Porque sei?

Sei dos teus amores, cuidadosamente conservados, sei das tuas noites de silêncios, dosados...das tuas horas caladas...e das palavras calmamente pensadas...das falas construídas com originalidade...sei de ti muito mais do que sei de mim...porque sei de ti muito mais do que quero saber de mim...

Sei dos teus olhos matreiros, olhos perscrutantes, de olhares dirigidos...de rutilantes olhares que afiados pousam sempre comedidos em alvos minuciosamente estudados...

Sei dos sonhos que conservas intactos...como sonhos de menino, e de tantos mutilados, que ainda jazem adormecidos em esperanças miúdas...

Sei do anseio da tua carne, mas sei mais do anseio da tua alma, pois que vaga desejosa e livre, sem pousar e sem nunca se prender...sei da essência que norteia o rumo dos teus desejos, sei dos teus aceites...dos teus deleites...

Sei das tuas travas e das tuas amarras...sei do que castra os teus passos e do que te fecha muros ao redor...sei dos vôos e das direções...sei dos pés que conhecem o caminho...dos braços acostumados aos abraços ...sei dos colos amaciados pelo tempo...sei dos medos...do apelo da razão...

E porque sei tanto?...porque sei de mim...sei dos meus atos represados...dos meus silêncios incontidos...dos meus engasgos, dos meus receios e anseios tolamente cometidos...

Sei de ti, porque sei de um mundo que conheço...com uma exatidão de quem não vê...sente...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 26/05/2005
Código do texto: T19956
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