Boa Noite Ateneu

Eu conheço tanto essas paredes e cada palmo desse chão...eu conheço um a um esses rostos e suas esperanças...sei de cada riso e cada lágrima...

Eu já senti os seus cansaços...vi esses fios de cabelo enbranquecerem...

Quantos silêncios nós já enfrentamos juntos...e quantos gritos tivemos que abafar...

Já tiramos férias de nós mesmos...já nos abraçamos de saudades depois de só um dia distantes um do outro...

Um dia eu fui embora...mas eu voltei tonta de alegria...

Lembra quantas vezes choramos juntos? E as muitas vezes que aqui me emocionei...

isso eu não vou me esquecer ....

Olho ao redor...e eu me assusto...essa casa tem o cheiro dos seus moradores...

a mesa sempre está posta...mesmo quando não há convidados...

a toalha alva de linho sempre engomada ostenta o prato principal...poesias....

Sobre balcão onde os copos vão sendo depositados um a um...resta uma saudade...

que adormece nas marcas dos batons...e dos risos impressos nos copos e taças...

As velas que queimam nos candelabros...não deixam de verter lágrimas chorosas

nem um dia...porque ao redor delas...há sempre alguém declamando um poema...

O charme da meia luz faz o clima para as serenatas que se estendem pelas madrugadas...

há sempre alguém de plantão pra tomar a última dose...

Eu conheço os passos dos habitantes dessa casa...sei quando se aproxima cada

um...sei daqueles que preferem o isolamento para pensar...dos que sempre andam

com livros à mão...

Quando caminho por aqui...gosto de um dedinho de prosa com cada um...os gulosos

sempre encontro na cozinha revirando a geladeira...há os que preferem ler na rede...

os que preferem noticiários...os que cuidam de abrir as janelas e encher os jarros

de flores...tem sempre alguém bailando ou cantando no salão...alguém atento estudando...

Não é uma casa grande, é bem verdade...mas tem tantos espaços...

e pessoas sempre produzindo algo novo...

As vezes o ânimos ficam exaltados

e nem servindo porções de trovas...se consegue acalmar...

Moro há tanto tempo nessa casa...desde quando ela foi construída...já passei

alguns natais aqui...já soprei velinhas algumas vezes...quando estou triste...eu me

sento em algum canto... em frente a janela...e deixo a alma vagar...

trago a lua pra iluminar a solidão desse meu momento...

e quando entro como um furacão ...de longe ouvem os meus risos escancarados...

Há tanta vida nessa casa...tanta história pra contar...e seus moradores são

poetas de fino trato...seus nomes brilham no livro de visitas sobre o console...

e suas poesias ecoam como melodias ...que além dessas paredes...

voam no vento espalhando o pólem para florir em outros canteiros...

Esse é o meu chão...a casa onde passeio descalça...e tenho orgulho de

morar...

Boa Noite Ateneu

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 03/06/2005
Reeditado em 04/07/2005
Código do texto: T21772
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