Vivendo no silêncio das palavras
Porque não cessa esse vozerio,
onde vou me esconder das línguas
que nunca se calam?
onde se esconde o silêncio que busco,
a paz das horas caladas?
Como vou ouvir os meus sons
se esse barulho me atropela...
choca-se com os meus irriquietos
pensamentos,
que querem bolir com meu corpo...
brincar com minha cabeça.
Queria que tudo ao meu redor se aquietasse
para eu mergulhar na imensidão
de palavras que borbulham aqui dentro
de mim.
Queria que as vozes só murmurassem
baixinho,
enquanto eu ouço os meus
burburinhos...
queria que só passos macios pisassem
por aqui...
enquanto eu passeio nas minhas
veredas,
colhendo versos.
Porque tantas vozes...
tantas falas...
prefiro os sussurros ...
a delicadeza dos arpejos
das palavras
bem entonadas...
compassadas e espaçadas.
Mas esse teatro de artistas falantes...
que gritam,
gesticulam e nem mesmo respiram
na ânsia de tanto falar...
me sufocam.
Essa voracidade pra engolir
os silêncios...
me incomoda...
porque a pessoas não deixam-no
pousar ...
porque não apreciam sua
plenitude...
ou antes porque não ouvem
mais os seu barulhos internos,
ao invés de só fabricarem armas
pra matarem o silêncio...
e fiarem sem cessar tantas palavras
sem graça,
feias para empanar
o seu brilho.
Ah como eu queria poder desligar
tudo ao meu redor...
só pra poder respirar essa mansidão
das horas escorrendo...
a música baixinho sibilando
e o estrondo
do meu peito espocando
em palavras que precisam
do silêncio pra viverem...