Na escrivaninha, diante de você

Se quiser puxe uma cadeira bem confortável, a conversa pode ser longa, não tenho pressa, mas preciso olhar nos seus olhos, só sei conversar sentindo a pulsação e o brilho do olhares. Tenho muito pra dizer e não será em poucas palavras, meu mundo se entende por uma centena de verbetes, quase sempre repetidos, mas ditos de formas diferenciadas.

Gosto de organizar palavras e inventar posições estratégicas, deve ter notado que sou uma exploradora de expressões, e me encanto com licenças poéticas, passeio e faço pouso em muitas emoções usando a pouca riqueza que tenho de vocabulário para expressar em muitas formas o meu sentir.

Uma coisa é essencial; que destrave seus preconceitos para me perceber em muitas nuances; tenho registro de muitas emoções e sensações que mormente só me permito nas palavras, mas não descarto a possibilidade de provar um dia, pois que minh'alma livre não se prenderá nunca a censuras prévias, desde que muito bem calçadas as expectativas é possível que encare o mundo das minhas verdades escritas quase que sem receios. Mas falando novamente da minha confortável posição, deixo-te a vontade para viajar nos meus jorros incessantes, esse sim é o movimento das minhas muitas águas represadas e não há outra forma de me saber as entranhas senão, se permitindo adentrar sem travas e sem pudores no que eu chamo de minha essência.

Partindo de um ponto qualquer, porque todos eles o levam pra dentro de mim, não há que precisar de bússolas, é impossível se perder dentro das minhas confusões, se notar, há sempre uma porta para uma próxima aventura, já que não me fecho em círculos exatos, meus tempos estão contidos num caleidoscópio que gira sem cessar, onde sempre formam novas e belas imagens e onde o meu limite é o infinito.

Pra chegar até aqui, me aprendi e me reaprendo todos os dias; porque graças a Deus ainda sou uma novidade pra mim mesma, e isso é o que me fascina. Não sou o meu máximo e nem quero ser uma máxima, porém não me contento com miudezas, não me dou em migalhas e para tanto também não me contento com as mesmas; assim, sempre vai me notar num esforço absolutamente cavalar para me doar, por que essa é minha natureza, essa é minha função, eu diria, ou a minha meta.

Me perguntarão alguns, o que me leva a ser tão claramente viva e tão febrilmente exposta; uma narcisa? Eu respondo sem culpas; tento entender as ânsias que não são só minhas, mas de uma maioria por certo, que nem aprendeu a mergulhar em si própria para se perceber, e num átimo de segundo se visualiza nos meus recreios; e com isso percebe que nem sou tão original assim, mas que posso perceber coisas que normalmente poucos dizem com simplicidade, como tento.

Me perceberá nua muitas vezes diante das minhas verdades, muitas vezes só me visto mesmo de palavras, por que não preciso mais que isso, nesse meu mundo, e dentro desse meu espaço, passeio sem regras, nunca me preocupo com imagem que possa refletir, minto; as vezes pesa-me sim essa imagem liberta que carrego, mas esqueço no minuto seguinte, na próxima fala, por que não sei cercear palavras, não convivo bem com a censura, assumo o que sou, como sou, sem medo de dar a cara a tapa.

Diante de tudo isso, a minha única frustração é a de que não faço literatura. Como uma escritora de um veículo de vanguarda, meu valor é passageiro é consumível, como tantos. Pertenço a um mundo que digere e consome tudo muito rapidamente, e por isso mesmo sem valor literário algum, uma diversão para os novos tempos.

Eis-me nua e crua, sem preconceitos e sem reservas, livre e feliz por me aceitar exatamente como sou, indiferente do que pensa o mundo ao meu redor, os meus questionamentos me enriquecem, e isso me basta.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 28/05/2005
Código do texto: T20280
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