Entre o céu e a terra

Deve existir um céu além dessa terra...depois desse inferno, onde se possa

tocar nos fios suaves dos sonhos...deve existir algum jardim secreto...

com portas reservadas aos que procuram abrigo...

Após essas labaredas que queimam sem cessar...há de ter um oásis

de águas cristalinas...uma praia onde as ondas vem beijar os nossos pés

docemente...para aplacar as queimaduras da caminhada...

Não só de línguas de fogo devem ser feitos os dias e as noites do além céus...

nem só se queimam incensos humanos a guisa de sacrifícios...para o estrelato das virgens ou para curar o enfastio dos falsos arautos...

É preciso existir muito mais meu Deus que essa torre de Babel...essa polifonia que só de ensaios sobre o palco sobrevive...sedenta dos aplausos...para polir os egos idiotizados...nessa carência insana pelo poder...pelo simples prazer da repressão...do ato de humilhar...

Eu preciso acreditar que no limite que se espicha na linha dos horizonte ainda hei de encontrar mais que sorrisos...favos doces...falas mansas e sem pressa...nada de competir...nada de convencer...só sons entonados como se fossem melodias de fartas notas ...brincando nos meus lábios...passeando nos meus ouvidos...crianças que se roçam na pele sem maldade...

Ainda não desci do pesadelo...mas toco o céu com as pontas dos dedos...e faço da magia do sonhar pequenos pontos de luz que rabisco com as brasas desse inferno que crepita sob o meu caminhar...

Não creio num Deus que pune...não aceito meia felicidade...nem jogo pela metade...quero verdades plenas...amizade conselheira...que se dane a bandeira...pouco faço para manter a aparência...nada me compra a consciência...fujo desse algoz que se agarra aos meus calcanhares...

Eu aceito complacente os dias que se movem a minha revelia...eu me esqueço das chamas que me chamuscam...enquanto atrelo meus corcéis...