Desabafo. /// -- E.....ainda é Natal..
...e então é natal...
...cantarolavam faceiros alguns seres pelas ruas da capital,
Meninos e meninas num mesmo refrão em alto astral,
Buscando pelos cantos, o sonho composto em um decimal,
...então é natal,
Também no outro lado da cidade, na espolia fetal,
Onde as velas são a única luz, assentadas em uma lata como castiçal,
Onde escondem o mendigo rotulando-o como “o excluído social”,
...e então, é natal,
Hora que os seres se mesclam, e, (em suposição), não há nenhum mal,
Gigantes se curvam, ficam de joelhos numa reverência teatral,
E os pequenos conseguem se agigantar de forma descomunal,
...e, ainda é natal,
As lâmpadas multicoloridas imitam o esplendor celestial,
Multiplicam-se os sorrisos no ocidente, contagiam a banda oriental,
Desfaz-se o rancor e a soberba dos poderosos, heranças do poder feudal,
...e continua sendo natal,
Mas por detrás desta narrativa desconexa está o verdadeiro acontecimento,
A solenidade feita no decorrer dos tempos depois de um nascimento,
De um rei menino que por pouco não abrolhou ao relento,
E era o começo desta história, a “luz” surgiu neste momento,
Mas registro, com extremo pesar, angústia e dor,
Que os princípios tomaram outros rumos e perdeu-se um tanto desta entrega de amor,
Os homens buscaram outros rumos desatrelando-se do próprio destino,
Fizeram outras opções esquecendo os mandamentos do divino,
E hoje, ‘natal’ deixou de ser sinônimo de raiz e celebração,
E sim, uma oportunidade a mais para outra manifestação,
Embustes ancorados em cinismos que trazem falsas esperanças pela mão,
Maledicências e destemperos corrompendo os comandos do “coração”,
Trocas de olhares e presentes, sorrisos dissimulados,
Abraços sem carinhos, nem mesmo apertados,
Doações diversas aos, (em teoria), mais necessitados,
Descarga de consciência para não se sentirem culpados,
...mas, ainda é natal,
...em alguns poucos corações como a exemplo, no amigo leal,
Na atitude ingênua do pedinte, na inocência do guri que entrega o jornal,
Ainda pode ser “Natal”, independente do meu desabafo neta folha de papel,
Quando o único presente for o resgate do “amor” que o menino deixou, entregue pelo próprio Papai Noel!
Amaro Larroza.