REFLEXÕES SOBRE A FÉ

Esquisito esse negócio de fé, religião e seus agregados. O homem, ao longo da sua caminhada, sempre buscou explicações, e até justificativas, para o que estava distante do seu raio de visão, numa atônita tentativa, em vão, de resgatar o fio da meada que pudesse convencê-lo de quem está por trás desse show, ou mesmo se existe um dono desse show.

O mesmo homem, com sua fabulosa necessidade de manipular quem pudesse, e até quem não pudesse, fez dessa busca o prato cheio para difundir regras, impor conceitos, montar engrenagens poderosas e, sobretudo, arrecadar dinheiro e gerar poder.

Não cabe, nessa humilde tentativa de um rápido ensaio, entrar no mérito do que é certo, ou não é certo. Nem, tampouco, contestar as supostas procurações que tantos líderes religiosos atribuem a si próprios como se tivessem sido emitidas pelo Criador e registradas em todos os cartórios do Universo, dando-lhe plenos e divinos poderes para conduzir o rebanho a seu bel prazer.

Cada um é dono do seu destino e as escolhas podem ser feitas quando quisermos, bem como mudarmos o curso das nossas vidas quando bem entendermos.

O ponto crucial dessa abordagem é tentar refletir e compartilhar com você uma dúvida que há tempos castiga meus pensamentos, como algo que vem e vai, sem nunca consegui clarificar plenamente de forma que sossegasse essa inquietação sem trégua. Explico: até que ponto precisamos dessa "muleta" para nortear o nosso cotidiano, até que medida se faz realmente necessário nos submetermos a algo maior, abaixarmos a cabeça diante diante de algo que não nos foi formalmente apresentado e que deveria ter, para nos, todas a prerrogativas de algo concreto, palpável de fato.

Tive formação judaica, certamente reforçada pelo fato de meu pai ter sido prisioneiro de Campo de Concentração e ter perdido seus pais e irmão pelas mãos tão eficientemente assassinas dos nazistas.

Minha esposa é Mormon, e frequenta a sua igreja com afinco, à qual entrega certamente muitos dos recantos da sua alma, talvez até alguns que eu desconheça. Esse cenário, por si só, já configuraria o enredo para um campo de guerra ou, por certo, o atalho infalível em direção a um casamento fracassado, ou eternamente em ebulição, ou rebulição.

Pois ocorre justamente o contrário. Estamos há quase 20 anos juntos, temos as nossas pedras no sapato, mas somos um casal feliz e que se ama.

Nossos filhos, 10 e 14 anos, conhecem as referências religiosas dos seus pais e, por uma questão natural, têm maior afinidade com o que é passado através da mãe, mas dentro do possível o pai também tenta vender seu peixe sem, no entanto, configurar uma disputa ou algo nesse sentido.

Nada contra os Mórmons, que pelos anos de convivência até passei a gostar e admirar, apesar de não concordar com sua incansável ânsia proselitista que, como grande parte das coisas que os americanos fazem, é bem organizada, eficaz e funciona.

Só que não é a minha praia. Sou judeu, vou morrer judeu, mesmo que fique séculos sem ir à uma sinagoga.

Nas horas em que é preciso resgatar toda essa cultura milenar, a morte do meu pai foi um forte exemplo disso, aquele sentimento supostamente frágil e esquecido, aflora com a garra dos grandes Patriarcas.

E aí, confesso, resgato a mesma "procuração" fornecida pelo dono do show na hora em que Moisés recebeu as suas Tábuas da Lei e faço o que entendo como certo, como justo e como necessário. E essa procuração ninguém vai tirar de mim jamais. Jamais.

Hoje compreendi, conversando com um casal amigo de médicos, que meus filhos farão suas próprias escolhas, momentâneas ou definitivas.

E isso vai acontecer no seu tempo, seja ele qual for.

Quanto mais quiserem (ou quisermos) lhes impor ou direcionar os seus caminhos, a sua alma será soberana para determinar o que, de fato, será verdadeiro para eles. E isso não terá como ser manipulado, induzido ou tirado do seu verdadeiro rumo.

Eu posso até querer insistir em compartilhar com eles o que trago embebido na minha história, mas a história deles fugirá da nossa intenção, dos nossos esforços, sejam eles quais forem.

O que quero, de fato, é que sejam pessoas dignas e felizes. Que construam suas trilhas nessa vida com alegria, que tenham energia suficiente para ir em frente quando os ventos teimarem em vir ao contrário.

O resto não tem a menor importância.

Conheça o meu blog www.vidaescrita.zip.net Agradeço pelos seus comentários e, caso possível, ajuda na divulgação.