A TELEVISÃO NOSSA DE CADA DIA

Ô coisa boa é grudar na televisão! Fazer nada, ficar de papo pro ar, trocando de canal ou vendo qualquer inutilidade até pegar no sono... Ainda mais quando a gente se acha inteligente, e pra justificar o “vício”, fica criticando tudo, colocando defeito, achando mensagens subliminares e formas de manipulação pra todo lado. Mas o que a gente quer mesmo é ver! Eita povinho...

E aí eu me incluo. Interessante como a televisão parece um espelho. Ou é nossa vida que acaba se tornando um reflexo dela? No fim tudo acaba se misturando, e a gente não sabe mais o que é real, o que encenação, o que é “beijo técnico” ou amor de verdade.

O fato é que na TV nada é por acaso. Criar ilusões e alimentar o imaginário do povo é a função precípua deste meio de comunicação que há muito se tornou o mais popular de todos. E os profissionais de televisão procuram acompanhar as mudanças da sociedade, para que o poder de persuasão da telinha possa alcançar o maior número de pessoas. Sendo um meio de comunicação de massa, pretende não deixar ninguém de fora.

Um exemplo claro disso está sendo veiculado atualmente, num comercial de margarina. Até hoje todo comercial deste produto vinha trazendo uma família tradicional sentada à mesa pela manhã, filhos penteados e impecavelmente arrumados, um marido atencioso e bem humorado, a mãe que já acorda maquiada e penteada, sempre sorrindo, servindo a todos. Quando, na vida real, se encontra uma família que parece perfeita, é comum usarmos o bordão “parece família de comercial de margarina”.

Ao ver esta propaganda, eu que acordo mal humorada e descabelada, e tenho que chamar as crianças duas, três vezes ouvindo reclamações, enquanto tento arrumar a baderna que eles deixaram na casa no dia anterior, sinto uma ponta de frustração! E duvido que esteja sozinha ao pensar assim.

Esta propaganda nova, lançada por uma forte marca de margarina no mercado brasileiro, inovou. Mostrou uma jovem mãe que leva o namorado em casa para o filho conhecer. O menino enfrenta o pretendente da mãe, diz que está de olho nele, e ainda guarda o pote de margarina, enquanto sai para o quarto puxado pela mãe, certamente para ganhar uma boa bronca. A avó, vendo a cena, fecha o comercial dizendo que o netinho é careta. Olha aí a equipe de marketing desta empresa acertando em cheio na veia das brasileiras que, num número ascendente no Brasil, enfrentam situação semelhante. Não, nada é por acaso. A gente é que não percebe. A televisão nos mostra e nos transforma, num movimento de ida e volta que já nem distinguimos mais. Que margarina eu vou comprar? A que se parece mais comigo, oras!

Fazemos sem perceber. E assim vamos sendo conduzidos mansamente, de um modo abstrato tentando nos convencer de que estamos conscientes no processo. Estamos? Quanto do que fazemos é influência, quanto é escolha consciente? Sei lá... só sei que agora preciso ir. Começou a novela!