O PODER ABSOLUTO: Cap. 9 - Animais políticos em transe

CAPITULO 9

ANIMAIS POLÍTICOS EM TRANSE

Podemos concluir que o Poder é relativo? E quanto à Etica? Aplica-se também aí, as “leis” da relatividade?

Em princípio, nos parece que sim, principalmente na perspectiva do indivíduo social. Para compreendermos melhor essas perguntas, urge comentar nessa exposição, além das sutis relações do nosso específico núcleo familiar e de subsistência (trabalho), a influência dos grupos, ou instituições políticas, instituições religiosas, filantrópicas, culturais, enfim, todos os agentes associativos que possuam códigos de ética internos específicos.

Essas instituições exercem um poder pragmático através de suas associações, pois que no âmbito de suas idéias influenciam sobremaneira a moral e o espírito do homem e por extensão o poder de organização da sociedade. E porque trazemos as instituições? Ora, essas instituições possuem um verdadeiro caráter “misterioso” sobre os indivíduos, pois que deixam de ser indivíduos para se tornarem agentes coletivos de poder, por assim dizer.

O agir coletivo, são meios pelos quais os indivíduos interagem. Muitas vezes, transitam entre instituições com códigos morais sutilmente antagônicos, transformando-se em “atores de um palco” ou, “agentes de uma ética” pré-estabelecida que visa veladamente a busca do poder, da aceitação e da liderança. Não são poucos os relatos de líderes, políticos, intelectuais, revolucionários e até artistas, que “surgem” ao se submeterem a códigos de ética internos, nas mais diversas associações. Senão, observe os políticos que são ateus e fazem alianças com religiões em nome da ‘Política’, intelectuais e revolucionários de vanguarda que fazem contratos com conservadores, músicos de esquerda que se “vendem” na mídia de direita; e por aí vão os indivíduos, como que se “vendendo” pelos mais diversos fins. Tudo por poder algo ou alguma coisa que não apenas a sobrevivência, e ainda se justificando com a célebre frase: “O Homem é um animal Político”.

Esses indivíduos são como travestis de “esclarecidos”, verdadeiros animais políticos em transe, apropriando-se e usurpando a moral dessas instituições com o objetivo claro de suas necessidades de poder, mas que na verdade não têm poder para superar os flexíveis valores morais que estão “gravados” em suas almas, em sua gênese, em seu ego.

Nem mesmo com as substanciais conquistas da ciência, que tem acrescentado enorme esclarecimento à humanidade, os indivíduos continuam imersos na obscuridade. Parece existir um vazio e uma crise oculta no espaço entre o conhecimento científico e o esclarecimento. As sociedades parecem que fragmentadas, diante de significados e contradições múltiplas. A ciência e a técnica com toda a sua supremacia não param de surpreender e revolucionar, qual seja um exemplo, a manipulação genética que altera a natureza, patrimônio comum da humanidade. Mas, essa ciência que reina suprema é ao mesmo tempo progressista e precária, pois parece que um poder tendencioso ocupa por completo seus destinos, desviando a tecnologia para fins exclusivamente de valor econômico, em detrimento das oportunidades de esclarecimento dos indivíduos.

Os indivíduos vêem a ciência transformada em fator fundamental na disputa de mercados e na acumulação de capital, e as tecnologias são os vetores que assumem a propriedade soberana de considerações de natureza ética, social e até das políticas públicas.

Tais considerações geram como conseqüência, uma desastrosa concentração de renda e uma famigerada exclusão social, que ameaçam perigosamente a sociedade por contaminação.

Esta moldura que cerca esses pseudo-esclarecidos por poder “algo” ou “alguma coisa”, principalmente através de suas associações, profissões, empregos, ou empreendimentos, nos remete a outro questionamento: Seria este poder construído à luz de suas próprias conjurações pessoais? Ou teria este poder substancial a forma da ética como ciência da moral?

Parte significativa de cientistas pseudo-esclarecidos, se enfiam em laboratórios de pesquisa, dedicando-se ao desenvolvimento de tecnologias para interesses econômicos de corporações, que, se de um lado respondem a demandas do mercado, de outro se obrigam a gerar retorno aos investidores como critério central na definição de seus objetivos. Se a conseqüência desse desenvolvimento for, por exemplo, um maciço aumento do desemprego por conta de uma radical automação, este ônus passa a ser transferido para a sociedade, esteja ela preparada ou não para lidar com o problema. Parece que essa tem sido a regra observada na prática.

As instituições religiosas se enfraquecem e os indivíduos sentem-se livres para flexibilizar suas crenças. O mundo da performance cultua o otimismo e o prazer. Por outro lado, cresce o sentimento de impotência diante dos impasses, da instabilidade, da precariedade das conquistas e cresce também a impotência diante da injustiça social. Parece que o encantamento e a frustração se alternam continuamente. Nunca na história da humanidade, houve maior tirania do que essa que é a tecnologia da informação, pois que é domínio de corações e mentes através de uma total submissão às imagens e ao espetáculo construído sob uma técnica que visa prospectar emoção em detrimento da razão. Parece que essa dominação do indivíduo social pela tecnologia da informação, é causa de uma degradação do ser para o ter. Em seguida, como num passe de mágica, há um descolamento generalizado do ter para o parecer ter. Tudo é um exercício contínuo de ‘parecer ter’ como forma de um poder instantâneo e virtual.

Vejam que há como que um descalabro macabro através de programas de auditório. São “caricaturas” que substituem tribunais e propiciam a um indivíduo boquiaberto diante de uma tela de cristal liquido, verdadeiros julgamentos públicos de conciliação ou não; e ainda garantem, como que numa loteria de ilusões, a esperança do resgate da exclusão através da visualização do prêmio de outros indivíduos, ou ainda qual seja, o sonho de um fugaz minuto de fama. Radicalmente, as novas tecnologias do pensamento geram produtos de consumo inovadores.

As associações em redes constituem a nova morfologia da sociedade na era da informação, controlando um vasto estoque de experiência e poder. Essas associações, parece que retiram a capacidade de indignação dos indivíduos, pois esses se tornam passivos diante de abusos elementares. Vejam os programas humorísticos, por exemplo, que via de regra transformam casos que deveriam servir de revolta em motivo de piada e riso. Isso traz embutido, uma indução ao alienamento psicológico, aonde os indivíduos são privados de sua capacidade crítica, pois o riso, a piada, são atenuantes da capacidade de indignação. E são muitas e diferentes tipos de redes atuando, que somadas à vanguarda da tecnologia da informação, garantem a vinculação entre a produção da ciência e os espaços de consumo. Todo poder funciona como que em grandes redes de fluxos financeiros; uma verdadeira teia de relações políticas e institucionais que governam despóticamente a vida e o destino dos indivíduos, desde o poderoso tráfico de drogas que comanda significativa parcela de economias e sociedades no mundo inteiro, a redes globais da mídia, que definem a essência da expressão cultural manipulando a opinião pública de acordo com os interesses da pauta.

Diante desses grupos, surge uma inquietante pergunta. Que juízo fazer à moral, entre os indivíduos? Sendo porque tendo bons costumes à luz social, e também, porque não dizer, invariavelmente, em estar ocupando posições de privilegiada liderança na vida pregressa e comunitária? Portanto no pleno exercício do “poder”, comumente como popularmente aceito, conforme descrito em nossa introdução, pois que têm, a capacidade precípua de força, robustez, suportamento, possibilidades e meios para destacarem-se na sociedade e materialização da ética nas suas relações, a despeito da obscuridade que a vida social normalmente impõe, visto que, como vimos antes, estão face a face, dissociação e incongruência, entre a ética e o poder.

O dito popular de que ‘todo poder corrompe’ só pode ser compreendido enquanto poder que não tem limites, entendendo-se ‘todo poder’ como ‘Poder Total’, qual seja, o verdadeiro poder, pois que a esse poder nada impede, nada o limita, nem mesmo as paixões, as emoções ou os sentimentos, que são manipulados por hábeis bajuladores.

Neste poder real e concreto, não há culpa e muito menos há qualquer ambição ou vaidade dominante, daí não requerer dissimulação, pois que não precisa, pois que ele é poder, simplesmente porque nada o impede. Ele é o poder em si, absoluto, isento e indomesticável.

É nesse Universo paralelo que Samoel transita soberano. Radicalmente determinado a proteger o esclarecimento daqueles que ama. É como se fosse uma missão!