Orgulho de ser brasileiro! Carnaval, Mulher Pelada e Teletubies Na Guitarra

Mais uma vez me vejo diante desse rótulo estúpido dado ao brasileiro em terras além mar. E pior: criado pela ignorância aparentemente ingênua, porem sem vergonha e cheia de presunção do próprio brasileiro. Obeservo esta manhã minha namorada navegando em seu Facebook até que esta deparou-se com uma coisa do tipo "Buteco Brasileiro". Até aí tudo bem. Até porque, frustantemente para a maioria das pessoas que vêm à Dublin na Irlanda com o objetivo de aprender o idioma inglês, a comunidade brasileira é imensa e age em sua grande maioria como arroz-de-ontem, arroz-de-festa e e outros arrozes deitados sobre a carne seca. Mas quando reparo no banner do evento, já sem o menor espanto, está lá estampada aquela sem-gracisse de sempre: feijoada e samba. Assim parece que o brasil não tem nada interessante exceto música manjada e carne de porco de segunda. Ah, e claro, mulher gostosa para dar e vender. Se me perguntam de onde venho e digo que sou #br, a primeira coisa que escuto é Pelé, Carnaval, Mulher gostosa ou samba. Afinal é só isso que temos no Brasil, não?

O Caralho que é!

Mas vamos a uma coisa de cada vez. Não me queixo do gringo em geral (paradoxal isso, afinal, gringo sou eu na terra deles). A educação ordinária que recebemos em toda e qualquer instituição de ensino padrão não nos dá a mínima porcentagem de compreensão da cultura estrangeira exceto aquela dos países economicamente dominantes. Rádios, Tv, jornais... Tudo na mesma. Então chegamos aqui, lindos morenos e maravilhosos e tudo o que esperam de nós é?... Carnaval e mulatas de peitos de fora! E o que é que fazemos? Abrimos nossas pernas e damos a eles o que eles querem porque essa cultura de que o brasileiro não é nada mais do que o quanto ele dança vem de dentro para fora. De dentro para fora. Mais uma vez porque só aprendemos por repetição: DE DENTRO DO BRASIL PARA FORA! Nós alimentamos a mídia exterior com essa fantasia de que Brasil é só Samba, Praia e Oba-oba! E digo isso por experiência própria.

Desde de quando cheguei a Dublin toco música na rua. Então venho eu com meu violãozinho de cordas de nylon Made In Brazil, compro um amplificador recarregável e o que faço? Vou tocar a porra da boÇa-nova na rua. E o que me acontece? Claro que fiz um trocado, do qual não pude reclamar. Aí me convidaram uma vez pra fazer um som num café, uma coisa barzinho da Vila Madalena, tipo sucessos populares da rádio Nova Brasil. E nessa época se alguem entoasse o "toca raul" eu iria me dar au luxo de, petulantemente, arrebitar o meu nariz mestiço e esnobar o pedido. No fim o dono da espelunca não gostou porque o que ele esperava era festa e carnaval e gente dançando de plumas e paetês. Ah, sem falar nos fliers que fizeram que tinham um exuberante cristo redentor de braços arreganhados como quem diria: "bem vindos, isso é o Brasil, mas não vão muito longe porque não há muito mais o que se ver NEM ouvir". Porra, São Paulo é um dos maiores, senão o maior centro cultural do Brasil e certamente um dos maiores do mundo! Mas o que é que está errado? Ah! Não temos praia. Mas como diria Caio Abreu, um dos nossos ex-ministros do Turismo, "Praia bonita tem em qualquer lugar do mundo."

Mas já vivo aqui há quase dois anos e, com os amigos que fiz e com tudo que aprendi, finalmente conheci o tal do rock'n'roll. A boÇa-nova? Com Ç porque é boçal? Essa que nem nova é mais? Mandei categoricamente para a puta que a pariu. Não há nada mais americanizado do que boÇa-nova, uma tentativa de jazz meloso e ensosso. E olha que sempre amei de paixão vinícius de moraes y cia. Se me perguntar do chico buraque, já ouvi milhões de músicas, conheco várias letras de cor e ainda sei tocar algumas. Mas me deu que resolvi me afirmar como brasileiro de verdade. Se me dizem futebol, digo música. Se me dizem, samba, digo não. Se me dizem mulher gostosa, digo quer, puteiro? Coma as putas do seu país. Isso que você acha que é meu país, meu querido, isso é folclore, não passa de uma mentira inventada pela ditadura militar brasileira pra atrair o turismo e o investimento internacional. E uma mentira tão bem contada que até o brasileiro acreditou.

Esses dias também encontro um podcast online anunciando a terra prometida: "brazilian music without cliché". E adivinha o que eles tocam? Samba, Samba, Samba, Samba. Ah claro, é fora de cliché porque as 150 mais tocadas da tão orgulhosamente aclamada "música brasileira de qualidade" foram deletadas da playlist pra deixar tocar as outras, só pode ser. E onde está o lenine? Onde estão os Mutantes? Onde está o Zeca Baleiro? Onde está a vergonha na cara dessa turma conservadorista, retrógrada e antiquada? Vergonha na cara de dizer que essa música descontextualizada é a música autentica do brasil? Autêntico de verdade foram os Mamonas Assassinas. Autêntico é o Lobão. Autêntico é o pancadão lá do morro que esfrega de uma vez por todas a realidade na cara de todos os intelectualóides de plantão.

Porque é que nos entregamos a essa nostalgia de um tempo que não nos pertence? Tradição? A tradição da nossa cultura, dos nossos dias, de hoje, é a modernidade. Arte não é feita para ninar criança, não nasceu pra ser easy-going, arte tem que instigar, desafiar, fazer pensar, contorcer o cérebro nos tirar dessa preguiça cerebral, dessa punheta mental que é o dia a dia. E em vez disso, o que nos dão? Os teletubies tocando guitarra eletrica. Vá tomar no cú! Ningém precisa disso. Já estou cansado de música inofensiva e burra! Esta indústria da mídia de massa controlando o que vemos e ouvimos? Fodam-se vocês!

Acordem pelo amor de deus! Brasileiros! Bradai com o peito cheio de ar e não de catarro: eu não aceito porcaria! Chega de mesmice! Tomemos vergonha na cara!

Música Livre Já!

Gabriel Caetano
Enviado por Gabriel Caetano em 15/02/2011
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