Violência ( homenagem as mulheres)
Como te acusar de violência, se não tenho hematomas para exibir...se tenho a pele limpa
e nenhuma fissura ou vergão?
Como explicar essa prisão, se não se pode
ver as grades?
Não ando atada, nem tenho algemas nas mãos,
mas quem pode garantir que sou livre?
O assalto dos pensamentos, o estupro da individualidade e a violação da intimidade
não é visível aos olhos dos passantes...
A intimidação, a coação a ameaça velada
te garante a supremacia de macho, mas não te dá
o lugar de homem no meu coração;
esse ato canalha e boçal não deixa pistas...
e põe um brilho sarcástico no teu olhar...
O quanto ainda passas por perpetuador da espécie, senhor, amo e soberano enquanto mantém tua vítima aprisionada ao medo...
Teus direitos sempre são sagrados, só eu não posso ir e vir sem pedir consentimento...
Simulas como cansaço a tua indolência, como mero esquecimento a tua negligência...enquanto
um esquecimento meu vira motivo de punição...
O meu direito de pensar e decidir é considerado rebeldia, só a ti o direito de expor pensamentos
e decisões...
O que me sobra senão o segundo plano?
Os nãos são todos privilégios teus, e os meus sins deve ser sempre ao teu favor...
Que mundo é esse que te dá direitos e a mim deveres?
Comunhão ou privação de individualidade?
Casamento ou título de propriedade?
Amor ou posse?
Violência sussurrada atrás da porta,
em doses pensadas e meticulosamente estudadas...essa que não te acusa, por falta de provas...