Estilística: uma ciência maluquinha?
O estudo das línguas é algo fascinante e que requer, sem sombra de dúvidas, muita atenção e critério. Mas estudar uma língua não é somente “dissecá-la”, armazenar cada uma de suas “partes” num pote de vidro (não tão transparente), expor essas partes numa estante considerada de bom gosto e de boa fabricação para que se olhe e veja (se for possível) um exemplar fragmentado de uma espécie e tentar introduzir (forçadamente) nesses potes elementos perdidos pelo laboratório, grudados na mobília, presos aos pés de quem anda por lá ou que pairam pelo ar.
Quando falo em “critério”, refiro-me ao cuidado que se deve ter ao se estudar uma língua. Ela dever ser encarada como patrimônio coletivo e individual, matéria e obra-prima, como criação na qual se cria e não “apenas” encará-la como um conjunto de sons, formas, estruturas e significados observados isoladamente.
Ao pensar em estudar uma língua, imagine sentir, não examinar. Imagino viver e ver a vida que nela se faz. Por que, então, não estudá-la através da Estilística? Ela permite ler com os ouvidos, ouvir com os olhos e sentir com todo o corpo o que se cria, se copia ou se transforma num idioma. À luz de um estilo, uma língua se firma e se mostra mais (ou menos) plena, pois cabe (consciente ou inconsciente) ao estilo em que se escreve a magistral tarefa de tornar conhecido cada vez mais e melhor um idioma em todos os seus aspectos.