Hitler vai pro Inferno

Amanhece o dia treze de janeiro de 1941 num certo castelo no norte da Baviera, lá já está toda a alta cúpula do fascismo alemão, sem a ausência de nenhuma figura importante do partido nacional socialista. O anfitrião aguarda apreensivo a chegada de um jovem médico, formado na melhor universidade da Alemanha. Já são 8h30 daquela manhã gélida de inverno europeu, quando iniciam os debates sobre o que fazer com a população de excluídos do regime fascista, o partidário Göering está ansioso para apresentar a sua proposta.

Então, este pede a palavra e propõe que seja criada uma real e produtiva indústria da morte, descentralizada e supervisionada por um grande administrador, o plano consiste em enviar todos os descartáveis do regime para estas indústrias, e lá terem o seu destino final, sendo aniquilados. Serão melhoradas as linhas férreas, rodoviárias e até hidrovias serão utilizadas para que o projeto obtenha grande sucesso. O idealizador do regime, Rudolf Hess, que ouviu o plano, apoiou a idéia, o comandante das SS Himler não gostou muito, mas aderiu, Göering ficou eufórico e, com o auxílio de Bormann, expôs o restante do plano.

Hitler fica pensativo enquanto lê atentamente o projeto, Goering chamou o diretor geral do serviço de propaganda, Goebelts, que já tinha pensado nos pormenores do projeto e já o tinha batizado de Solução final, para os degenerados e descartáveis do regime fascista alemão. O Fürhrer fica entusiasmado e dá ordens para que fosse logo encontrado o administrador e o projeto fosse colocado em funcionamento a pleno vapor. Para terminar, faltava uma opinião médica sobre o projeto, adentra na sala de reuniões um jovem e promissor médico chamado Josef Menguele, bem vestido e com um ar superior explica aos presentes que fará uma supervisão metódica e pessoal do projeto e que está confiante no seu sucesso total. Antes da saída fica esclarecida a determinação de Hitler de invadir a União Soviética, sob o codinome de operação Barbarossa e o assunto já estava decidido, não cabendo mais discussões.

Uma semana após estes acontecimentos, Göering convoca a comparecer ao seu confortável escritório, um jovem administrador chamado Adolf Aipmann, que ouve com atenção as diretrizes do projeto e pede a palavra para expor que aceita com muita honra ser o encarregado chefe da empreitada, mas solicita total carta branca do partido, para poder tomar algumas atitudes necessárias à viabilização do projeto. Göering se comunica diretamente com Hitler, que aceita as condições desde que a empresa seja iniciada naquele dia. Aipmann é aceito e começa a trabalhar logo após aquele encontro, sua primeira providência é banir das indústrias da morte a palavra perdão ou clemência, ninguém que seja enviado para aquele local de extermínio escapará de ser aniquilado.

Já com a solução final encaminhada e sendo executada, Hitler volta-se com toda sua fúria para o leste que era, agora, o seu real objetivo, desde o início da guerra o aniquilamento total do comunismo soviético. No dia 20 de março daquele ano, todo o auto comando das forças armadas alemãs reunem-se com a cúpula do partido para tratar dos últimos detalhes de logística e táticas militares que permitam uma campanha militar ágil e rápida nas vastidões das estepes russas. O general Guderian a princípio era totalmente contra a tática apresentada por Hitler, que consistia na abertura de uma frente de 1500km, dividida em três exércitos com objetivos distintos. O comando do norte atacaria e tomaria a cidade de Leningrado e os portos do mar do norte, já o comando do centro atacaria a capital Moscou e o comando do sul os poços de petróleo do Cáucaso. Quando o Führer acabou de explanar suas idéias, todos os generais e estrategistas da mais alta cúpula do exército alemão, discordaram deste plano de ataque, pois era impossível manter a retaguarda das tropas a salvo do contra-ataque dos soviéticos, todos sugeriram a abertura de uma única frente de 900km de extensão com quatro milhões de soldados, 5000 tanques, 3000 aviões seriam usados num ataque direto contra Moscou, que cairia em no máximo 60 dias numa operação chamada de Asfixia, para que assim conseguissem cortar a cabeça do gigante soviético que era o Kremlin.

Sendo assim feito todo, o corpo cairia num efeito cascata, como se fosse um castelo de cartas. O Führer, aos brados, recusou esta proposta, ameaçando que quem se recusa a aceitar as suas táticas seria demitido e preso como um traidor de toda a Alemanha. No crepúsculo daquele dia, o plano enfiado goela abaixo de todo o alto comando das forças armadas alemãs, muitos tentaram em vão mudar os planos de Hitler, mas ele não mudou e as suas táticas errôneas foram executadas já no dia seguinte. A invasão estava marcada para 25 de abril de 1941 mais um capricho do mentecapto Führer mudara os planos, ele exigiu que todo os Bálcãs fossem tomados antes e que o líder fascista italiano Benito Mussolini fosse ajudado.

Como operacionalmente era impossível fazer tudo ao mesmo tempo, a data foi adiada para junho daquele mesmo ano. Tendo os Bálcãs sido conquistado e Mussolini ajudado, Hitler voltou-se com toda fúria para o leste, que seria mais tarde o seu próprio túmulo como comandante militar.

Madrugada do dia 22 de junho de 1941 às 3h00, o primeiro tiro foi dado e a invasão começou, quatro milhões de soldados, 5000 tanques e 3000 aviões foram mobilizados para o que foi o maior ataque que uma nação sofrera até então, na história, no início foi um passeio não havia obstáculos que conseguissem parar o avanço dos alemães. Milhares de soviéticos foram capturados, os tanques estavam percorrendo uma média de 80km por dia, nada parecia dar errado até que, chegando o mês de agosto, começaram as chuvas, adiantadas em um mês antes do outono, o que não era normal naquela época do ano. Parecia que tudo estava contra o 3°reich alemão, até contra o tempo tínhamos que lutar, as estradas ficaram enlameadas e o avanço teve que diminuir o ritmo alucinante, dando um pouco mais de tempo para que Zukov organizasse a defesa da capital. Mesmo assim, o Führer insistia no avanço a qualquer custo, o que lhe custaria caro demais em um tempo bem próximo. Na retaguarda das tropas alemãs, já se faziam sentir pelo povo soviético, a intolerância das chamadas SS chefiadas por Himler, que cumprindo ordens, exterminaria todos os indesejáveis do regime.

O povo, que no início festejara a libertação do terrível regime ditatorial de Stalin, se arrenpedera amargamente do apoio dado aos fascistas alemães, já que Hitler tinha dado ordens expressas para que o povo soviético fosse sumariamente exterminado, por acha-lo uma raça inferior. Mais um erro que não seria tolerado pela resistência do exército vermelho, Himler seguia a recomendação de Hitler com uma fidelidade canina, os massacres se multiplicavam as centenas, e eram feitos em plena luz do dia.

As tropas do norte atingiram as portas de Leningrado, mas os soviéticos resistem bravamente e a cidade não caiu, ali começava o mais longo cerco a uma única cidade na história da humanidade. Os alemães cortaram o fornecimento de gás, água, comida e remédios, a tortura foi tanta que muitos dos sitiados preferiram suicidar-se a ter que entregar-se aos fascistas alemães. A fome, a sede e a peste dizimaram a população que, mesmo assim não se rendeu, já a tropa do centro, comandada pelo general Guderian, estava a apenas 150km do Kremlin que é o centro do poder na União Soviética. Dos postos de observação já é possível ver os subúrbios de Moscou, que parecia condenada a ruir em questão de alguns dias. Aí apareceu um grande estadista e general russo, Zukov, que organizou uma rede de barricadas com arame farpado e ordenou que fosse cavada uma linha em torno de Moscou, com diversos níveis de proteção. Estas trincheiras conseguiram adiar o sonho de Hitler de passear pela praça vermelha antes do fim do outono russo. O Führer já tinha reservado um avião que o levaria da toca do lobo, em Kiev, até Moscou, tal era a sua confiança de que a cidade não resistiria por muito tempo ao avanço das tropas alemãs do centro.

A mobilização moscovita foi tanta que não faltaram voluntários para os mais perigosos trabalhos, na linha de frente da batalha pela capital. Toda a cúpula do partido comunista já havia sido deslocada para trás dos montes Urais, onde estavam em segurança, inclusive Stalin abandonou a cidade que parecia estar com os dias contados. Só que o tempo aprontou mais uma contra os alemães, uma nevasca terrível caiu naqueles dias de outono de Moscou e o avanço teve que parar, porque os soldados alemães ainda estavam com suas roupas de verão e muitos morreram congelados, as armas não funcionavam, os tanques tiveram que parar, pois os motores também congelaram, e Zukov ganhou um tempo precioso para organizar as defesas da cidade. A resistência foi organizada e os contra-ataques começaram. Com o que tinham, os moscovitas estavam causando severas baixas nas tropas alemãs. O general Guderiam teve que ordenar para os soldados que se mantivessem alertas às 24h do dia, o que era humanamente impossível. O Führer ficou colérico e demitiu Guderiam, colocando outro em seu lugar, mas sem nenhum sucesso, porque as tropas alemãs estavam exaustas, famintas, e agora se defendiam do contra-ataque soviético. Assim sendo, os desmandos, o inverno, a incompetência militar de Hitler conseguiu, finalmente, parar o maior exército já criado pelo homem, algo nunca antes visto, com um poder de fogo devastador e com os soldados mais bem treinados da história das guerras. Com mais este impasse, Hitler ficou furioso, demitiu o alto comando de guerra alemão e assumiu ele próprio as rédeas da guerra no leste.

Mudando os planos de novo, decidindo que o objetivo agora era a cidade de Stalingrado que fica às margens do rio Volga, importante centro industrial e porto fluvial encravado no coração da União Soviética. Para este fim, Hitler nomeou como comandante geral das tropas do sul o general Von Paulus, que tinha sobre o seu imediato comando 1.500.000 soldados que deveriam tomar a cidade em, no máximo, 60 dias. Já havia se passado um ano e as tropas alemãs estavam estacionadas e na defensiva, no dia 16 de agosto de 1942 a luta por Stalingrado começara, aquela que seria a maior batalha já vista pelo homem.

Von Paulus dividiu as tropas e organizou um grande ataque, mas, antes pediu ao Führer auxílio aéreo para a tomada da cidade o que não tardou, Goering ordenou que Stalingrado fosse bombardeada de dia e de noite por 24h sem cessar, transformando a cidade no ponto da Terra mais bombardeado de todos os tempos. O auge destes ataques foi o dia 13 de setembro de 1942 quando Hitler e Göering colocaram no ar 2500 aviões, transformando o dia em noite e a vida dos defensores da cidade num inferno insuportável. Neste ínterim, Hitler altera os planos de novo e desloca tanques, carros de combate e soldados para as tropas do centro, o objetivo agora era Moscou a qualquer custo. Com isto, Hitler deixou uma distância intolerável de 80km entre o grosso das tropas do sul e o 6° exército de Von Paulus que ficara, assim, desguarnecido e sem contato com o resto das suas tropas.

A ordem era para entrar na cidade a qualquer preço, Stalingrado ardia em chamas, nas ruas o horror era inimaginável cadáveres por todos os lados e um cheiro insuportável de morte, que os alemães teriam que suportar. Os soviéticos lutavam a qualquer custo, a cidade não poderia cair e eles lutavam praticamente sem armas, porque o exército vermelho só tinha rifles de repetição e era um rifle para dois combatentes. Enquanto os alemães tinham metralhadoras automáticas, armas de todos os calibres, canhões e tanques, as primeiras lutas foram uma carnificina, pois os soviéticos simplesmente corriam como suicidas lunáticos para tentar barrar o avanço alemão, tentando pará-los com suas armas ineficientes, os alemães compulsivamente os matavam aos milhares, os corpos jaziam por toda a parte havia restos humanos, num horror inigualável.

O combate era desigual, prova disto é que nos primeiros trinta dias morreram um milhão de soviéticos, enquanto os alemães tiveram bem poucas baixas. Quando tudo parecia perdido, Stalin convocou Zukov para coordenar a defesa da cidade, que não poderia cair de jeito nenhum. O general organizou uma nova tática que consistia no ataque com poucos homens, para conseguir matar um número maior de soldados alemães. Os soviéticos se escondiam e esperavam os alemães, fazendo escaramuças e fugindo por entre os escombros. Os alemães chegaram a trinta metros do rio Volga, mas tiveram que recuar e se esconderem no que sobrara da cidade. Neste momento, havia um impasse, pois para tomar uma única casa eram necessários dias de combate, Stalin e Zukov organizaram um plano intitulado de Laço da morte, que consistia em isolar o 6° exército alemão em Stalingrado. Então, o exército vermelho ocupou a lacuna deixada por Hitler entre as duas tropas do sul, quando isto aconteceu, o 6° exército não tinha mais salvação e acabou se rendendo em 31 de janeiro de 1943. Von Paulus foi enviado para Moscou e seus homens caíram prisioneiros, dos 250.000 que se renderam só 2000 conseguiram voltar vivos para a Alemanha depois da guerra.

Depois dessa derrota, as hordas de Hitler foram varridas das estepes russas e o cerco sobre Berlim estava apenas começando. O Führer enclausurado em seu bunker não comandava mais nada, além dos seus últimos fiéis amigos, entre eles Bormann, Goelbelts, Himler e Göering. A sua mais fiel companheira era Eva Braum e seus empregados mais chegados e alguns soldados que lhe faziam a segurança. No dia 10 de abril de 1945, Martin Bormann apresentou a Hitler um plano engenhoso de fuga, eles fugiriam de Berlim no início da próxima madrugada todos disfarçados de soldados soviéticos, pegariam um trem até o mar do norte e lá já estariam esperando por eles dois submarinos, também disfarçados, só que agora se passariam, se preciso fosse, como sendo da marinha britânica.

Hitler aprovou o plano de fuga, mas seus mais devotados companheiros de partido, resolveram não tentar aquela ousada fuga. E para que o teatro de horror fosse completo, o Führer ordenou que se encenasse a sua morte como um suicídio, usando um de seus muitos sósias como cobaia, nesta farsa horripilante, para ficar nos livros de história. E para que os seus inimigos não desconfiassem da sua tentativa de fuga.

Assim sendo Hitler, Bormann e sua comitiva fugiram naquela chuvosa madrugada de Berlim rumo ao trem e, depois ao mar do norte. Lá chegando, constataram que o capitão exigia o pagamento em ouro e adiantado, senão não zarpariam. Bormann tratou de pagar logo e todos embarcaram, Hitler e Eva Braum num submarino, Bormann e seus lacaios no outro. Saíram no amanhecer do dia 12 de abril de 1945, no início, tudo corria bem até, passarem por águas minadas e o submarino de Hitler ter passado perto demais de uma mina submarina que explodiu, danificando um dos motores de popa da embarcação, já o submarino de Bormann nada sofrera. Continuaram em frente e agora tinham que passar pelas redes de aço que fechavam a saída daquele golfo. O submarino de Bormann foi à frente a toda velocidade para romper a rede de aço. Este conseguiu passar, mas o submarino com Hitler não teve a mesma sorte e ficou preso, pois só um dos motores funcionava. O capitão fez de tudo para se soltar, mas o destino de todos parecia estar selado. Apelaram até para o código Morse, batendo no casco do submarino com chaves inglesas, nada adiantou e o destino de toda tripulação e de Hitler era mesmo morrer ali pela falta total de ar.

O Führer, antes de morrer, escreveu uma carta e a colocou dentro de uma garrafa e depois a ejetou pelo compartimento dos torpedos. Vinte e cinco anos depois desta tragédia, um pescador norueguês achou a garrafa e leu a mensagem que estava escrita em alemão, ele falava e escrevia naquele idioma, pois era descendente de refugiados alemães. Contou a história na sua cidade, mas ninguém acreditou, ele ficou decepcionado e deu a garrafa para o genro que a colocou como se fosse um troféu de guerra, em cima da lareira da sala.

fim

HERR DOKTOR
Enviado por HERR DOKTOR em 21/07/2006
Reeditado em 29/05/2009
Código do texto: T198744
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