AMOR EM CONTA-GOTAS

Começa como um arrepio, um desejo meio arredio,

escorre pelas frestas da alma feito cão assustado,

se esconde nas trincheiras do peito como pensamento do avesso.

Depois se traveste de intenção, de jeito, de gosto,

como se viesse de gaiato nas flâmulas cadentes do medo,

como se fosse um rasgo encardido da nossa mais bendita intenção.

Depois que tudo se finda, se respinga e se imanta,

descobre que por baixo dos panos muita sede ainda teria que se parir,

descobre que nas palavras não ditas sempre esteve musgado e

surrado em leves folhas de alecrim,

descobre que dentro da carne ainda repousa os cordéis lindos dos tempos que fugiram em desembestada folia.

Então, como se não fosse um engasgo, ou um guinada nas mágoas e destraves,

o vento se acerca de si mesmo e vem nos embalar até o sono deixar de resistir,

então morrer será uma desculpa, um atalho, um frangalho qualquer,

que a gente pouco a pouco vai cerzindo bem baixinho pra que nem Deus consiga ouvir,

então respiraremos fundo para marcarmos o gol que sempre foi nosso e que deixamos escapulir, e como,

como se tudo ficasse estancado nos degraus dos nossos olhos,

que a gente tanto teimou em nunca ver.

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