Deixas Solitárias - V

Para ver a banda passar.

É assim que nos encontramos hoje.

Passaram-se tantos anos, juntaram tanta informação & conhecimento, mais parecendo desconhecimento, pra ficar de bobeira, com aquela baita cara de besta, vendo a banda passar. E olha que o desfile é gigantesco, para não dizer, também, dantesco.

Passaram os anos 50, que sinceramente, vi muito pouco, se é que posso lembrar de alguma coisa nos fins de 59. Passaram os anos 60, que pela ignorância, nem dava para saber o que é que realmente estava passando na frente das primeiras imagens da velha TV preto & branco. Mal me lembro de um par de cadeiras voando pelas janelas de uma faculdade lá da Maria Antonia. E o chumbo cada vez mais pesado.

Passaram os anos 70 na base do “Ame-o ou deixe-o”, que porra, era brincadeira de criança, tamanho o lacre na boca de todo mundo. Sem contar aquela estória toda de “milagre”, que pelo menos lá em casa nunca vi acontecer, pela quantidade de horas que a mãe tinha que trabalhar, para mal conseguir colocar uma mistura na “marma” que carregava, além de quebrar as costas, costurando até não agüentar mais para ver se conseguia juntar um trocadinho a mais para cortar o cabelo dos dois magriças que ainda tinha que acabar de criar.

Passaram os anos 80, com aquelas “sarnas” todas batendo panela em tudo o que era canto, & o tamanho da grana era cada vez mais curta, com cada vez mais impostos, sendo impostos goela abaixo em nome de não sei que porra, que aqueles porras do congresso tinham sempre que inventar.

Passaram os anos 90, com toda aquela merda colorida, que deu a merda que deu, colocando no rabo de todo mundo, enfiando o nosso dinheiro, sabe-se lá onde, & depois, com os topetudos & beiçoludos de plantão querendo colocar a coisa em ordem, para entupir cada vez mais as ventas, nossas ventas, com todo esse mal-cheiroso “irreal”.

Finalmente dobramos o cabo da boa desesperança, desembocando sem eira nem beira em 2.000, tentando comemorar o massacre dissimulado pela invasão, que muito falam em descobrimento, mas no fundo foi invasão mesmo, com festas e mais festas, carnaval temático, propaganda temática, & novela temática, & outras tantas porras temáticas, enquanto os caras, basicamente os mesmos, que vem mamando nas gordas tetas do desgoverno, desde 1950, alguns até antes, continuam dando, melhor colocando as cartas onde melhor lhe provém o bolso.

Tocando um grandessíssimo “foda-se” para toda a galera, pouco se importando se vai ter outra seca no nordeste, afinal, pra que se importar com tudo aquilo. Se ainda está inundando o Rio, Belo Horizonte, São Paulo; eles (nós) que se virem com os “piscinões” da vida. Se a energia elétrica vai ser suficiente para segurar o tranco nos próximos anos. Se o pessoal está queimando água fluoretada em descarga de banheiro, ou lavando calçada & carro, afinal é baratinho mesmo, tratar água, não é. Se o que se está jogando ralo abaixo vai empanturrar em algum lugar, também não tem importância, afinal, os rios estão aí para isso mesmo & não é na casa deles que as coisa vão ficar boiando. Se placebo e princípio ativo é tudo a mesma farinha, & o povo tem mais é que ficar com cara de tacho, afinal, eles, quando precisam de alguma coisa, vão buscar lá fora mesmo.

Se a passagem de ônibus tem custo de primeiro mundo, com serviço de quinta categoria, também não tem importância, afinal, eles não usam condução, melhor, transporte coletivo, mesmo. E quando eles falam de alguma coisa que o povo vai ter que usar é como se estivessem fazendo o maior favor do mundo, vide a nossa saúde pública, que é obrigação do “estado”, mas que, por não solapar impostos suficientes, jogou a saúde para privados, que privam o povo de uso com seus custos abusivos.

Se a aposentadoria ficar tudo nivelada em “sem” dólares, para eles também não têm importância, afinal a importância que eles levantam todos os meses é bem diferente do que o “vagabundo” do aposentado, que se ralou por mais de 35 anos, vem ganhando, se é que consegue se aposentar & ainda receber alguma coisa. E “eles” ainda acham que trabalham demais. Três dias por semana, quando não dão cano, sem contar os in-jetons, para aprovar mais um aumento de salário, o deles é evidente, ou outra forma de cobrar mais imposto.

Como muita gente diz, o feudo tem que prevalecer com suas regalias. E o resto que se contente com o carnaval, com as missas marteladas da vida, com as novelas da vida, com os programas-escrotos de “passa ridículo trouxa” da vida, com os enchi-sásticos da vida, com a “rataiada” da vida, e outras tele-coisinhas da vida, socados em suas vidinhas desprovidas de qualquer tipo de vantagem, “eta” palavra maldita.

Parece só reclamação. Não, não é só reclamação. Isso faz lembrar daquela piada em que um indivíduo chegou até Deus, questionando, por que “Ele” tinha colocado vulcões na Europa, terremotos na Ásia & na América do Sul, furacões na América Central & na Oceania, desertos na África, & no Brasil uma terra fértil, linda & sem nenhuma dessas catástrofes. E que “Ele” respondeu de pronto: - Sim, está quase perfeito, mas você precisa ver o povinho que vou colocar lá!

Céus! O povo é maravilhoso, mas em compensação, a trolha de políticos, e é a sua grande maioria, que acabou gerando é que dá um nojo violento. Além de atirar tudo quanto é tipo de tortas, devemos é praticar um grande boicote contra essa... Cambada, para ficar por aí. Ainda querem comemorar o que?

Luiz Carlos Lopes, 29/02/2000.

Peixão89

Deixas – 1998-2000

Peixão
Enviado por Peixão em 13/04/2010
Código do texto: T2195055
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