O PODER ABSOLUTO: Cap. 8 - A Culpa do Poder

A CULPA DO PODER

Na análise dos conflitos e valores de nossos personagens, podemos visualizar as razões que levam ‘juízos’ superficiais a considerarem incompatíveis, a ética e o poder.

Em princípio, toda relação social é um exercício de dominação, e sendo assim, dominadores e dominados se alternam constantemente. A dissociação entre o poder e a ética, normalmente decorre da observação através da experiência prática, de que muitos indivíduos quando investidos de poder (imaterial) ou no poder (material), deixam-se ingênuamente invadir por sentimentos desenfreados de ambição desmedida, que nada mais é do que a própria ganância. Outros declinam e tornam-se escravos da vaidade, quase sempre que instigados por outros indivíduos, que via de regra também anseiam, buscam e exercem o poder.

É quase irônica a identificação do sentimento de ambição e vaidade acrescido ao “ocaso” da inveja e da ganância.

Outros muitos, tornam-se dissimulados e arrogantes, quase sempre estimulados por bajuladores e manipuladores, e neste caso, tratam o poder como algo fim e ao mesmo tempo vetor desses mesmos sentimentos, pois que é inerente ao individuo social. Afinal, todos querem dominar, nem que para isso se submetam conscientemente à dominação. Eis uma contradição, submetem-se ao domínio visando a dominação.

Nessa situação de ruptura, os indivíduos se corrompem e paulatinamente transgridem os limites da ética e dos bons costumes, pois são dominados pelas paixões e têm o intelecto submerso em maquinações e conchavos da mais perversa espécie. Muitos desses indivíduos ao corromperem-se e paulatinamente transgredirem a ética e os bons costumes tornando-se reféns de suas iniqüidades, se vêem na realidade mais escravos do que livres, e conseqüentemente submetidos ao poder de outrem. Parece viverem em mentira.

Nessa “colorida colcha de retalhos” de sentimentos exteriores e interiores dessa específica instituição familiar, observamos as múltiplas faces da ética e o poder, atuando sob os influxos de vetores subjacentes como: perdas e sofrimentos; paciência e tolerância, ambição e vaidade, preconceitos e crenças, superstições e dogmas, inveja e dissimulação, etc... O que parece, é que os indivíduos não têm um poder e uma moral auto-suficiente por si próprios, pois que são esses vetores que dominam suas ações. Esses vetores, portanto, exercem poder sobre os indivíduos, pois que não têm controle e domínio sobre eles. Esses sentimentos são dominadores dos individuo. Podemos dizer que ao indivíduo que não se descuida da ética, dificilmente lhe é dado atingir ou exercer as benesses do Poder? Ou ainda que: Raramente os indivíduos que desfrutam do Poder, ou estão no Poder, ou detêm Poder, lhes é dado pelo menos em algum momento, as dádivas da ética, da moral, ou dos bons costumes?

Ora, sentimentos desmedidos de ambição, vaidade, a própria arrogância e dissimulação que advém do exercício do poder, sugerem a extrapolação da moral; E, por conseguinte da própria razão. Observe que mesmo os indivíduos que agem involuntariamente sob a sedução do poder em detrimento da moral, se vêem expostos frágilmente a uma espécie de impotência. Jogam qualquer moralidade às “favas” em troca das benesses do poder, mas, interiormente se recriminam e procuram manter certos atos como um segredo inconfessável. Qual o caminho seguro para que os indivíduos tenham poder para atingir seus objetivos sem violentarem-se? Sem terem o sentimento de culpa a espreitar suas ações? Observe que mesmo os indivíduos que agem inconscientemente quanto à culpa, invariávelmente acabam por perderem-se num “labirinto de angústias” de suas próprias ações de dominação. É como que se para cada ação, os indivíduos carregassem uma balança, onde a moral e o poder assumem ”dois pesos e duas medidas”, de acordo com os fins a serem atingidos.

A ética, como ciência da moral, e enquanto ciência com limites reguladores da convivência social, uma vez que estes mesmos limites sejam violados pela faculdade do poder, nos parece resultar numa ruptura que o julgamento popular atribui a uma dissociação da ética com o poder. Parece que a ética torna-se sitiada pelo poder, e o poder também é limitado pela ética, e até mesmo quando esses limites sejam tangenciados, advém a culpa no indivíduo social, e a culpa parece que assume neste exercício reflexivo, o contraponto do poder. O poder, dentro de uma escala particular de cada indivíduo, parece ser uma necessidade. Mas, e a moral? Aqui parece ser um contrário, um elemento limitante e acusador em contraponto ao poder. E os indivíduos vivem assim, permanentemente entre o poder e a ética. É o que parece.

Que poder é esse que traz consigo a culpa? Como funciona a ‘felicidade’ diante do sentimento de culpa? Será essa, a culpa do poder?