Absolutização

Lendo Platão, nos deparamos com a suposta filosofia socrática, já que está sendo explicada não por Socrátes, embora este não tenha deixado nada escrito, mas enfim, frase célebre que pensamos a respeito da maiêutica socrática seria: "sei que nada sei".

Pensando a respeito e sobre as armadilhas das setenças analisadas por uma lógica filosófica, podemos pensar na contradição dessa sentença, já que por eu dizer que "sei", mesmo sobre "não saber", me coloco na condição de sabedor, anulando a negação que foi afirmada.

Poderia ser mais apropriado quem sabe dizer: "Talvez nada saiba", ainda sendo condicionado pela certeza do "talvez". Mas "Sei que nada sei" é uma afirmação socrática de "saber" e logo, detentor de uma verdade. A quem pertence o conhecimento da verdade? Eu diria que a todos, ou seja, a ninguém, logo todos temos verdades e por assim ser, excluímos a absolutização das mesmas, levando em consideração que respeitando uma, deve-se por consequência respeitar as subsequentes.

Assim me reporto a outras absolutizações, exemplo, Heráclito: "Tudo muda, exceto a mudança". Parece-me que se a mudança não muda, algo então permanece, logo nem tudo muda.

Indo além pode-se chegar a absolutização maior, deus, pois se esse é "tudo", como afirmam os teólogos, logo, também é nada, pois abrange inclusive a contradição de si mesmo. Pois o próprio filósofo britânico David Hume expõe que toda afirmativa possui com igual veracidade uma antítese. Embora a Teologia se afirme sobre a ilogicidade, não se atendo a regras filosóficas, mas servindo-se delas.

E não devemos também absolutizar filosofando, pois trocar uma "regra" por outra é manter a permanência, assim, oscilamos entre os conceitos, procurando ter uma permanência e ao mesmo tempo fazendo alterações, acabamos no final atendendo ambos os aspectos, por fim existe a mudança e a conservação, por mais que os "radicais" de ambos os lados não queiram admitir.

A absolutização é uma armadilha que a todo momento aparece naquilo que dizemos ou escrevemos, observe como eu acebei de escrever "a todo momento", como foi mencionado, habituamos a conviver com ela, mas importante é observá-la como efêmera, assim como nossas outras concepções e que não deixemos que chegue ao ponto de nos conduzir, quando nos tornamos intolerantes e "atropelamos" outras formas de pensar, diferenciadas das nossas, embora fazendo nossas escolhas, estaremos "atropelando" também concepções alheias.

Qual a solução? Existe solução? Se existe, creio que elas irão se revelando e nem mesmo daremos conta, pois quando se apresentarem, aparecerão tantas outras perguntas, que preocupados em respondê-las, já nem mesmo daremos conta da outra resposta, como ao formulá-la, não damos conta das outras que antecederam a ela.

Somos absolutizadores desabsolutizantes.