MODERNISMO e MODERNIDADE, Ensaio Filosófico

MODERNISMO e MODERNIDADE – em sentido geral, estes termos são o oposto de Clássico, Tradicional e do apego aos valores estabelecidos. O Modernismo pode-se dizer, descende em parte do Racionalismo, principalmente, em relação à valorização dada ao “Espírito Critico” que examina, argumenta, questiona e só aceita alguma tese se ela tiver como base argumentos racionais, lógicos e NÃO aqueles baseados em crendices, em crenças e em tradições de fé ou sociais. Em conseqüência, o Modernismo prega com ardor o respeito aos “direitos humanos”, aos avanços da ciência, à liberdade de idéias e de expressão e o fim do obscurantismo religioso e da ignorância dele derivada, que foi a tônica da Idade Média.

Em termos de Filosofia, essa nova forma de Pensamento e de ver o Universo, com o Homem incluso, é claro, foi inaugurada pelo Renascimento, em contraponto à Escolástica1, e floresceu progressivamente nos séculos XVI e XVII com gênios do porte de FRANCIS BACON, GALILEU GALILEI, RENE DESCARTES, dentre outros, até aportar no inicio do século do XX, quando também repercutiu em nosso País, como se verá adiante.

O Modernismo como Sistema pode ser definido como a Doutrina que defende a renovação no pensar, o avanço cientifico e o rompimento com o passado, ou mais precisamente com o passado imediato, da Idade Média; pois, quanto ao mais distante, o que houve foi um resgate do esplendor intelectual da Grécia Clássica, do brilho mágico da Cultura Helênica (de Hélade, o nome original da Grécia).

Dentre esse ideário, destacam-se as teses do começo do século XX de BLONDEL (1861/1949, França) e de LABERTHONIÈRE (1860/1932, França) que propunham renovar a maneira de se interpretar o Cristianismo, despindo-o das antigas tradições mediante a utilização de novos métodos de estudos e trazendo a fé cristã para a realidade da época. Porém, tal tentativa encontrou feroz resistência e acabou sendo condenada, em 1907, pelo Papa Pio X, através da Encíclica “PASCENDI”. Essa condenação, todavia, serviu como propaganda para o Movimento que a partir daí se consolidou em definitivo.

No Brasil o Modernismo teve como “festa de lançamento” a célebre “Semana de Arte Moderna” de 1922, em São Paulo. Nela, novas formas literárias, formatos esculturais e arquitetônicos, arranjos e acordes musicais e todo o restante que compõe o “Mundo Artístico” foram expostas, através da geração de novos poetas, pintores, escultores, dramaturgos, cineastas etc. que rompeu com tudo que era considerado “Clássico” e/ou “Tradicional”. Inauguraram estes gênios, do porte de CARLOS DRUMOND DE ANDRADE, OSWALD e MARIO de ANDRADE, TARSILA DO AMARAL, PAGU e tantos outros, o chamado “MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO”, titulo inspirado na Antropofagia que algumas tribos indígenas praticavam no Passado. Para essas tribos, devorar o inimigo morto em combate trazia ao comensal a força e a coragem do falecido. Fizeram, pois, o mesmo com as novas tendências filosóficas, literárias e artísticas que já vigoravam na Europa, como o “Dadaísmo”, o “Surrealismo”, o “Futurismo” etc. Absorveriam (ou devorariam) esses novos ventos e o “traduziriam” em arte genuinamente brasileira, com ênfase no folclore e nas manifestações populares. Claro que de inicio a rejeição a essa proposta foi ferrenha e até exaltada, não faltando enormes vaias, arremesso de tomates, boicotes e coisas do gênero. Contudo, a nova Estética veio para ficar e o Modernismo foi abraçado pelos brasileiros que, malgrado as imperfeições, descobriram-se capazes de fazer Arte, sem menosprezar as grandes contribuições do período Clássico.

Na atualidade o Modernismo sobrevive e dá espaço para novas experimentações; as quais, diga-se, ganharam um novo canal de importância fundamental: a Internet. O veículo que me permite escrever o que você está tendo a bondade de ler.

Todavia, com o avanço da tecnologia novos problemas surgem e um deles, especialmente, é alvo de um conflito de idéias que selecionamos para apresentar, por crermos que ele resume as dualidades do Movimento Modernista: o embate entre os Pensadores LYOTARD (1924/1998,França) vs. HABERMAS (1929, Alemanha) sobre a interpretação da Sociedade, da Arte e da Cultura:

• LYOTARD2 – foi quem introduziu a noção de uma condição ou de uma situação “pós-moderna”, que, para ele, é uma necessidade para que se possa avançar para além da “Modernidade” no que ela tem de “Crença na ciência ou na tecnologia” e de “endeusamento da Racionalidade”. Para o filósofo, essas teses são, na verdade, apenas outra forma de subjugar o Indivíduo na medida em que o Homem atual “tem (sic)” de acreditar nesses valores para não ser rejeitado e acusado de atrasado, inculto, vestuto. Essas duas formas de opressão estão colocadas de tal forma que discordar de qualquer uma é “afrontar o progresso”, como se “progresso” fosse apenas o acúmulo de riquezas e modismos superficiais que o uso exclusivo da Razão pode proporcionar; afinal, a ausência de valores éticos, típica da fria Razão, favorece os gestos mais sórdidos, ainda que legais, para que o infrator se locuplete de quem explorou. Prossegue LYOTARD, dizendo que as características principais da Modernidade, “as crenças na Razão e na Tecnologia”, são apenas os novos formatos dos grilhões que sempre aprisionaram os indivíduos, fazendo-os seguir conforme a marcha do rebanho. Propõe como rota para a “pós-modernidade” fomentar o nascimento de um Movimento similar ao “Romantismo” de Rousseau (1712/1778, Suíça) que em oposição ao Racionalismo de seu tempo, introduziu a valorização do lado emocional, sentimental, “espiritual” do Homem. Para LYOTARD, a revalorização do Sentimento e da Arte (com o devido repúdio ao reles entretenimento) trará aquilo que o Ser Humano tem de melhor: a sua liberdade traduzida em criatividade.

• HABERMAS2 – defende, contrariando LYOTARD, que o “Modernismo” não é um projeto pronto, um movimento acabado ou esgotado, sem mais nada para oferecer. Para ele, a noção da Modernidade, com suas propostas principais, têm que avançar ainda mais, pois só com a progressiva valorização da “Razão Critica (ou do Raciocínio capaz de julgar, questionar, argumentar, exigir comprovação etc.)” é que o Homem obterá sua efetiva, e talvez definitiva, alforria ou libertação das antigas ideologias funestas e da dominação Político Econômica.

1 – Escolástica (Corrente Filosófica que surgiu a partir da Patrística, a filosofia dos Padres da primitiva Igreja Católica. Seu principal objetivo era conciliar os dogmas da Fé com o Raciocínio ou Razão).

2 – Aos (as) interessados (as) em aprofundar o Estudo sobre os filósofos LYOTARD e HABERMAS, sugiro o Blog abaixo cujo autor é especialista em filósofos da Contemporaneidade.

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