Vivendo no silêncio das palavras

Porque não cessa esse vozerio,

onde vou me esconder das línguas

que nunca se calam?

onde se esconde o silêncio que busco,

a paz das horas caladas?

Como vou ouvir os meus sons

se esse barulho me atropela...

choca-se com os meus irriquietos

pensamentos,

que querem bolir com meu corpo...

brincar com minha cabeça.

Queria que tudo ao meu redor se aquietasse

para eu mergulhar na imensidão

de palavras que borbulham aqui dentro

de mim.

Queria que as vozes só murmurassem

baixinho,

enquanto eu ouço os meus

burburinhos...

queria que só passos macios pisassem

por aqui...

enquanto eu passeio nas minhas

veredas,

colhendo versos.

Porque tantas vozes...

tantas falas...

prefiro os sussurros ...

a delicadeza dos arpejos

das palavras

bem entonadas...

compassadas e espaçadas.

Mas esse teatro de artistas falantes...

que gritam,

gesticulam e nem mesmo respiram

na ânsia de tanto falar...

me sufocam.

Essa voracidade pra engolir

os silêncios...

me incomoda...

porque a pessoas não deixam-no

pousar ...

porque não apreciam sua

plenitude...

ou antes porque não ouvem

mais os seu barulhos internos,

ao invés de só fabricarem armas

pra matarem o silêncio...

e fiarem sem cessar tantas palavras

sem graça,

feias para empanar

o seu brilho.

Ah como eu queria poder desligar

tudo ao meu redor...

só pra poder respirar essa mansidão

das horas escorrendo...

a música baixinho sibilando

e o estrondo

do meu peito espocando

em palavras que precisam

do silêncio pra viverem...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 28/05/2005
Código do texto: T20294
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