Dos dialógos

E eu falei tão inocentemente despretensiosa sobre qualquer continuação da conversa:

- Há corações cheios de poças d'água salgada.

Ele estranhou, franziu a testa de imediato, mostrando a ruguinha ainda tão sutil oriunda das indagações sobre os estranhamentos presenciados:

- Mas como? A que se refere?

E eu:

- Bom, só quem chora é o coração, a razão poderia espremer-se toda e não sairia uma só lágrima. E então, ficam lá, os buracos dos golpes que más amores o dão, e o volume das lágrimas que ocupam esses espaços. É assim, um golpe, um choro, uma poça d'água, se é que me entende...

E ele compreendeu, tão bem quanto eu própria, à minha metafóra e disse:

- Mas creio eu, que há amores que aquecem o suficiente para secar essas inundações pequenas e regradas que as lágrimas fizeram no peito, e são estranhamente hábeis em reconstruir superfícies de terras mal acentuadas pelos golpes.

- Também creio que sim.

- Se me permites, agora, uma metáfora?

- Pois não.

- É tão melhor que desmorone todo um castelo de areia, se em troca apostares nem que seja num tijolo de construção.

- Eu entendi, deveras é mais proveitosa uma pontinha de realidade do que uma imensidade de ilusão.

- Isso mesmo.

E por aí foram desenroladas, as metáforas para uma vida inteira...

Camila Trideli
Enviado por Camila Trideli em 07/02/2011
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