Entre Dentes
Me exclua dessa tua lista caótica de ordem analfabética. Toda praga que der na minha plantação será exclusivamente minha, e nem que eu desenvolva o senso mais apurado vou ranger menos os dentes, minha cara tem moldes tantos, mas não os desfilo pra quem não os queira ver.
Guarda tuas palavras amorfas, teus desconfortos que eu sigo recolhendo meus pedaços, os que sempre largo espalhados nos meus poemas. A minha língua é sensitiva e reconhece o sabor das palavras, tanto quanto o meu prazer, nas muitas papilas, que estão todas ativas e alertas.
Nada do que pintei no céu da minha boca, tem um dono. Nessa capela de tantas imagens refletidas e lambidas que expresso em palavras e verbetes tudo é exclusivamente do meu próprio prazer, eis porque nunca provastes o sabor da minha saliva.
Tenho corpos etéreos e um de massa energética concentrada, sou volátil muito mais do que táctil. Certamente que tenho primícias reservadas para o acaso certo. Dou a primazia aos meu afetos, aos de mesmo teto, parceria de digitais, nunca pense merecer mais.
Mastigada as opções, cuspo o sabor que me faz sentir de todas as coisas a essência principal, quando engulo já não há mais palavras a dizer.
Deixa minha língua em paz, ela sabe onde estar e onde quer ficar.