Ecos malditos...

Acenda todas as luzes para eu me manter ligada em tudo ao meu redor, aumente a música para eu cantar bem alto e parar de remoer pensamentos, abra as duas folhas da janela, quero que entre todo o ar da noite; quero sentir na pele todo o arrepio desse frio, até os ossos.

Não gosto das cores desbotadas dessas paredes, preciso de calor e não dessas cores frias. Vou providenciar cores vivas e texturas, preciso de aconchego no abraço dos dias.

Não preciso mais de relógios, recolha-os todos, não vejo porque marcar mais o tempo, não o posso reter entre os meus olhos e não o consigo apertar nas minhas mãos, droga acho que perdi a razão.

Preciso urgente de uma escada e pincéis; cansei desse teto vazio, tenho a noite toda para rabiscar meu inferno e meu céu nessa capela, prepara minhas sinfonias prediletas, assim a inspiração vem mais depressa, e não esqueça que para acompanhar Bethovem preciso de doses cavalares de uma bebida excitante...não, hoje não quero ouvir a nona sinfonia, hoje não quero sentir o pulsar forte das minhas veias...não, hoje eu não aguentaria o meu coração batendo alto arrebentando o meu peito de agonia...

Sinto muito, mas peço-te que saia, e me deixe pintar as minhas dores sozinha, cada uma delas tem um dia e uma hora tão minha, que não saberia dividir com mais ninguém...

Aproveita e antes de sair, olha bem para os meus olhos, talvez quando voltar eles tenham perdido essa profundidade; onde estão os lenços dessa casa? Sei que precisarei deles todos. Não me pergunte nada, por favor, não teria palavras para explicar, sei que preciso lavar a alma, rasgar minhas esperanças vãs, vestir um novo tempo...é preciso me acostumar como esse espaço que tá sobrando aqui dentro, que apesar de não estar vazio está cheio de ecos...

Vá...e bata a porta, basta-me a companhia dos meus fantasmas, e esse grito abafado na garganta...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 24/06/2005
Código do texto: T27547
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