Malícias no trânsito paulista xXx O Código do samurai sobre rodas

O trânsito paulista é dono duma complexidade enorme. Que vai desde a anatomia das vias, o que vaira bastante de bairro pra bairro, até os tipos de pessoa e tipos de pilotagem que você encontra. De uma complexidade, enfim, que é capaz tanto de encantar quanto de apavorar completamente os motoristas novos e até veteranos.

Existem mil regras formais e informais a serem seguidas ou quebradas dentro desse caos, e os limites dos dois tipos muitas vezes se cruzam e se anulam, criando a ordem mista e caótica onde o que vale mais mesmo é a experiência e, em seguida, o bom senso. Na verdade é o bom senso que conta mesmo, sendo a experiência o instrumento facilitador de tudo.

Fluxo, cavalheirismo, criatividade, experiência, poder de julgamento, humor, noções de física, calma, atenção. Tudo isso e muito mais está em jogo, e cabe aqui a máxima: fazer para saber. xXx* Nunca pense /saber/ fazer algo com seu carro até realmente fazer, pois mesmo dentro de uma determinada "manobra" existem geralmente vários níveis de especialização. Quando um iniciado executa algo novo, e se isso salva sua pele momentaneamente, é comum o furor ou exultação que o tomam acabarem fazendo com que bata num carro, poste, ou atropele alguém logo em frente. Não é raro acontecer, enquanto o piloto ainda não tiver suficiente experiência pra entender que um percurso só acaba quando acaba.

Dirigir é algo "automático", mas só entre aspas mesmo. O trânsito evolui, a mentalidade das pessoas também. Enquanto você permitir-se estacionar num nível de habilidade, ficará por lá. Caso goste de dirigir você certamente evoluirá junto com essa massa caótica e pode até regredir em certos momentos (depois de tomar alguns sustos). Mas nunca engate a ré, pois é sempre um caminho longo até que possa realmente chamar a si mesmo de motorista.

Código do Piloto de Fuga. [excerto]

Sempre privilegie os pedestres. Calçada é calçada e rua é rua, e a barreira só deve ser quebrada 1. Num momento crítico, em caso de oportunidade patente, onde o motorista possa preferencialmente ver a sessão da calçada que pretende adentrar, levando em conta o tempo que demorará para enfiar o carro lá e não haja nenhum pedestre na iminência de colocar-se ali. Não se pode contar com o reflexo de um pedestre dada velocidade com que essas incursões geralmente se realizam.

Aprenda a medir os riscos. Não arrisque nada que possa ser fatal antes da hora fatal realmente se aproximar. Quando a hora fatal chegar, não titubeie.

/Fluidez/. Como em qualquer arte marcial, onde é importante saber fluir de acordo com as circunstâncias, oponente, etc., na nossa arte também é preciso entender o fluxo (timing). Desde a passagem de marchas, que é o básico e óbvio, ao fluxo do trânsito como um todo, sabendo lidar com a guerra/dança entre tempo e espaço que permeia as ultrapassagens e outras interferências, aproveitando todas as oportunidades paraacelerar e frenando só quando necessário. É necessário que se domine a arte da redução também.

/Coragem ou guts/. A coragem vem em grande parte da experiência. Não ache que ser temerário sempre adianta, pois só raramente adianta. Como all-ins no Early Stage dum jogo de pôker. Pode te trazer uma vantagem, mas é bem raro. Se estas palavras foram capazes de te desanimar você provavelmente não deveria tentar se tornar um piloto de fuga. Abandone, pois, esse "sonho louco".