OLÁ, PODEM SE OUVIR?

Confesso que acessei a presente escrivaninha para escrever sobre um outro assunto bem diferente do qual discorrerei, porém uma notícia de rosto do Yahoo me desviou do meu tema inicial.

Trata-se da divulgação da carta que Leila Lopes deixou à família e aos amigos, antes de desistir da vida terrena. Eu a li e fui impulsivamente compelida a escrever.

Eu já intencionava escrever sobre o tema muito antes do triste episódio de Leila, em virtude de ter passado recentemente pela mesma situação, posto que perdi um amigo inesperadamente vítima do mesmo mal, o suicídio.

E claro, sempre que acontece uma tragédia dessas ligamos as antenas do pensamento e nos perguntamos o porquê da tal atitude, se poderíamos ou não tê-la evitado, enfim, perguntas essas que todos nos fazemos quando gostaríamos que determinada ocorrência voltasse no tempo.

O fato é que o suicídio nunca ocorre quando as pessoas estão emocionalmente equilibradas.

Vários graus de desespero em vida , ou mesmo situações de sérias doenças corporais ou emocionais, essas ditas depressões maiores, ou mesmo as induzidas pela tão incidente drogadição, podem levar as pessoas a romperem com a realidade e a negarem ou rejeitarem a própria existência.

O mais interessante é que muitos dos que atentam contra a própria vida nunca deram sinais, tampouco avisos prévios de que cometeriam tal ato.

Mesmo aos médicos psiquiatras muito experientes nem sempre lhes é possível perceber e pre diagnosticar o tal risco a tempo, que em psiquiatria, quando é previsto,sempre configura uma urgência da especialidade.

Porém o objetivo do meu ensaio é fazer algumas considerações: Primeiramente de que é grande a incidência de suicídio nas megalópoles, principalmente com a o advento quase epidêmico de quadros depressivos em todas as idades.

Embora sempre haja um terreno BIOLÓGICO predisponente para o suicídio nas grandes depressões, aquelas psicóticas como as da esquizofrenia, e mesmo as do distúrbio afetivo bipolar, a dinâmica de vida sempre tem grande coparticipação no tal ato de desespero.

A vida nas cidades grandes não é nada fácil.

As pessoas tendem a perder o contacto mais humanizado com o meio e consigo mesmas.

São submetidas ao stress contínuo, cobranças por todos os lados, a falta de tempo para se relacionarem com a família e amigos, o excesso de compromissos profissionais e financeiros, as desilusões com o entorno, a passagem do tempo.

Para as mulheres, cuja estatística de suicídios as premia, a sobrecarga de vida é ainda maior.

Na carta de Leila uma parte me chamou a atenção "não quero envelhecer e sofrer".

Embora haja controvérsias quanto à idade da atriz, as mulheres no período climatérico e principalmente na menopausa podem desenvolver depressões brutais, muitas vezes não diagnosticadas porque são negligenciadas pela família e até pelos próprios profissionais da área, que não as percebe, posto que nem sempre trata-se dum diagnóstico tão simples.

Às vezes mudanças abruptas de comportamentos são atribuídas ao mero stress, a fatores hormonais, e assim, um risco de suicídio por depressão pode ser subvalorizado.

Além do mais, nossa sociedade é um tanto cruel com a imagem feminina.

Ainda não se encontrou um antídoto específico para o envelhecimento a que todos estamos expostos.

Quem precisa da manutenção da imagem exuberante para fins profissionas, como as atrizes e modelos, me parece que sofre uma cobrança maior pela passagem do tempo, esse tempo que ninguém pára..

E mesmo para quem não necessita da auto imagem com instrumento profissional, não é muito fácil se aceitar nas mudanças inexoráveis que o tempo nos apresenta, principalmente quando se é extremamente bela, como era o caso da atriz.

Soma-se a tudo, a intensa cobrança do financeiro que nesse mundo tão consumista valoriza o poder aquisitivo em prol da essência das pessoas. Muito difícil de se encontrar um equilíbrio emocional diante desse contexto tão artificial de vida urbanizada.

Assim sendo é preciso que aprendamos a nos blindar contra o tudo que não nos pertence.

Importante separar o que está do lado de fora de nós, do que permeia nossas reais e primordiais necessidades interiores.

É preciso que aprendamos a não dar ouvidos para as "pseudo" necessidades que o meio nos cria, nos tornando escravos do entorno.

É preciso procurar espaços, pessoas e relações que nos agreguem e que não nos parasitem. Hoje as pessoas só querem falar, desaprenderam a ouvir e a enxergar a intimidade do outro...e o que é mais triste, não ouvem a si mesmas.

Um bando de sozinhos de si rodeados por multidões de outros.

Enfim, é preciso o auto conhecimento. É preciso servir, num ato mais amplo de doação universal, assim entraremos em contacto com um propósito maior, o do prazer da troca espiritual entre as pessoas.

Nenhum ser humano consegue a plenitude nessa existência se não olhar para dentro de si a se redescobrir a cada dia, não no sentido narcisista ou egoísta, mas no sentido de se perguntar qual o seu mais íntimo propósito de vida. Nem sempre estar só é estar sozinho.

Muitas vezes somos nossos maiores e insparáveis companheiros.

Porém é mister a fé.

A fé é um sentimento inexplicável sobre a qual já nos foi escrito que "remove montanhas", embora adubar a fé no nosso meio, seja o grande milagre. É preciso transcender.Talvez esteja aí o grande sucesso da recente logosofia, que remete ao " homem em busca de si mesmo".

Nessa época de Natal as depressões aumentam e isso é científico. Está nos livros.

Aumentam porque nos é cobrado socialmente que estejamos cem por cento felizes, dispostos, junto às nossas famílias, embora paradoxalmente, somos atingidos por uma onda cruel de consumismo que absolutamente em nada nos preenche...tampouco nos realiza.

Natal é renascimento na fé, e nada melhor que renascer para "dentro" de nós, enlaçar nossas mentes aos nossos corações, na incessante busca do real sentido para a nossa existência plena.

Esteja a Leila, e tantos outros que optaram pela partida terrena antecipada, na paz e na plenitude do maior dos entendimentos: daquele que brota da misericórdia Divina, e que nos dá o sentido amplo do Espírito.