UM OLHAR PARA ALÉM DO PRÓPRIO NARIZ:

Neste início de terceiro milênio, com o advento da tecnologia em impressionante velocidade crescente, a dinâmica da vida em sociedade se acelerou de tal forma que quase não encontramos mais tempo para as relações humanas, aquelas que tranquilamente se travam entre a família, os amigos, e mesmo nas comunidades menores, como as do trabalho.

É como se a velocidade contaminasse a vida em sociedade e paradoxalmente não nos houvesse mais tempo para viver.

As pessoas têm muita pressa, correm atrás do que muitas vezes nem identificam como supérfluo, estão cansadas, irritadas, aceleradas além de suas próprias possibilidades humanas, perdem o foco para o principal, quase não ouvem o entorno, porém querem ser ouvidas...sempre.

Reclamam atenção do seu entorno mais íntimo, mas nem sempre intercambiam suas próprias atenções aos seus insistentemente solicitados.

Cobram muito de todos mas não admitem ser cobradas por ninguém.

Exigem o que nunca deram.

Talvez seja por isto que as clínicas de psicoterapia estejam tão lotadas, posto que é mais fácil que arranjemos um horário para sermos ouvidos, e paguemos por ele dentro do acelerado planejamento do dia, ainda que nos valhamos do quase sempre apertado orçamento pessoal para soluções um tanto impessoais.

Ando observando este fenômeno entre os micro agrupamentos sociais, e chego à conclusão de que hoje em dia estamos rodeados duma multidão de sozinhos, pessoas que se acomodam no seu micro mundo e nele sempre fazem valer sua vontade e suas opiniões, tornam-se agressivas ao entorno, intercambiam ideias consigo mesmas, pouco fazendo questão de contatos pessoais; a cultivarem o desconfortável hábito da autovalorização em demasia, ignorando a dinâmica do grupo, enaltecendo suas capacidades pessoais a quem não lhes solicita ,sem sequer se habilitarem para enxergarem o igual valor do outro.

Nunca se colocam dispostas a ouvir o que alguém tem a lhes relatar.

Pessoas extremamente egocêntricas e vaidosas, que julgam todo o seu entorno muito aquém delas mesmas, porém se esquecem que fazem parte do grupo que tanto repudiam.

Parece uma forma de moderna e urgente defesa pessoal.

Deveras, o atual mundo exige sempre mais do que podemos oferecer, em todos os campos de atuação da vida pessoal, isso nos estressa a todos; é muito mais fácil atirar do que ponderar, e as pessoas que não conseguem se equilibrar dentro de suas próprias possibilidades de "oferta e procura" do seu meio tornam-se demasiadamente agressivas e solitárias.

Aos olhos dos outros parecem "enormes" , se esforçam para assim parecerem, mas quase sempre se sentem "pequenas" demais para sua tão grande, porém limitada proposta de vida interior.

Insaciáveis "na alma", equivocadamente sempre querem mais da materialidade que não sacia.

Tempos de aceleração em tudo...

O fato de se ser feliz e realizado não deveria pressupor tanta quantificação e tanta aceleração.

Acredito que a felicidade neste agitado mundo de terceiro milênio pede que coloquemos URGENTEMENTE o pé no breque, a tempo de desaceleradamente nos enxergarmos uns aos outros, bem lá no íntimo de cada um de nós.

Destarte talvez ainda nos haja tempo de nos encontrar para a única premissa humana que nos vale a saga da vida: a incrível experiência de se sentir feliz, ainda que alguém possa acreditar que felicidade seja uma lendária procura.