Leves Fragmentos Solitários - LXXVII

É engraçado você ver um comercial falando de vacina contra a banalização. Passei os últimos 20 anos batendo nessa tecla, falando, agindo, escrevendo, brigando literalmente contra o excesso de abobrinhas enfiadas goelas abaixo de todo mundo, para ver um comercial vendendo um jornal com um suposto antídoto contra a banalização, como se ela não tivesse sido martelada constantemente na cabeça das pessoas. Há muito mais de 20 anos, o chamado poder vem tomando a tudo & a todos por perfeitas bananas, descascando ao bel-prazer, conduzindo essa massa como gado, ou carga, para ainda ficarmos nas bananas, fazendo gato & sapato de todo, impondo seu “modus operantis”, sua incultura, seu sistema de desalfabetização, sua miséria econômica para enriquecimento mais do que ilícito daqueles poucos próximos do feudo. Aliás, o sistema feudal nunca esteve mais presente nestes tempos, como nesse “patropi”, parafraseando outros indignados. Um sistema de castas pérfido onde sempre prevaleceu a merda do “levar vantagem”, sobrando para a massa aquelas festi-atividades momescas, o futebol, a cachaça, além de fome, fraqueza, discriminação, borracha nas costas, cadeia, bala perdida, doenças, & agora, um verdadeiro coquetel molotov de drogas, acidulantes, conservantes, & outros híbridos alimentícios, que estão desmiolando cada vez mais. O sujeito é um infeliz, desempregado, magro feito vara-pau, & com triglicéris & colesterol alto, sujeito ao diabetes, a aids, a febre amarela, malária, dengue, & toda sorte de infecções hospitalares que se possa imaginar, mais um punhado de outras escrotidões. Aí vem um figurão, daqueles bem “filho”, em época de eleições, pedindo seu voto de confiança, oferecendo uma camiseta de quinta categoria, uma cesta básica de validade duvidosa, querendo se eleger com mais um monte de promessas vazias. Hoje, 21 de maio de 2000, a briga só está começando. E ainda passamos por bananas.

Peixão89

Leves Fragmentos – 1999-2000