Lembranças da minha saudade

Já não haviam mais bilhetes

pendurados atrás da porta,

nem recados amassados

displicentes sobre a mesa...

não haviam mais esperanças

do telefone tocar,

e a mesma voz,

que me fazia estática,

a sussurrar meu nome,

como mais ninguém sabia.

Todas as fotos agora repousavam

na gaveta...

não longe do alcance dos meus

olhares...

mas discretamente silenciosos,

longe das perguntas;

que certamente viriam.

Uma febre queimava minha carne,

que em suores abrasados,

lembravam que meu corpo

continuava vivo,

e mesmo sem entender

que agora era um templo vazio...

cheio de ecos...

onde sobre seus altares

só ardiam incensos.

Hoje ainda sinto tremores...

ao adentrar ansiosa por essa porta,

a luz parece

não ter o mesmo brilho de outrora,

quando refletia teus olhos

perguntadores.

Sinto cheiros misturados...

o perfume amadeirado do teu corpo...

se compõe ao meu...

que ainda é o mesmo....

que tanto te atraía...

o mesmo que gostavas de sentir

ao me abraçar,

quando beijava-me a nuca...

só para ficar dele mais pertinho.

Hoje quando me abandono

nessa cadeira tão fria...

primeiro tenho que dominar o impulso,

de espalhar minhas poesias,

tantas palavras e sensações

que guardava com mimos para ti.

preciso centrar meus desejos.

Minh´alma livre te encontra onde for,

mesmo quando não estás ao alcance

dos meus olhos curiosos.

Ainda que não encontre

mais nenhum rastro de ti nos tapetes

por onde tenho andado...

que não te veja nos espelhos dessa cidade...

sinto tua respiração compassada,

e o gosto da tua boca no néctar

da minha fruta predileta.

Vivo agora das lembranças...

que sei que não partirão...

pois as rego, todos os dias

para me manter viva...

até a tua volta...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 03/06/2005
Código do texto: T21879
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