Desafio no Tribunal ( parceria deliciosa)

Dei-te um pedaço do meu coração

Todos os beijos que consegui

Franqueei tua entrada na minha vida

Rasguei nos meus versos pura emoção

E até aqui o que eu mereci?

Uma amostra de amor esmaecida...

Eu quero o amor que não me deu

Os beijos e afagos que espero

O aroma doce da tua pele úmida

Tuas manhãs no corpo meu

O pouso dos teus olhos que venero

Na minha tez túrgida

Não quero o apupo nem o tablado

Não quero ser vaso de cristal

Não quero ser a porcelana rara

Quero amor entusiasmado

Nunca em nada parcial

Alarme que meu corpo dispara

Incendeia e me faz servil

Consome o ventre em brasa

Enche-me a alma de pecado

E de desejo juvenil

Amor que me dá asa

Dentro do abraço apertado

Cheirando a corpos saciados

Desejos e beijos molhados

Eu quero deste amor a minha parte

Inteira e intacta

Para eu me fartar com arte

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RECLAMAÇÃO AMOROSA

Cleide Canton

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR

JUIZ DE DIREITO

DA ÚNICA VARA

DOS LITÍGIOS DE AMOR.

Senhor!

Eu, Fulana De Tal,

de endereço já mencionado,

qualificada nos autos,

venho requerer

de Vosso Juízo o parecer.

Do fato:

No uso do pleno direito

de cidadã de respeito

e invocando o princípio

do dar e receber,

confesso sem temor

que entreguei meu amor

ao Fulano de Tal,

de cidadania nacional,

aqui domiciliado,

comprobatoriamente empregado.

Acontece, Senhor Juiz,

que não sei bem se o que fiz

merece deferimento.

Não tenho contrato assinado

nem testemunha do fato consumado.

Fiz o que fiz

simplesmente porque quis.

Entreguei meu amor

a esse mencionado senhor

que o recebeu por inteiro

( sem vícios redibitórios)

principal e acessórios.

Recebeu e não contestou

e pelo visto gostou.

No presente, sem justificar,

resolveu me abandonar

e o receber

fiquei por merecer.

Do direito:

Ora, se assim entendo,

as leis do amor que defendo

encontram-se elencadas

no artigo primeiro

que transcrevo por inteiro:

"O amor que é doado

por coração apaixonado

merece ser compensado

e pela lei amparado".

Do pedido:

Requeiro seja a parte condenada,

devolvida aos meus braços algemada,

sem direito a contestação

e sujeita ao meu perdão.

Que seja o delito apenado

por tempo indeterminado

Nestes termos

P.Deferimento.

SP, 20/01/2004

15:17 horas

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ARGUMENTOS

Angélica T. Almstadter

Minha cara e nobre advogada

Que docemente abraçou minha causa

Outorgo-lhe o direito de publicar

Se preciso for em edital público

A causa acima referendada

Que da minha pauta fica em pausa

Com direito de replicar

Buscando no peito o prazer lúdico

De lutar pelo amor do ingrato

Que devidamente identificado

E categoricamente qualificado

Se escafedeu no ato

Deixo aqui também registrado

Para o nobre magistrado

Que o coração aqui ofertado

É verdadeiro de fato

Um coração poeta de plantão

Sem defeito ou avarias

Entreguei-o cheio de poesias

Pelas quais exijo compensação

Segue também em anexo documento

Comprobatório do amor exato

No período correlato

Sem remendo e a contento

Do apaixonado cidadão

Antes que se promulgue a sentença

Ou que se puna o raptor

Revogo o direito à desavença

Em nome desse amor

Que foi entregue de alma pura

Ainda que por tempo escasso

Livre de embaraço e censura

Para que siga livre o seu passo

Amor incondicional entreguei

E se não trouxe ventura

Nem de longe mais reclamarei

Quem tanta queixa atura?

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PERDAS E DANOS

Cleide Canton

Meritíssimo!

Alega a requerente

que o cidadão inconseqüente

está livre para voar

e não precisa voltar.

Entregou-lhe o objeto do litígio

de maneira incondicional

desprezando o que é legal

sendo de sua vontade,

num gesto de pura bondade,

que o requerido seja libertado

e da pena liberado.

No entanto,

depois de muitos enganos

recorre a perdas e danos.

O coração machucado

ficará por tempos hibernado

sofrendo desencantos,

entregue aos próprios prantos.

É de justiça,

partindo dessa premissa

que se mova outra ação

exigindo indenização.

O quantum a ser discutido

deverá deixar o bandido

com suas calças na mão

sem direito a apelação.

Novamente e de pleno direito

exijo,com todo o respeito,

que se apure a verdade dos fatos

dando-se seqüência aos atos

sob pena de serem aceitos

o alegado e seus efeitos.

Nada mais a declarar

que não se tenha de esperar

muito tempo pelo sentença

acatando a reclamação pretensa.

SP, 20/01/2004

21:14 horas

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SOBRE A APELAÇÃO

Angélica T. Almstadter

Minha nobre amiga causídica

Sei da validade da vossa apelação

Louvo a atitude delicada

Por essa causa tão lúdica

Envolvendo meu ilustre coração

E minh´alma tão prendada

Entretanto, volto a lembrar

Que o infrator aqui relatado

Foi um gentil namorado

Mestre na arte de amar

E por tantas qualidades dotado

O meu objeto de desejo

Deve ser imediatamente perdoado

Abro mão dos meus direitos

E nesse ato ensejo

Que ele repense a questão

Ponha de lado meus defeitos

E me retorne ao coração

Com amor redobrado

Emérita advogada e excelentíssimo sr juiz

Venho requerer junto a vossas senhorias

O fim da apelação em curso

Pois pelo muito que já fiz

Sem conseguir reverter essa questão

Ouso lutar com minhas poesias

Como sendo meu último recurso

De reconquistar o cobiçado coração

Amo esse homem com loucura

Mas não quero senão por amor

A volta dessa paixão e ternura

Do meu amo e meu senhor

Dispenso auxílio judicial

Nessa empreitada amorosa

Entendendo ser prejudicial

Na nossa reconciliação ardorosa

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DESISTÊNCIA DA AÇÃO

Cleide Canton

Como pudemos notar

nessa questão de amar

mais vale um acordo acatar

do que a demanda continuar.

O requerido é bom amante

e mesmo não sendo constante

derrubou a apelação

do sofrido coração.

Desiste a requerente

embora ação consistente

de quaisquer direitos legais

no agora e nos finais.

Seja o dito advertido

que não será argüido

mas que deve repensar

e sua atitude mudar.

Data vênia , vou perguntar

após a sentença acatar

e pelos trâmites vários:

De quem cobro os honorários?

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DESPACHO DO JUIZ

Marcial Salaverry

Data vênia, participo a nobre causídico,

em seu tempo devido,

que o pedido anulatório fica indeferido.

Sem que vá aqui uma crítica,

mas a Justiça não pode ser ocupada,

sem uma causa justificada...

Pela ação arrazoada,

em que a pretensa vítima se dizia arrasada,

não pode haver mera desistência,

tenha a santa paciência...

Esta causa apresentada,

não será assim terminada...

Existem despesas a serem ressarcidas,

e essas dívidas que são devidas,

por alguém serão pagas,

ainda que venha de outras plagas...

Decidam vítima arrependida,

e causídico conivente,

a quem caberá pagar o presente

débito ora apresentado...

Ou então a Justiça será feita,

ainda que não de forma perfeita,

e o pretenso réu,

irá ficar preso, aqui ao léu...

Pois se causa em princípio houve,

que a Justiça seja feita, e se louve...

Fica assim definido...

E revogam-se disposições em contrário...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 03/06/2005
Código do texto: T21817
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