Boa Madrugada

Estava já de bobeira depois de tanto correr, me dei esse tempo pra matar saudade da conversa frouxa, sem compromisso.

Já não sei mais qual a hora de dormir, só sei que não importa a hora que eu deitar, é bem cedo que vou levantar.

Não sei mais qual o tempo que me sobra pra poetar, mas entre a cama e o micro há de sobrar um pedaço de papel e uma caneta bic, pra eu rabiscar o que me ferve pelas veias, o que borbulha na minha cabeça. Roubo alguns minutos da tela implacável que me chama sem cessar e dos tantos alienígenas que não se cansam de chegar por aqui, pra respirar um pouco da vida que anima meu corpo e sacode a minha existência. E quando não sobrar nem uma fresta, ou a mínima chance, escrevo no meu travesseiro, que diferença fará uma hora a menos de sono?

É bom esse silêncio, quando até os carros são raros na rua, não ouço mais burburinhos de gente, e os cães da vizinhança dormem. Bom para se pensar e fazer planos, rabiscar segredos na tela, num papel, pensar naqueles passeios quase programados que incluem cochichos ao pé do ouvido e coisinhas que deixam a cabeça toda atrapalhada.

Um friozinho chato começa a incomodar, e aquela blusa a mais ainda tem cheiro de confort, nos pés ainda consigo ficar sem meia, mas até quando? Apesar da hora entrar pela madrugada discretamente, o reloginho interno pisca no vermelho acusando que já está na hora de ir para os braços de Morpheu; olho daqui (estou na direção da porta do meu quarto) e vejo a cama estendida o abajour aceso, essa luzinha tênue e o cobertor felpudo com uma dobra me convida. Por mais que eu goste das minhas letras, o apelo da cama é mais forte, ficar sozinha aqui ou lá; tanto faz, melhor mesmo é ficar quentinha.

A vida deve me convidar para mais um dança, amanhã, quiçá eu encontre um par...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 16/06/2005
Código do texto: T24908
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