Um dia...

Um dia a gente aprende que nem sempre a solidão é ruim, que ela pode ser boa companheira, que dá prazer quando convidada e muito mais quando tranqüilamente aceita,

mas descobre que só é bom viver a solidão que é consentida, querida, quando, sabemos que não somos solitários por condição, mas por opção.

Um dia a gente descobre, que não queremos dividir nossos silêncios com mais ninguém, que gostamos cada vez mais do nosso interior, e que, se temos que fazer uma escolha, seremos nós mesmos os escolhidos.

Um dia a gente compreende que mesmo que as pessoas jamais nos entendam, não precisamos mudar, porque sabemos que em algum lugar de nós haverá alguém a se encaixar, sem que procure nos moldar.

Um dia a gente sente a necessidade de voar pra bem longe e sentir o cheiro de outras manhãs, porque amanhecer no mesmo dia e insistir em esperar por um sol que nunca vai nascer faz da nossa alma uma estrada vazia, sem relevos e sem contornos, e uma estrada sem flores torna-se desabitada, atrofiada e esquecida.

Um dia a gente reconhece que é incapaz de mudar algumas coisas, e que apesar de nos adaptarmos à elas, elas não se adaptam a nós.

Um dia a gente esquece que o mundo real não é tudo, e que além do que vemos existe um mundo intenso pairando acima das nossas misérias mortais; assim por descaso e falta de sintonia com o Cosmo, perdemos oportunidades que podem nunca mais nos visitarem.

Um dia a gente olha pra traz e vê o quanto já caminhamos, e percebe que falta tão pouco para alcançarmos a linha do horizonte, e ainda constata que há muito para realizar, e que muito ficou perdido no meio do caminho.

Um dia a gente percebe que tem que apressar os passos, mas que não deve fazer apressadamente nada, para não correr o risco de deixar de sentir o sabor.

Um dia a gente começa a olhar diferente as pessoas e os lugares, e por mais que tente se reconhecer neles, não consegue estabelecer contato.

Um dia a gente se olha no espelho e além da aparência física, vemos nossa alma refletida, nítida e mesmo não podendo tocá-la, sentimos sua textura e seu perfume.

No dia em que aprendemos a nos olhar por inteiro; corpo, alma e espírito, descobrimos quem somos, e no dia que descobrimos quem somos, aprendemos a nos respeitar.

No dia em que aprendemos quem somos e nos aceitamos como somos, aprendemos a nos amar incondicionalmente.

Porque um dia a vida passa como um filme na nossa memória, e antes mesmo de ter tempo de aprender como viver, a vida se acaba, inexoravelmente.

Um dia a gente não se acha em lugar nenhum, pensa que nem existe um lugar para nos abrigar, até que descobre que mesmo que seja muito doído, é preciso morrer para renascer.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 31/05/2005
Código do texto: T21131
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2005. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.