A internet e a livre aprendizagem

Livre para aprender

A educação deveria ser sempre apresentada como algo livre, interessante, e não como algo obrigatório. Tudo que é obrigatório é chato. Ora, por que algo prazeroso haveria de ser obrigatório? Ir ao boliche, assistir a um filme no cinema, namorar ou jogar uma partida de futebol com os amigos não precisam ser obrigatórios, fazemos por que queremos, por que gostamos de fazer. Com a aprendizagem é a mesma coisa, quando querem nos obrigar a aprender cortam o nosso barato. Obrigatório é ter que tomar remédio amargo. Obrigatório é ter que ir ao dentista tratar o canal. Obrigatório é ter que se alistar ao serviço militar. Obrigatório é ter que pagar pedágio. E quem disse que aprender necessariamente tem que ser obrigatório? É sim necessário, importante, indispensável - mas não obrigatório. O ensino oficial pode ser obrigatório mas não faz sentido algum afirmar que a aprendizagem também precisa ser obrigátória. Nós só aprendemos quando queremos aprender. A aprendizagem é livre! E quando nos sentimos verdadeiramente livres para aprender é que a aprendizagem efetivamente acontece e compreendemos a sua enorme importância.

Mas ser livre não é algo tão fácil quanto parece. Ser livre implica em ter que saber fazer escolhas. Se lhe concedem a tal liberdade você passa a ter a responsabilidade de decidir entre fazer ou não fazer, entre escolher isso ou aquilo, entre aprender ou não aprender. Então ter liberdade é também ter maior responsabilidade para fazer suas próprias escolhas, tomar as suas próprias decisões, escrever o seu próprio roteiro de aprendizagem. Para isso, o aprendiz deve ser ativo, protagonista e sujeito de sua própria aprendizagem. Deve ver em cada experiência vivenciada no dia-a-dia uma oportunidade para aprender sem esquecer que, muitas vezes, são as pequenas coisas que passam despercebidas as mais valiosas e que têm muito a nos ensinar. Em resumo, quem faz a aprendizagem acontecer é o aprendiz.

A internet

A internet é um espaço privilegiado e extremamente rico para a livre aprendizagem e qualquer pessoa que tem a possibilidade de acesso regular tem a sua disposição todo o seu potencial. Apenas ter acesso regular a internet é suficiente para poder aprender? É claro que não, o mero acesso não garante nada e aí entra a questão chave: a internet nos dá muita liberdade. E isso é ótimo, não é mesmo? Depende. É ótimo para quem quer aprender, para quem é sujeito e protagonista de sua própria aprendizagem e sabe o que quer. Agora, se você tem aversão à liberdade e gosta de tudo pronto, selecionado e empacotado, certamente não verá tanto potencial assim na internet.

Afirmo novamente que ter liberdade não é algo assim tão fácil quanto parece. E a internet nos dá muita liberdade. A internet está aí e diante dela nós temos que tomar uma simples mas importante decisão: aprender ou não aprender com ela. Se queremos aprender, temos antes que aprender a fazer escolhas, gerenciar o nosso tempo, separar o "joio do trigo" digital e, acima de tudo, aprender a aprender na internet. E para aprender na internet é preciso, antes de mais nada, querer.

A vastidão da internet é desnorteante mas ao mesmo tempo estimulante, ela é um ilimitado universo digital sem fronteiras, é ponte para pessoas, informações, serviços, estudos e entretenimento. Esqueça um pouco a chatice da obrigatoriedade do ensino oficial. Na internet impera a liberdade, aprender não é obrigatório. Estuda apenas quem quiser, o que quiser e como quiser. Depende apenas de você.

Termino com um belíssimo trecho do livro "Cem dias entre céu e mar" de Amyr Klink. Ele ficou conhecido por ter realizado a extraordinária façanha de ter atravessado em um barco de seis metros de comprimento, sozinho e durante cem dias, o Atlântico Sul.

"Dias inteiros de calmaria, noites de ardentia, dedos no leme e olhos no horizonte, descobri a alegria de transformar distâncias em tempo. Um tempo em que aprendi a entender as coisas do mar, a conversar com as grandes ondas e não discutir com o mau tempo. A transformar o medo em respeito, o respeito em confiança. Descobri como é bom chegar quando se tem paciência. E para se chegar, onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer."

Julho de 2009