A FEIRA
Nos Olhos uma janela aprontando um tigre do Amazonas
Tanta água imprevisível de beleza insegura
Na pele uma vasta textura de juventude condenada
Os respingos de suor adocicando um saco de frutas
E a pele morena segundo a conduta
Escondia em labirintos a dor do não amar
Mas aquela moça era tão ocupada em segurar o mundo
Que seu coração grande e de buracos profundos
Não conseguia mais nada guardar
Além do troco, do colo ocupado
Do sofejo morto a palo seco num sol danado
As mãos elásticas estavam de modo que pudesse a qualquer um Acalentar
Aquela feira era de Mangaio, de amores, de mandinga, fruta-cores
Reluziam nos olhos a vontade de se alimentar
A seiva bruta que melava os pés da menina era vaidade
Pro povo lá de cima que apodrecia sem usar
Nem os passarinhos voavam lá pra cima
Pr'eu num sujar minha rima
Pr'eu não saber o que tem lá
No seu voo rasteiro ele piava o dia inteiro
E a menina de joelhos colhia um sonho pra sonhar
Onde os meninos em vez de acaso, tinham Prumo nas mãos
Em vez de descalços, tinham pés no chão
E uma ruma de núvem pra brincar
Onde não existia povo de cima nem de baixo
Onde nem céu nem inferno contrastam a vontade de arribar.