A História das Banda(Alheiras) da Minha Terra - Terceiro Acto



(Terceiro Acto)
Era uma manhã de primavera quando eu cheguei à Minha Aldeia e eu vinha de férias pagas pelo meu patrão lá de Luanda, com a intenção de visitar a familia lá na Aldeia, e depois seguir para a França, para também ali rever os familiares e amigos da minha infância, que andavam por lá a "escachouçar" com os "avecs" a ver se de lá traziam uns "francos" para melhorar de vida.
- Parei o carro - um “Subaru Amarelo” - que me fazia lembrar a história cinematográfica de um certo "Yellow Rolls Royce" do tempo da guerra - no Terreiro do Passo, (***) e me dirigi a um oficial vestido de camuflado, que estava a conversar com uns garotos ali na entrada da Rua do Mourel...

​Fiquei um pouco afastado enquanto ele, o Oficial,  fazia uma espécie de interrogatário aos garotos da Aldeia: 
- aatão ó páaaa!... kumé ke te chamas?
Françoáaaa!... e "bosmecê?... comân tá péle... TUÁ!?... HEIN?...
- ah,ah... tu parlas francês... hein!?
É claro!... bien çure!... eu nasci na França, carago!...
Mas agora eu ando à escola cá na terra, porque o mou pai só cá bem no imberno p'ra fazermos as alheiras...
- Olhe eu até sei como é que se fazem!, quer bêre!!!?...
Sim!... sim... conta-me cá!...
Alheira com grelos e batata cozida
Ingredientes:
1 pão caseiro de (trigo) com cerca de 1 kg
200 grs de carne de vaca de 2ª
Malagueta (piri-piri) q.b.
150 grs de presunto
1/2 galinha caseira gorda
alguns ossos (tenros) de porco
1 cabeça de alhos
1 colher de (sopa) de colorau
1 ramo de salsa
1 tripa seca para enchidos
200 grs de toucinho
sal q.b.
Coza as carnes e os ossos de porco, juntamente com os alhos descascados, sal, piri-piri e salsa, de modo a obter no final da cozedura um caldo gordo e forte. À medida que as carnes forem ficando cozidas, retire-as e desfie-as muito bem; esmague a parte gorda do toucinho e desfie a carne, podendo o courato ser picado com a faca.
Demolhe e lave muito bem a tripa seca. Corte o pão em fatias finas para um alguidar.
Quando as carnes estiverem todas cozidas, regue o pão com o caldo quente e tape-o com um pano durante alguns minutos; depois desfaça muito bem o pão com uma colher de pau, junte-lhe as carnes desfiadas e uma colher de (sopa) de colorau, mexendo tudo muito bem. Se estiver muito rijo, junte-lhe um pouco de caldo, mas pouco, pois deve obter uma espécie de açorda rija.
- Rectifique os temperos e encha as tripas enquanto o recheio está quente, pois quando a massa está fria custa a trabalhar.
Vá enchendo, atando e cortando as alheiras com 15cm de comprimento. Não se esqueça de as atar bem nas pontas. Depois de prontas, convém deixá-las, de preferência, no fumeiro ou, então, no frigorífico durante 1 ou 2 dias.
Acompanhe com grelos e batata cozida.
... O oficial anotou tudo num caderninho, subiu no Jeep!... e ordenou ao condutor: vamos embora!... aqui só tem velhos e crianças!
- Não há-de haver perigo algum para o M.F.A.
(leia-se: Movimento dos Fabricantes de Alheiras).
Estávamos na primavera do ano de 1975!... e, as gentes da Aldeia, continuavam a sua luta pela band (alheira) desgarrada que se alastrava por todo o "recto ângulo" luz & tano, depois que os "Capitães de Abril" resolveram aplicar o Código Dá VintchCinco de Abriu-looooooooo!... o gógò de infausta memória ao povo aldeão.
É deveras impressionante como os sucessivos governos do pós "golpe de mão" pela calada da noite!,... de 24 para 25 de Abril de 1974,... eles nos impingem constantemente, uma amnésia forjada em campanhas de lavagem ao cérebro dos mais desvalidos da sorte, e... por alegoria, acabamos todos alijados da mesa da ultima ceia, nos salões do ALVOR e ser... mos todos relegados para um plano além fronteiras, da dona democracia globalizada, onde o braço do governo chega com a mão aberta, e se recolhe com ela fechada!...
E bem fechada!!!,... que é para não perder os míseros votos numa democracia altamente controlada com excessos de liberdade vigiada e,... sobretudo, a mão fechada de quem governa com punhos de "vaca louca" de raça pura luz & tana.
Fazem-nos lavagens cerebrais e anti-cépticas (entenda-se a politica actual como sendo de um cépticismo extradordináriamente desenvolvido pela politica nacional, de origem no disse que disse importado do Leste) para esquecer as traições, os desvarios, as roub(alheiras) constitucionais , os desvios de conduta!!!... e de condutores, da politica feita às pressas, em cima do joelho de um qualquer oficial militar, que circulava pelas Aldeias do interior com a "prancheta" na mão, para anotar e avaliar, e... sensurar (forma do verbo popular de fazer o senso para ofuscar o censo das pessoas de bom senso que ainda restavam lá) tudo e todos!...
E que ainda por lá lutavam contra tal band(alheira) Luz & Tana, desfraldada a céu aberto!!!...

A Descolonização da Esfera Armi Lar:

Era uma manhã de outono, já próximo do São Martinho, quando subimos a Calçada da Ajuda, em direcção à Basilica para ali rezarmos uma última prece em nome do velho do restelo que existia em nós.
- Trazíamos no bolso a ficha de inscrição no I.A.R.N. de numero 061147/R.A. ou seja; Retornado de Angola, com validade por seis meses...
- - - E no coração, gravado o estigma, para todo o sempre!
Lá pelos idos de 13 de Dezembro, tirámos o azimute para as terras do Bar La Vento... e por lá ficámos por mais dois anos, em regime de liberdade total para se fazer o que se quisésse!... desde que, todos os dias à hora em que a barriga dava horas, pudéssemos ir pessoalmente ao restaurante do hotel pois que, o "vil metal" que haviámos trazido de nosso, já se fora há muitas luas!... e o câmbio estava pela relação fantástica de cada mil escudos de Angola, se vendiam por uns 22$50 (vinte e dois escudos e cinquenta centavos) quando alguém se interessava pela compra!... Enfim... ordens do Banco de Portugal daquela época.
Hoje,... quando lembramos disto, somos apelidados de "palermas"... de ingènuos, de reaccionários, de retornados com a barriga cheia (de miséria é o nosso caso pessoal...) e,... tantos, tantos outros nomes exóticos, que se foram instalando e já fazem parte da cultura geral;
- falar mal do tempo do antigamente, é uma loa ao destemor dos novos Portugueses, aqueles que vivem com uma "cachola" toda nova!... que saíram da linha de montagem sovieto-lusitana, da era pré glacial (do tempo do Ti Peres Troika e da Dona Glace Nostra) com filiais em todos os países do leste europeu... e principalmente no Norte de Africa, a culminar no pico do "atlas" magrebiano de excelentes tuaregues... poetas Alegres,... fortes desmistificadores da Ceutica desgraça herdada do Infante Santo.

A Retórica do "Sássá Mutema": (****)

... 'nhas xeñoras e mous xeñores!
Agora que os "ká mones" já perderam o Ti Bush... nós resistimos e manteremos a nossa total confiança na band(alh)eira e no espírito do Ti Bush Echas!...
- Como todos sabem,... e alguns poucos imaginam, nós somos os melhores do mundo!...
- Nós temos o maior contigente de emigrantes já visto na história da nossa band(alh)eira que se espalha desde o Rio Minho até aos Cafundós do Cu de Judas lá na Ilha da Madeira...
--- São mais de 51% (a grande maioria) a menos para nos atrapalharem nas nossas votações à distância, lá na emigrantada !...
Temos tecnologia de ponta-cabeça, exportada para todos os emigrantados (incluindo uma meia dúzia de habitantes da Ilha Córsega, onde nasceu o Grande Napoleão Bon Na Parte) e, onde nós somos Bons No Todo,... porque, já conseguimos instalar lá um boteco para atender os fregueses do costume... e também espalhar uma meia dúzia de unidades do "Magalhães" nesta nossa ultima viagem à volta dessa ilha!!!...em pleno Mar Mediterrânico!
- Mas... isto não é nada que se pareça com o Ó ló caustico bom bardeamento dos faixistas, que teimam em permanecer na terra deles, mesmo contra a vontade do senhorio que lhes arrendou a faixa de "tiro ao alvo" para iniciantes!!!...
- Nós reprovamos toda a história de um passado de Glórias, porque agora ela já não serve para nada!...
- Cá na "santa terrinha"... só a Santa Mãe Maria de Fátima, Maria de Lourdes, Santa Mãe de Aparecida, Nossa Senhora de Assunção, Nossa Senhora do Amparo... e até mesmo a Santa Maria da Feira da Ladra, não nos podem valer,... talvez porque, só ela nos pode ajudar a vender ao desbarato, toda esta parafernália que restou dos saldos da venda do império de além mar em àfrica!... e do Além Tejo!... porque, os "nuestros hermanos" também já andam com a corda no pescoço, e fazem romarias a São Tiago de Compostela, a ver se arranjam lá alguém para nos substituir os milagres do Cristo de Almada... ou do Cristiano... o Ronaldo!... que é, simplesmente o melhor do mundo!...Viva a band(alheira) de Caravelas, carago!...

Notas do Autor/Editor:
(**) Na chegada a Lisboa e... ao ver que ninguém estava lá para me receber, os olhos cheios de lágrimas, não era assim por causa das cebolas do “campo das cebolas”...
(***) O centro da Aldeia tem um Largo que se chama de Terreiro (por alegoria eu acrescento,... do Passo!) onde quase todo o mundo passa lá alguma vez ao dia. Eu só passo lá em pensamento!
(****) Personagem “abilolado” de novela televisiva “ O Salvador da Pátria”!
Nota de Roda Pè: esta história além de verdadeira, é verídica!, e com base em factos "reais"...em "doláres", e até em Rublos e "Rupias" do tempo da India!
-Silvino Potêncio - O "homem" de Caravelas - Mirandela!
Algumas partes deste ensaio já foram publicadas no Blog - http://osgambuzinos.blog.com (de momento indisponivel)
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 30/09/2010
Reeditado em 12/02/2017
Código do texto: T2529546
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