A SOGRA DA VEZ!

(Esta obra é uma observação da REALIDADE.Qualquer semelhança com a FICÇÃO, terá sido mera "imprudência"...)

Curiosíssima esta figura singular e milenar denominada “SOGRA”.

Quando digo milenar, reporto-me à época da criação do universo, invejando Adão e Eva, que foram os únicos felizardos não contemplados com o primeiro e grave obstáculo do matrimônio...a sogra.Depois deles, não acredito que exista alguém que não tenha corrido o risco, real ou virtual, de tê-la ao menos como “ancestral”.

Ainda hoje, muitas culturas praticam o pagamento de “dotes” matrimoniais aos futuros maridos de suas “moçoilas”.Fosse eu integrante dessas comunidades, lançaria a idéia de algo que contemplasse ambos os cônjuges, e após um estudo pormenorizado do “perfil” das futuras sogras,proporia um seguro proporcional ao risco de sinistro.E, diga-se de passagem, quando se trata de “sogras”, o sinistro é inevitável, oscilando desde pequenos prejuízos até danos irreparáveis!

E, se você é um “daqueles” que neste exato momento conclui que é alguém de sorte,que com você as coisas são diferentes;e que graças a Deus você é o filho ou a filha que ela não teve...mera ilusão meu caro !

O seu dia está mais próximo do que você possa imaginar!

Mas voltando à minha idéia inicial,proporia eu um seguro tipo “F.G.T.S” -Fundo de Garantia por Tempo de Sogra.

Como todos sabemos, a instituição casamento (e este é um longo assunto para outra oportunidade),tende a uma vida útil não muito longa.Portanto, assegure-se que seu “fundo de garantia por tempo de sogra”, não tenha franquia.Assim sendo, ao menor sinal de fracasso matrimonial,este fundo seria resgatado com a devida correção monetária, para salvaguardar suas perdas e danos, e se, na pior das hipóteses, o casamento mesmo no fim, não acabe nunca, assegure-se que seu fundo esteja bem aplicado.Seria um consolo, ao menos...

Para as mulheres, sugeriria que este seguro viesse com algumas cláusulas de garantias especiais, como por exemplo: contra o roubo do “seu” marido, contra a difamação da sua comida e da sua roupa, contra a humilhação da sua secretária domiciliar, contra a critica a educação dos netos, contra a inveja do carro novo que “você” comprou, mas que ela nunca acredita, contra o título de “dondoca” que ela lhe outorgará, apesar de sua extensa jornada de trabalho, enfim, contra o risco de um dia, na calada da noite, ela lhe assinar o divórcio!

Nesta altura, vocês me perguntariam:Como traçar o perfil da sogra?

Tentarei, didaticamente, descrever alguns tipos básicos, mas certamente meu êxito não será total.Sempre surge um perfil novo, inusitado. Então, vamos lá!

I- A GUERREIRA.

É o tipo mais comum e honesto.É aquele que veste a camisa de sogra desde o primeiro momento.É mágica.Transforma o bandido em mocinho.Ela é clara e objetiva.Enfrenta e nocauteia o “inimigo” no primeiro “round”.Nunca oferece a mínima chance de defesa.Parte para a ofensiva,permanecendo fiel ao seu papel em qualquer situação.

Este tipo permite ao menos que a vítima desenvolva “anticorpos”, para sobreviver sem grandes sustos.

Tipo monótono...pouco criativo.Acaba por perder terreno com o tempo.

II- A INDIFERENTE.

Seu maior atributo é a dissimulação.Fingi-se de morta.É muda, surda e cega.Nunca se mete no assunto.Nada lhe diz respeito, e sente-se muito perfeita e orgulhosa por cumprir esta sua obrigação.Mas incrivelmente...sabe de tudo!Aos mínimos detalhes.

Este, é um tipo PERIGOSÍSSIMO! Joga nos dois times e engana até o juiz!Faz uma verdadeira revolução, e entre mortos e feridos...ninguém se salva.

Cuidado!Fiquem espertos.

III- A ALIADA.

Este é o tipo preferido por todos.É aquela que lhe faz realizar a fantasia, sempre fugaz,de que você tem a melhor sogra do mundo.Faz com que você acredite que desta vez foi diferente, ao menos com você!Ela lhe dá a sensação de ter tirado a “sorte grande” numa loteria acumulada.Mas nunca se empolgue muito.Esta sensação é passageira, e quanto menos você espera, ela lhe dará o “ar de sua desgraça”,e se fará mais sogra do que nunca!

A decepção é grande...mas você logo supera.Acredite!

IV-A VÍTIMA.

Este tipo é de facílima identificação.É patognomônico:Os pródomos se manifestam precocemente, logo na cerimônia do casamento.

Observe.Todos felizes e ela com “ares de velório”. Chora o tempo todo, borra a maquiagem.Nos cumprimentos, abraça sua “perda” por meia hora.Prepare-se:vai adoecer nos seus melhores momentos, naqueles mais inconvenientes.

Os diagnósticos são bem conhecidos: reumatismo agudo, labirintite,palpitação, ameaça de infarto,depressão então... mas não se assuste quando perceber, que apesar de quase morrer todos os dias, ela está cada vez mais viva!

A variedade depressiva deste tipo é terrível.Não participa de nenhuma festividade.Faz questão de que todos esqueçam do aniversário dela, mas ameaça suicídio se não receber um “parabéns”...mesmo que seja o seu.

Tenta, e sempre consegue, fazer com que você se sinta um verdadeiro e irrecuperável homicida.Aconselho fazer o jogo dela.É menos desgastante para todos.

V-A FALECIDA.

É o tipo ideal. Dispensa o tal f.g.t.s.

Em respeito à sua memória, e em agradecimento à sua grande contribuição ao sossego,dispensarei maiores comentários.

Enfim, devo salientar que os tipos podem vir combinados, ou até “involuirem” de um para outro.O estágio de falecida é sempre a única possibilidade de evolução.

Portanto, cabe a você diagnosticá-las, e escolher a sua “SOGRA DA VEZ”, aquela que combina melhor com o seu jeito de ser.

E, quando seu casamento acabar, nunca se esqueça de elegantemente agradecê-la por sua participação como “protagonista” no desenlace.Jamais corra o risco de adjetivá-la como “figurante”, pois seria muito arriscado para o seu futuro.

Ao seu suspiro de alívio...ao fugaz consolo de ao menos não ter mais sogra...ao acreditar que se livrou dela definitivamente... nunca a subestime, porque “ex-sogra”, meus amigos, é sempre para sempre! Deus nos proteja!

E no desenlace, saque correndo seu F.G.T.S “vitalício”, e desfrute de férias merecidas, num lugar paradisíaco, bem distante dela .

Ao menos, uma indenização para toda vida.Ainda bem!Você nunca mais se arriscará a fazer um outro mesmo...ninguém merece...nem mesmo elas...

SP, junho de 2000