A FEIRA

Nos Olhos uma janela aprontando um tigre do Amazonas

Tanta água imprevisível de beleza insegura

Na pele uma vasta textura de juventude condenada

Os respingos de suor adocicando um saco de frutas

E a pele morena segundo a conduta

Escondia em labirintos a dor do não amar

Mas aquela moça era tão ocupada em segurar o mundo

Que seu coração grande e de buracos profundos

Não conseguia mais nada guardar

Além do troco, do colo ocupado

Do sofejo morto a palo seco num sol danado

As mãos elásticas estavam de modo que pudesse a qualquer um Acalentar

Aquela feira era de Mangaio, de amores, de mandinga, fruta-cores

Reluziam nos olhos a vontade de se alimentar

A seiva bruta que melava os pés da menina era vaidade

Pro povo lá de cima que apodrecia sem usar

Nem os passarinhos voavam lá pra cima

Pr'eu num sujar minha rima

Pr'eu não saber o que tem lá

No seu voo rasteiro ele piava o dia inteiro

E a menina de joelhos colhia um sonho pra sonhar

Onde os meninos em vez de acaso, tinham Prumo nas mãos

Em vez de descalços, tinham pés no chão

E uma ruma de núvem pra brincar

Onde não existia povo de cima nem de baixo

Onde nem céu nem inferno contrastam a vontade de arribar.

RosaLeonor
Enviado por RosaLeonor em 17/03/2010
Reeditado em 13/08/2011
Código do texto: T2143937
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