Fodendo a Vida

Falamos, no outro texto, da dama de nome morte.

Já vida, cujo parentesco com a última é inferível porém não provável, é uma pessoa incrível, destas que nos deixam marcas sulcadas na memória. Toda leviana, permite que se faça o que quiser com ela. Basta chamá-la prum rolê e ela já topou. Existe, no entando, algo estranho com esta tal vida*. Possui uma estranha agenda (de cor vermelha e branca) que abre toda vez que eu falo ou faço coisas inesperadas – sempre meio de repente, como se ouvisse um "chamado de Gotham," ao qual precisa mesmo responder. Nunca me explicou pra quê direito. Sempre que o faz, saca de dentro da bolsa uma caneta cheia de texturas. Enquanto anota (na verdade a partir do momento em que você percebe que ela vai fazer a coisa) mantém no rosto uma expressão de profunda seriedade. Rabisca, enfim, umas coisas indecifráveis no papel branco e continua séria, por algum tempo. Dali a pouco diz "Vamos embora?". Eu digo que "sim, claro". Daí a gente transa sem parar, no flat da dona morte com vista para uma piscina azul com luzes no fundo.

(Esse texto não quer dizer nada.)

*Não que a morte não seja também. O problema é que a morte é cheia de tiques, enquanto a vida só tem esse aí, cujo propósito nunca me revelou...