Diário II
Guarda minhas palavras, o meu diário...
como lembrança do meu sentir...do meu existir no teu meio...
Guarda cada uma das minhas emoções...cada uma das minhas lágrimas... emoldura cada um dos meus risos...seleciona cada momento que me dei em abraços...e conversas frouxas...
Lembra-te das minhas broncas...das minhas pequenas gentilezas...das minhas ausências...do meu jeito intempestivo de adentrar tuas falas...
Não te esqueças dos meus silêncios sofridos...das minhas reflexões murmurantes...
Pensa que várias vezes falei da minha crença...
da minha fé...tantas vezes me derramei em confissões...em juras...
Nunca te incomodes com o meu desconforto pelas
acusações...pelas insinuações..ou até pelos
pensamentos mal compreendidos...acho que criei algumas resistências...
Não te esqueças da amizade que dediquei a cada
um dos meus amigos...do abraço apertado...do
beijo estalado que à cada um enviei com carinho...
Tenha a certeza das muitas conversas ao pé do ouvido...das muitas alegrias e das outras tantas tristezas que compartilhei com cada um com quem estive...
Saiba que comigo morrem os segredos a mim confiados...tenha certeza da minha lealdade...da minha fidelidade...da minha eterna cumplicidade...
Sei que sabes tanto de mim...que desse livro aberto que sou...pouco faltou para dizer...
dessas minhas conversas transparentes...dessa minha urgência de ser...fiquei como um marco...
feliz ou infelizmente deixei rastros...deixei pegadas
que vão levar tempo para serem apagadas...
Ainda assim te peço...guarda as minhas palavras...
as que dediquei só a ti...as que nunca dividi...
guarda as minhas lembranças...meus
soluços de criança...porque ninguém me verá
como me vistes...ninguém jamais terá
o que é só teu...
Não te peço que lembre da mulher...e sim da poeta de alma livre de preconceitos...cheia de defeitos...de erros e transgressões...
Lembra dessa poeta que não sabe falar de guerras...
de ódios...de bichos...de acasos...que só aprendeu
a falar do amor que lhe corre pelas veias...