele, que a alteridade sem “mim” é sem nexo. Um certo poeta disse algo ainda mais certo: poucas pessoas realmente vivem, a maioria somente existe. Será mesmo? Se o outro é Outro-Eu, o que dizer senhor poeta da maioria dos que ignoramos todos os dias? Mais ainda, o que dizer do sistema macro social, ou seja, o capitalismo tardio, que sobrevive por meio da indiferença do outro, hein? Nessa dimensão, a África me constitui um belo exemplo. Mas então vem a indesejável e inevitável constatação: o outro precisa estar errado para que eu esteja certo?

Pode ser que o Outro seja como um castelo de areia dentro de nós. Quem então seriam seus governantes? Talvez seja verdade, já que muitos vivem de plebeus das vontades alheias (e que dirá da moda, da mídia, das crenças e etc.). Eu, por minha parte, realmente ignoro os motivos subjetivos da atual idolatria ao sucesso, não desejo estar no topo do sucesso sobre tão podres alicerces. Perceba, é da vontade do Outro que se erguem os castelos do sucesso alheio.

O Outro é compromisso. Possivelmente seja esta a lógica necessária para se esclarecer o contemporâneo distanciamento dos vínculos. Somos sujeitos livres, e por isso mesmo, libertos das obrigações. O Outro me obriga a ser e estar presente. O amor e o ódio compartilham das mesmas circunstâncias. O Outro nos obriga a amar.

O corpo do Outro é a pura linguagem surda. Os corpos suscitam arrogância, inveja e, sobretudo medo. O corpo do Outro nos assusta. Seu corpo nos evoca possibilidades e diferenças, atração e retraimento. Um conglomerado perfeito de células, dispostas em altura, largura e profundidade. Principalmente profundidade.

Os corpos são paradoxais. Imponentes na mesma proporção que impotentes. O Outro, corporalmente falando, frutifica desejos e repulsas. Afetos estes estampados na desde a mais tenra idade que se estendem das suaves às mais enrugadas peles. O Outro é, antes de tudo, um corpo erógeno.

É criação e ruptura. Máscara. O outro, a outra, os outros são um todo da mesma porção. O Outro pode ser entendido tal qual um retalho de laços. Este nos vem quando menos se espera, quando menos se entenda, daí em diante o outro não passa a ser apenas um reflexo meu, o Outro sou eu!

Taborda
Enviado por Taborda em 07/12/2009
Código do texto: T1965250
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